14 fevereiro 2006

O namoro em 1815, no Porto

Em 1815 podia-se namorar honestamente de uma janela para a outra, na Rua das Flores, sem que uma patrulha insolente parasse debaixo para testemunhar a vida íntima dos que lhe pagam. Podia cochichar delícias a donzela recatada da trapadeira para a rua, sem que o amador extático ao som maviosíssimo daquela voz, receasse o retire-se! Brutal do janizaro. Podia, finalmente, segurar-se o gancho de uma escada de corda no terceiro andar, subir impávidamente, conversar duas horas sobre vários assuntos honestos, e descer, sem o receio de encontrar cortada a retaguarda por um selvagem armado à nossa custa, que nos conduz ao corpo da guarda a digerir a substância da deliciosa entrevista.
Bem-aventurados, pois, os que namoravam em 1815

Camilo Castelo Branco

9 comentários:

Primo de Amarante disse...

Depois deste post, que espero ser retemperante e, com isso, demonstrar o meu estado de espírito, faço a minha despedida.

Há uma teoria (a gestalt) que defende o carácter estrutural imediato da percepção e do conhecimento. Isto é, percebemos afirmações e considerações integradas num determinado modo de ver (um todo) o mundo e a vida. A isso se chama paradigma. Sentimo-nos bem partilhando ideias no interior do mesmo paradigma. Isso não quer dizer que não estejamos abertos à diferença. Mas, sempre que a diferença de paradigmas põe em causa valores fundamentais, como o valor da dignidade da pessoa humana, temos dificuldade em dialogar sem conflitos. Naturalmente, é possível a conversão a um paradigma que é diferente do nosso, mas isso é muito difícil. Só alguns são destinados a esse sentido de missão. Geralmente, paradigmas diferentes levam a conflitos que atingem valores que fazem parte da nossa maneira de ver o mundo. E é nesta circunstância que nos sentimos mal.
O Incursões foi uma instância de reparação. Essa foi a intenção do criador do blog, o meu amigo Lemos Costa.
Lemos Costa deixou de pertencer aos “contributors”. Não me explicou a razão, mas eu sinto-me ligado ao blog por sua causa. Já dei ao blog o que, modestamente, poderia dar. Daqui para a frente, considerando o meu feitio e o meu modo de ver a vida e o mundo, adivinho que iria entrar em conflito. Por medida cautelar despeço-me de todos, dos amigos por quem (mesmo sem nos conhecermos) tenho muita consideração e dos outros.
Reflecti muito e cheguei à seguinte conclusão: risquem, por favor o compadre Esteves do blog. O meu nome nos “contributors” deixou, para mim, de ter sentido. E isto não tem nada a ver com ninguém. Só faz parte de uma forma genética de estar na vida.
Desculpem todos, alguma coisinha!

o sibilo da serpente disse...

Compadre:
Creio que já todos, por aqui, nos sentimos um bocadinho desanimados, mal entendidos, injustiçados. Alguns de nós até já estiveram fora e depois voltaram, como foi o meu caso. Houve momentos, sobretudo em férias, em que isto era animado por um ou dois.
Houve momentos de maiores picardias do que as que agora existem, como se recordará.
Mas acho que nunca aqui ninguém quis ofender ninguém, mesmo quando os pontos de vistas são apresentados com alguma veemência.
Eu, pelo menos, nunca me senti ofendido, ainda que às vezes ficasse um bocadinho sentido, não porque discordam de mim, mas pela forma como o fazem.
Por isso, meu caro, acho que não há razões para deixar o blog. Ou, então, retempere um bocadinho por fora e volte...
Abraço

C.M. disse...

Após o almoço e num pequeno “devaneio” dou uma espreitadela ao “Incursões” e entro em choque: então o Compadre esteves, o meu grande companheiro aqui do Blog vai-se embora? Mas quem lhe fêz mal, que eu o CR e o MCR vamos atrás dele?!!!

Mais a sério, ó Compadre, até fico preocupado: então eu acabei de entrar e você sai! Até me leva a pensar coisas...

Diga-me alguma coisa que eu até me sinto mal...

Subscrevo o que diz o CR: picardias, o que interessam? Eu sou o primeiro a dizer “mea culpa”!! Seja a quem for!

Então o ambiente está mau? Não creio! Ou então sou eu que estou a ver mal...

Compadre: NÃO FAÇA ISSO, OK??!!!

Ficamos à espera de o ver...isto sem você fica mais triste...aliás, as coisas ficam sempre mais tristes quando alguém parte, sai de um projecto, enfim...

Reconsidere, está bem? Até eu em casa já digo para a minha mulher: olha o Compadre esteves isto aquilo...o MCR isto aquilo, o carteiro isto aquilo...então vá lá...

Ou vamos todos ficar aqui a chorar?.....

Um abraço e...veja lá....

o sibilo da serpente disse...

E por falar nisso: por onde andam o MCR e o JCP?

C.M. disse...

Ó Compadre já sabe os meus nºs.de telefone.

O tlm. não o tenho esta semana. Perdi-o, e só me dão uma 2ª via do cartão lá para 5ª feira...entretanto, se quiser telefonar para o fixo de casa, esteja à vontade...

Vou-lhe enviar, por mail, o n.º do meu gabinete; se amanhã quiser ligar, faça favor.

Um abraço grande do
dlmendes.

Kamikaze (L.P.) disse...

Compadre, sera que o seu (pico de?) mal estar tem a ver com este post - http://incursoes.blogspot.com/2006/02/meias-verdades.html - e seus cometarios? Desculpe a pergunta directa, mas como nao consigo falar consigo e gostava de entender este seu anunciado mal estar, espero que releve a minha ousadia.

o sibilo da serpente disse...

Ó, caramba, não me tinha ocorrido fazer a ligação entre o meu inofensivo post e a saída do compadre. Mas se assim for, então saio eu e fica o compadre. Afinal eu até aterrei aqui pela mão dele...
E se tal coisa se confirmar, peço desde já desculpa!

O meu olhar disse...

Compadre não faça isso. Sem querer depreciar ninguém, eu inclusive, quero-lhe dizer que isto sem as suas apreciações, comentários e reflexões, não tem graça nenhuma.
Percebo bem o que diz, eu também senti isso várias vezes e, ultimamente, esse mal estar adensou-se. Fui ver o post que a Kamikaze referiu e que me tinha escapado já que só cá venho de fugida ultimamente. O que posso dizer é que se foi por isso, é mal empregue. Há coisas que o melhor é mesmo deixar cair, porque não há nada a fazer.
Com isto não estou a depreciar ninguém, quero dizer tão-somente que são mundos paralelos, não vale a pena forçar.

Por fim, quero reforçar o conselho dado pelo Carteiro. Distancie-se, retempere e regresse que faz muita falta!

Silvia Chueire disse...

Compadre,

Pedirei à nossa moda, com jeito, suavemente :
- vá não...