10 março 2006

Consensus omnium ?...



Ao espelho da História

Espelho 1
:
aquele que pertence, por direito próprio, a Manoel de Oliveira.

O novo filme do Manoel de Oliveira, “Espelho Mágico”, adaptação do romance de Agustina Bessa-Luís, “A Alma dos Ricos”, conta-nos a história de uma fidalga nortenha que acredita que Nossa Senhora era uma mulher rica e que acalenta o desejo de uma aparição.

Esta Bessa Luís tem cá uma imaginação...

Diz-nos o realizador, em entrevista ao DN desta quinta-feira, que recusa a mentalidade laicista, porquanto esta ameaça a liberdade: Afirma ele, peremptório, que "Agora tiram o véu às meninas que vão ao colégio com véu, tiram os Cristos de algumas escolas, é proibido ter qualquer religião mas não é proibido ser ateu ou laico. Onde é que está a liberdade, onde é que está a tolerância? Não há liberdade nenhuma, não há tolerância nenhuma."

Concordo absolutamente com ele. Pese embora o facto de saber que há por aí agnósticos que respeitam a diferença... mas também, convenhamos, são uma minoria.

Manoel de Oliveira refere-se a temas como o “universo", as "leis da natureza" e a "condição humana". Estes são os temas de todos os tempos e, por isso, também os seus temas.

Mais diz este, na sua entrevista, que a “angústia de saber como e porque é que isto tudo foi criado é que é lucidez”.

Temos de convir que, ao noventa e tantos anos, Manoel de Oliveira está extraordinariamente lúcido...

Espelho 2: curioso como todas estas coisas se conjugam. Ainda ontem, também no DN, Luciano Amaral, professor universitário, reflectia, em artigo debruçado sobre os 90 anos da entrada directa de Portugal na I Guerra Mundial, sobre o pretexto arranjado pelo Governo de Afonso Costa para lançar o País num conflito.

Um governo que foi “desde o início capturado por uma clique que entrou em conflito com o País” e com um “ notável catálogo de arbitrariedades e violência” traduzida em “prisões e as deportações (tão vastas como durante o salazarismo), a proibição de partidos, a fraude eleitoral ou as limitações à liberdade de expressão, com o terror da violência informal, às mãos dos famosos Batalhões de Voluntários ou da Formiga Branca, mais próprio dos regimes totalitários”.

Eu diria antes que esse governo não foi “capturado” por uma “clique”. Esse mesmo governo era a própria “clique”!

E discorre acerca das razões que deram origem à “longa noite fascista”. Mas, interroga-se, e bem o autor, “esta não é compreensível sem primeiro compreender a prévia "noite republicana".

Facto esse que, hoje em dia, é sistematicamente escamoteado por aqueles que têm “má memória”...

1 comentário:

jcp (José Carlos Pereira) disse...

É de facto fantástico poder chegar aos 97 anos com a energia e as qualidades de Manoel de Oliveira. Goste-se mais ou menos do seu cinema, e as suas obras não são todas de igual valor, devemos reconhecer o seu magnífico testemunho.