06 fevereiro 2006

A crise em Portugal


Há bastante tempo que ando afastada do Incursões e portanto não sei se já referiram este assunto. Se for o caso, desculpem a repetição.

Notícias recentes dão conta dos lucros da banca privada em Portugal. Alguns destacados exemplos:

Em 2005 o Millennium bcp aumentou os lucros em 24,2%, para 753,5 milhões de euros, o valor mais elevado de sempre.”
O lucro do BPI sobe 30,2 por cento para 251 milhões de euros em 2005
Lucro do BES sobe 85 por cento para 280,5 milhões de euros em 2005

Acresce a esta informação o facto de Portugal ser um dos países da União Europeia com a maior diferença entre os que mais ganham e os que menores rendimentos têm.

Não sou contra aqueles lucros, bem pelo contrário. O que me aborrece é o cenário que os cerca. Melhor dizendo: ficaria encantada com esses números se o nível económico e financeiro das empresas e da população em geral lhe correspondesse. Como não é o caso, a única imagem que me vem à cabeça é a dos eucaliptos, que seca tudo em volta.

É minha convicção que a crise das empresas, em particular das pequenas e médias empresas, está fortemente ligada aos lucros chorudos da banca. Em Portugal o sector financeiro esmaga o sector produtivo e não se vê forma de inverter esta tendência. Ano após ano os lucros da banca crescem. Ano após ano as PME.s definham e muitas vão à falência.

É sabido que a banca portuguesa tem uma política de baixo risco, pelo que apoia sobretudo o sector imobiliário em detrimento do sector produtivo e, dentro deste, onde a margem de risco é mais baixa. Os relatórios do Banco de Portugal referem essa tendência cada vez mais vincada. Essa política pode parecer evidente, mas não é. Quando se fala tanto em responsabilidade social das empresas, vemos o sector bancário virado para si mesmo. Nem a nível do pagamento de impostos há uma contribuição social justa. Será pois interessante verificar os impostos que vão corresponder àqueles lucros.
Aguardemos.

6 comentários:

C.M. disse...

Em Portugal, quem está primeiro são os negócios financeiros e não as pessoas.

Sinal disso é o Programa de Estabilidade e Crescimento, revelador de verdadeiras medidas neoliberais que envergonhariam um conservador como Marcello Caetano.

É a desregulação do mercado e das relações laborais que aí está presente, pela mão daqueles que se dizem socialistas… (Ai António Guterres, meu querido amigo humanista e católico! Que saudade! Que pena as forças que te envolveram! Devias ter dado, a tempo, uns bons murros da mesa e sacudido essa “tralha”!!!).

O Programa de Estabilidade e Crescimento traz consigo, a coberto da consolidação das contas públicas, a destruição da Administração Pública, a desarticulação e destruição das funções do Estado que aqui tenho defendido, levando-as a um nível crítico, condenando o Estado, nos dias que correm, a ser um instrumento dos interesses económicos e servil do capital financeiro – veja-se a Banca e os seus lucros fabulosos, no País mais desigual, mais a-solidário da Europa!

Como vivemos numa sociedade onde impera o deus-mercado, o hedonismo, o egoísmo, a agressão sob todas as suas formas, não podemos esperar do outro qualquer espécie de solidariedade. Deveria ser o Estado a garantir essa mesma solidariedade. Mas não: os homens que sucederam ao Estado Novo andam afanosamente a trabalhar para que todos nós fiquemos entregues à bondade da “mão invisível” de Adam Smith!

Escusavam de, há trinta e um anos, se terem dado a tantos trabalhos!

Vejam-se os Orçamentos de Estado, que sempre contemplam benefícios fiscais às actividades especulativas e ao capital financeiro!

Dizem-nos que não há dinheiro para aumentar condignamente os reformados, não há dinheiro para manter viva a Segurança Social, não há dinheiro para a Saúde, o Ensino está de rastos (curioso que bem me lembro de um ensino de qualidade, de rigor, de exigência, naquele tempo em que existiam Liceus, esses espaços cheios de dignidade…agora temos umas escolas secundárias umas C+S…não sei bem de quê…).

Mas…HÉLAS!!! Não falta dinheiro para benefícios fiscais, para o perdão de dívidas, para as "negociatas" com o capital financeiro!!!

O Programa de Estabilidade e Crescimento, e para focar o aspecto fiscal que “O meu olhar” referiu, não tenta sequer corrigir as injustiças fiscais, não vai tributar em maior percentagem os lucros fabulosos aqui neste postal apresentados. Refere-se ao combate à fraude e à evasão fiscais, mas tendo em vista o “Zé da esquina”. As grandes fortunas não são tocadas. Em nome da fuga de capitais, em nome da competitividade…

Julgo saber que a Banca é tributada, em sede de IRC, a 7% (creio bem que é esta percentagem – como não sou da área fiscal e esta muda de mês a mês…) e o resto da actividade é tributada a 20%...Ora explique quem puder e souber, se isto é uma demonstração de solidariedade nacional, se acaso uma parte substancial da riqueza não poderia ser bem redistribuída a fim de todos viverem com mais dignidade…

Não sei como certos Banqueiros, que se dizem Católicos, conseguem compatibilizar a Doutrina Social da Igreja com a ganância, com o lucro obsceno – e não venham escudar-se com os accionistas…

Longe vão os tempos dos Empresários que criavam riqueza, muitos postos de trabalho, construíam bairros sociais, moradias para os seus trabalhadores, creches, postos de saúde! Serviços de apoio e assistência para os seus operários: cantinas, bibliotecas, escolas, até cinemas!

O “pessoal” dos nossos dias não sabe nada disto…

Hoje, não existem mais “Alfredos da Silva”, o maior génio industrial que Portugal contemporâneo conheceu!

Tempos em que existiam Empresas dignas desse nome, que criavam riqueza e não especulação financeira como nos nossos dias. Empresas como a Companhia União Fabril, Lisnave, Companhia Colonial Navegação, Companhia Nacional Navegação, Companhia Transportes Marítimos…um mundo destruído a troco de nada…

Mas esses foram denominados de “fascistas” pelo regime ora vigente.

Agora faziam falta, pois temos de nos “contentar” com os “Ludgeros Marques” da nossa praça…


Agora, digam-me o que são estes Empresários da actualidade? Que na maior parte dos casos nem o salário mínimo pagam aos trabalhadores!

Tenho vergonha de viver numa sociedade tão desigual!

Conservador disse...

Só falta acrescentar que quem governou a malta foi a social-democracia lusa ou o socialismo luso. É só ver...

Conservador disse...

País que se preze não tem centrões, ou partidos centrões. Na Inglaterra ou na nossa vizinha Espanha quem governa é muito diferente do anterior. Aqui, tudo no centro, o centro de nada...

M.C.R. disse...

A banca, pela voz de um dosseus próceres, ganhou uma soma justa. Tal soma, sempre segundo a citada luminária, parecendo excessiva não o é: acontece apenas que a banca se rege por padrões europeus que no país não têm curso. Por isso tudo vai mal menos eles que já são civilizadíssimos!
Perceberam?
A criatura poderia ter dito que o capitalismo existe para gerar lucros mas pensou melhor e achou que a palavra capitalismo é de ressaibo marxista...

C.M. disse...

Caro MCR, então "ná viamos de preceber?"...

C.M. disse...

Mais: deve daqueles muito "pios"...assim estilo farisaico...