21 março 2006

Dia da Poesia

Nesta noite de chuva resolvi passear pela Margem Esquerda do nosso companheiro Primo de Amarante, mais conhecido por Compadre Esteves. Eis que dou de caras com o poema de Alberto Caeiro, que deu origem ao meu nome de estimação aqui no Incursões. Não consegui deixar de reproduzi-lo. É um belo poema, para acompanhar os dois belos poemas deixados aqui pelo MCR e Rui do Carmo. Obrigada por nos trazerem poesia. E é bem precisa, para atenuar pesadelos como o absurdo Iraque e seus Associados e Patrocinadores.


O Meu Olhar

O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de, vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo...

Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender ...

O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...

Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...

Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar ...
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência não pensar...


Alberto Caeiro

2 comentários:

Silvia Chueire disse...

é um belíssimo poema! Obrigada poe ele.


Abraços,
Silvia

M.C.R. disse...

Viva Pessoa!