Nesta noite de chuva resolvi passear pela Margem Esquerda do nosso companheiro Primo de Amarante, mais conhecido por Compadre Esteves. Eis que dou de caras com o poema de Alberto Caeiro, que deu origem ao meu nome de estimação aqui no Incursões. Não consegui deixar de reproduzi-lo. É um belo poema, para acompanhar os dois belos poemas deixados aqui pelo MCR e Rui do Carmo. Obrigada por nos trazerem poesia. E é bem precisa, para atenuar pesadelos como o absurdo Iraque e seus Associados e Patrocinadores.
O Meu Olhar
O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de, vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo...
Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender ...
O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...
Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar ...
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência não pensar...
Alberto Caeiro
21 março 2006
Dia da Poesia
Marcadores: O meu olhar
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2 comentários:
é um belíssimo poema! Obrigada poe ele.
Abraços,
Silvia
Viva Pessoa!
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