17 março 2006

Hoc opus, hic labor est...

Segundo o Diário Notícias de hoje, foi já entregue ao Primeiro-Ministro a versão final do PRACE - Programa de Reestruturação da Administração Central do Estado. Até ao final do mês o Governo deverá tomar uma decisão.

Este programa, elaborado por uma comissão coordenada pelo Prof. João Bilhim, tem como objectivo aliviar o Estado de muitos organismos inúteis ou duplicados, pelo que envolverá a extinção ou a fusão de muitos deles.

João Bilhim é professor catedrático no Instituto de Ciências Sociais e Políticas da Universidade Técnica de Lisboa e tem um invejável currículo nas áreas das ciências sociais, gestão e administração pública e planeamento.

À primeira vista, o PRACE parece uma iniciativa séria, e altamente louvável, uma vez que só quem não quer é que não vê o estado calamitoso a que chegou a nossa administração pública, resultado de décadas de clientelismo e de laxismo. Todas as iniciativas que possam contribuir para o “emagrecimento” desta administração tentacular e gastadora são, certamente, bem vindas, e isto nada tem a ver com o cliché do neo-liberalismo. Tem só a ver com um mínimo de boa gestão dos recursos públicos.

O DN chama a atenção para uma das propostas que parece mais difícil de levar à prática, que é a substituição dos actuais 18 governos civis por apenas 5 entidades equivalentes, uma em cada NUT de nível II.

Concordo em absoluto.

Os governos civis não servem, hoje, praticamente para mais nada que não seja a emissão de passaportes, actividade que, convenhamos, poderia ser realizada em qualquer loja do cidadão com maior eficiência e comodidade e, certamente, a muito menor custo.

É preciso ter em conta, contudo, que os senhores governadores civis são, salvo raras e honrosas excepções, a nata dos aparelhos partidários, escolhidos apenas em função da sua militância e fidelidade aos líderes partidários. Não são escolhidos em função de quaisquer capacidades ou competências que, de resto, dadas as suas atribuições, também não são minimamente necessárias ou relevantes.

O DN tem razão. Vai ser muito, mas mesmo muito, difícil extinguir estes 18 lugares (mais os chefes de gabinete, adjuntos e assessores, todos oriundos da mesma base de recrutamento) e criar apenas 5 representantes do governo, em sua substituição.

Será numa medida como esta que se verá a têmpera do Primeiro-Ministro.

Quando anda meio mundo, de há um ano para cá, a louvar a coragem do Engº Sócrates, este será um teste decisivo.

Se o PM conseguir extinguir os 18 governos civis, tiro-lhe o chapéu. Mas, sinceramente, não acredito.

A ver vamos…

2 comentários:

C.M. disse...

Acabo de ver/ler este postal do nosso Nicodemus. Muito a propósito. Já hoje de manhã me tinha debruçado sobre este assunto, com alguns colegas.

Gostaria de tecer algumas considerações mas, em virtude de não me ser possível neste momento (o trabalho...) guardarei para mais tarde as mesmas.

Apenas direi, para já, que concordo com a extinção de Institutos Púlbicos. Aliás, eles nunca deveriam ter sido criados; uma Direcção Geral de um Ministério faz o mesmo por um preço "simbólico"...É assim uma boa medida (o drama é que neles trabalha muito honesto cidadão...). Mas quem os edificou estava a abrir, a longo prazo, uma caixa de Pândora...

Quanto ao resto, terei muito gosto em dizer alguma coisa.

Bom tema, este!

M.C.R. disse...

Caro Nicodemos
Vai uma aposta?
Não é por essa inutilidade rutilante que é o governador civil que "eles" começarão? E era tão simples...
O DLM fala dos institutos públicos. foram criados para qu~e? Talvez para pagar melhor os seus dirigentes? Para multiplicar lugares de direcção?
O exemplo da Segurança social é altamente elucidativo.