ce n'est qu'un debut
O caríssimo colega de blog Forte abriu uma caixa de Pandora. De Pandora, digo e repito. É que correm vocês o risco de serem obrigados a ler umas pieguices motivadas pela menção a 68. É que a este vosso criado não se lhe pode falar em 68 sem que se lhe abram várias cataratas. Vamos lá a ver se a pieguice fica no tinteiro e vos dou um retrato de um estudante em 1968. Português, de Coimbra, politicão (associativo dizia-se), já crescidinho e a frequentar ainda (erros seus, má fortuna amores ardentes) o 4º ano de Direito.
Como viveu um 68 longínquo e tão perto ao mesmo tempo? O que pensou daquilo? Como é que foi influenciado, se o foi?
O que é que sabia do mundo, que é que lia (que em Portugal, viver, o que se chama viver, era coisa difícil. A policia espreitava, a família aconselhava, os amigos avisavam, a nossa cabecinha estava cheia de interditos, de “educação”, de medos nem sempre ultrapassáveis e de solidão, muita)? Do mundo sabíamos o que líamos, o que ouvíamos às escondidas, o que se cantava em alguns programas de rádio, o que se via nos filmes submetidos à censura e cortados e o que, intuíamos quando por bambúrrio, se ia até à Europa (que começava logo a seguir aos Pirenéus).
Era pouco, dirão. Era. Mas hoje que a informação nos entra a jorros, que saberão os nossos filhos? Terão acaso vontade de saber? Terão ao menos consciência do que representa esse mundo que lhes entra em casa via internet, televisão, viagens?
Não sei responder a isto e provavelmente não gostaria da resposta. Se há.
Portanto vamos a esse testemunho suscitado aqui por um texto de Forte e já pedido, em alta grita por Delfim. Mas atenção: isto é apenas o que aconteceu a mcr, o que ele guardou, o que ele leu e viu e sentiu. Não serve de testemunho geracional. Provavelmente o Manel Simas ou o Anto tem diferente memória deste ano e seguramente diferente experiência.
Vamos pois a mcr: tem 26 anos, está no quarto ano ( e chumbará, claro!), milita num grupo de extrema esquerda e na sua organização de massas. Milita é apenas uma expressão vaga: o seu controleiro desapareceu da circulação e ele portanto está em roda livre desde há quase dois anos. Com uns amigos discute coisas, fabrica uns papeis mal distribuídos, e tenta influir nos organismos académicos em que se integra (Associação Académica e CITAC, um grupo de teatro que está no auge da fama pela audácia das encenações de Vítor Garcia, um argentino genial que transforma o chumbo em ouro e faz daquela trupe de estudantes um caso único no teatro universitário português: em fins de 1967 mostrarão em Paris quanto valem e a imprensa francesa, com Le Monde à frente não poupará elogios aos espectáculos apresentados por esta gente. E mesmo em Portugal, não falta quem os gabe, coisa extraordinária, numa terra de ciumeiras Em 1968 será no Festival Internacional de Teatro, na Bélgica que atingirão o cume da fama.). Serão justamente estas saídas que proporcionarão a muitos dos elementos do CITAC o contacto e o conhecimento com outras realidades, outros estudantes para já não falar nos laços que se tecem com a emigração política portuguesa no estrangeiro.
Curiosamente é neste exacto momento (nestes meses que medeiam entre fins de 67 e meados de 68) que este mcr começará a pôr em causa as convicções “m-l” que até aí defendera ardorosamente. A crise académica de 69 e o golpe de Praga afastá-lo-ão vagarosamente dos ínvios caminhos do socialismo real de versão chinesa. E de todos os “socialismos reais, verdadeiros e puros”.
Todavia, em 68, temos este mcr a matraquear numa Underwood de 5ª mão, notas de leitura e criticas literárias para a “Vértice”, farto de Direito ou pelo menos daquele que se ensina na Faculdade, indeciso quanto à sua vida futura e aberto a qualquer coisa que lhe mude a triste realidade em que ele e amigos se encontram.
De todo o lado há notícia de manifestações estudantis. Na America a guerra do Vietnam mobiliza as universidades ( e mcr lê nesse ano os textos políticos de Jerry Rubin, um dos líderes da revolta estudantil americana. Na Alemanha, as movimentações estudantis de Berlim; em Itália o movimento studentesco põe o pais em polvorosa. Surgem aí de resto as primeiras respostas marxistas ao anquilosamento do Partido Comunista Italiano de Berlinguer. Este mcr traduzirá em 69 as duzentas teses “Per il comunismo” de Rossana Rossanda e Luigi Pintor. No México a crise tem o horrível desfecho do massacre da Plaza de las Tres Culturas que curiosamente começa agora a ser investigado! No Brasil, em Espanha, em Inglaterra os estudantes movimentam-se. E em Portugal?
Em Portugal, bem obrigado. Em Coimbra, a Associação Académica está sujeita a uma comissão administrativa nomeada pelo governo. Em Lisboa as associações e pró-associações atravessam dias maus não só porque a repressão é forte mas sobretudo porque os diferentes grupos políticos de esquerda com presença na universidade se mostram incapazes de estabelecer um programa comum mínimo. No Porto, como de costume, não acontece nada. Ou muito pouco. O movimento estudantil não tem raízes, estruturas, tradição, as faculdades desconhecem-se e boa parte da actividade política de juventude corre por fora. Claro que tudo isto mudará em breve e, melhor, mudará radicalmente em Coimbra com o fim da comissão administrativa na Académica e o triunfal regresso da esquerda académica ao poder. Em 1969, Coimbra conhecerá a maior, mais profunda e mais participada greve académica de sempre em Portugal. Essa greve de resto arrastará a queda de um reitor, de um ministro da educação e, o que é mais espantoso, o regresso aos bancos da faculdade de todos os estudantes castigados e incorporados à força em Mafra. Será também, em toda a história do movimento estudantil português, a greve que mais estudantes presos contou, além de ter sido a mais prolongada crise académica em Portugal.
As leitoras escassas que até aqui chegaram ficam a saber que esta foi a grande greve das raparigas estudantes, o momento único e fundamental da sua entrada maciça na luta, da expressão da sua absoluta coragem. As raparigas de Coimbra que fizeram a greve de 1969 (e foram imensas) mudaram tudo ou pelo menos, para muitas delas, mudou tudo. Isto que aqui digo, disse-o nessa altura quando tinha um auditório que me honrou com a sua atenção e o seu voto e disse-o mais tarde em depoimentos e entrevistas que por aí correram.
Mas voltemos a 68. Como é que o sentíamos cá? Convenhamos que boa parte das reclamações estudantis francesas pareciam-nos irreais. Então nós aqui sem direito a um pio e eles a falar de mudar a vida? Então nós, condenados, a um post-neorealismo adequado (há que dizê-lo) à nossa circunstância e aquela malta galhofeira a descobrir surrealistamente que debaixo da calçada havia praias? Nós que só queríamos um pouco de liberdade e aquela malta a troçar duma liberdade que tinha duzentos anos ou quase?
Quem estas lê, hoje, desconhece as mais das vezes o que era o Portugal bisonho de 68. O Portugal que encara com alguma benévola expectativa o aparecimento de Marcello Caetano. É verdade que a habitual minoria, garantia que nada tinha mudado (mas tinha, confesso-o hoje) e que tudo continuaria na mesma. Continuou mas não na mesma. O edifício mostrou as fissuras e de facto houve um tempo de respiro que permitiu por exemplo um congresso da oposição republicana, vigiado, rigorosamente vigiado, mas apesar de tudo realizado. A guerra continuou mas a discussão sobre ela subiu de tom. Sobretudo os portugueses à falta de melhor voto, começaram a votar com os pés: a emigração política aumentou exponencialmente sob o acicate da guerra colonial. E lá nas áfricas combatentes, a dúvida sobre as operações militares alastrou de tal forma que praticamente já ninguém augurava uma vitória militar. A derrota não vem de 74, vem destes anos que se iniciaram com o consulado de Caetano.
E os poucos que apesar de tudo estavam suspensos de Paris e do Maio francês? Ah esses sabiam tudo. Recordo-me de passar noites com um par de amigos, ouvido colado a um rádio magnífico que apanhava as emissoras francesas, sobretudo a RTL e hora a hora, minuto a minuto relatava as barricadas, a polícia, a ocupação da Sorbonne, e a maré enchente da greve geral. Com o meu amigo “Tati” (António Noronha) desenhávamos num enorme mapa das ruas de Paris, as barricadas, o fluxo e refluxo das manifestações. A Rue Soufflot era-nos mais conhecida que a Av. da Liberdade em Lisboa. Ansiosamente mandávamos vir livros que iam saindo ( e Deus sabe quantos saíram nessa altura...) de França, jurávamos lá ir. E fomos, claro. Logo que houve dinheiro, evidentemente, mas aí já só apanhamos as canas que os foguetes já tinham dado tudo quanto tinham a dar. Numa pesquisa feita sumariamente descobri trinta livros sobre o Maio francês nas minhas estantes. Deve haver mais, claro mas estes, em boa medida foram comprados entre 68 e 69. Ou mais tarde, quando se celebrou o vigésimo aniversário da revolta.
Este palimpsesto vai longo. Fica para a próxima, se próxima houver, uma breve descrição das leituras, das descobertas desta ano de todos os desejos que para mim começou em Maio de 68 mas só acabou em finais de 69. Acho que nessa altura, os meus camaradas coimbrões e eu, pudemos dizer aliviados, como o Cohn Bendit: la révolution nous l’avons tant aimé. Et nous l'avons faite, nom de Dieu!
vai esta para os meus dois camaradas de 69 Anto e Manuel Simas
Como viveu um 68 longínquo e tão perto ao mesmo tempo? O que pensou daquilo? Como é que foi influenciado, se o foi?
O que é que sabia do mundo, que é que lia (que em Portugal, viver, o que se chama viver, era coisa difícil. A policia espreitava, a família aconselhava, os amigos avisavam, a nossa cabecinha estava cheia de interditos, de “educação”, de medos nem sempre ultrapassáveis e de solidão, muita)? Do mundo sabíamos o que líamos, o que ouvíamos às escondidas, o que se cantava em alguns programas de rádio, o que se via nos filmes submetidos à censura e cortados e o que, intuíamos quando por bambúrrio, se ia até à Europa (que começava logo a seguir aos Pirenéus).
Era pouco, dirão. Era. Mas hoje que a informação nos entra a jorros, que saberão os nossos filhos? Terão acaso vontade de saber? Terão ao menos consciência do que representa esse mundo que lhes entra em casa via internet, televisão, viagens?
Não sei responder a isto e provavelmente não gostaria da resposta. Se há.
Portanto vamos a esse testemunho suscitado aqui por um texto de Forte e já pedido, em alta grita por Delfim. Mas atenção: isto é apenas o que aconteceu a mcr, o que ele guardou, o que ele leu e viu e sentiu. Não serve de testemunho geracional. Provavelmente o Manel Simas ou o Anto tem diferente memória deste ano e seguramente diferente experiência.
Vamos pois a mcr: tem 26 anos, está no quarto ano ( e chumbará, claro!), milita num grupo de extrema esquerda e na sua organização de massas. Milita é apenas uma expressão vaga: o seu controleiro desapareceu da circulação e ele portanto está em roda livre desde há quase dois anos. Com uns amigos discute coisas, fabrica uns papeis mal distribuídos, e tenta influir nos organismos académicos em que se integra (Associação Académica e CITAC, um grupo de teatro que está no auge da fama pela audácia das encenações de Vítor Garcia, um argentino genial que transforma o chumbo em ouro e faz daquela trupe de estudantes um caso único no teatro universitário português: em fins de 1967 mostrarão em Paris quanto valem e a imprensa francesa, com Le Monde à frente não poupará elogios aos espectáculos apresentados por esta gente. E mesmo em Portugal, não falta quem os gabe, coisa extraordinária, numa terra de ciumeiras Em 1968 será no Festival Internacional de Teatro, na Bélgica que atingirão o cume da fama.). Serão justamente estas saídas que proporcionarão a muitos dos elementos do CITAC o contacto e o conhecimento com outras realidades, outros estudantes para já não falar nos laços que se tecem com a emigração política portuguesa no estrangeiro.
Curiosamente é neste exacto momento (nestes meses que medeiam entre fins de 67 e meados de 68) que este mcr começará a pôr em causa as convicções “m-l” que até aí defendera ardorosamente. A crise académica de 69 e o golpe de Praga afastá-lo-ão vagarosamente dos ínvios caminhos do socialismo real de versão chinesa. E de todos os “socialismos reais, verdadeiros e puros”.
Todavia, em 68, temos este mcr a matraquear numa Underwood de 5ª mão, notas de leitura e criticas literárias para a “Vértice”, farto de Direito ou pelo menos daquele que se ensina na Faculdade, indeciso quanto à sua vida futura e aberto a qualquer coisa que lhe mude a triste realidade em que ele e amigos se encontram.
De todo o lado há notícia de manifestações estudantis. Na America a guerra do Vietnam mobiliza as universidades ( e mcr lê nesse ano os textos políticos de Jerry Rubin, um dos líderes da revolta estudantil americana. Na Alemanha, as movimentações estudantis de Berlim; em Itália o movimento studentesco põe o pais em polvorosa. Surgem aí de resto as primeiras respostas marxistas ao anquilosamento do Partido Comunista Italiano de Berlinguer. Este mcr traduzirá em 69 as duzentas teses “Per il comunismo” de Rossana Rossanda e Luigi Pintor. No México a crise tem o horrível desfecho do massacre da Plaza de las Tres Culturas que curiosamente começa agora a ser investigado! No Brasil, em Espanha, em Inglaterra os estudantes movimentam-se. E em Portugal?
Em Portugal, bem obrigado. Em Coimbra, a Associação Académica está sujeita a uma comissão administrativa nomeada pelo governo. Em Lisboa as associações e pró-associações atravessam dias maus não só porque a repressão é forte mas sobretudo porque os diferentes grupos políticos de esquerda com presença na universidade se mostram incapazes de estabelecer um programa comum mínimo. No Porto, como de costume, não acontece nada. Ou muito pouco. O movimento estudantil não tem raízes, estruturas, tradição, as faculdades desconhecem-se e boa parte da actividade política de juventude corre por fora. Claro que tudo isto mudará em breve e, melhor, mudará radicalmente em Coimbra com o fim da comissão administrativa na Académica e o triunfal regresso da esquerda académica ao poder. Em 1969, Coimbra conhecerá a maior, mais profunda e mais participada greve académica de sempre em Portugal. Essa greve de resto arrastará a queda de um reitor, de um ministro da educação e, o que é mais espantoso, o regresso aos bancos da faculdade de todos os estudantes castigados e incorporados à força em Mafra. Será também, em toda a história do movimento estudantil português, a greve que mais estudantes presos contou, além de ter sido a mais prolongada crise académica em Portugal.
As leitoras escassas que até aqui chegaram ficam a saber que esta foi a grande greve das raparigas estudantes, o momento único e fundamental da sua entrada maciça na luta, da expressão da sua absoluta coragem. As raparigas de Coimbra que fizeram a greve de 1969 (e foram imensas) mudaram tudo ou pelo menos, para muitas delas, mudou tudo. Isto que aqui digo, disse-o nessa altura quando tinha um auditório que me honrou com a sua atenção e o seu voto e disse-o mais tarde em depoimentos e entrevistas que por aí correram.
Mas voltemos a 68. Como é que o sentíamos cá? Convenhamos que boa parte das reclamações estudantis francesas pareciam-nos irreais. Então nós aqui sem direito a um pio e eles a falar de mudar a vida? Então nós, condenados, a um post-neorealismo adequado (há que dizê-lo) à nossa circunstância e aquela malta galhofeira a descobrir surrealistamente que debaixo da calçada havia praias? Nós que só queríamos um pouco de liberdade e aquela malta a troçar duma liberdade que tinha duzentos anos ou quase?
Quem estas lê, hoje, desconhece as mais das vezes o que era o Portugal bisonho de 68. O Portugal que encara com alguma benévola expectativa o aparecimento de Marcello Caetano. É verdade que a habitual minoria, garantia que nada tinha mudado (mas tinha, confesso-o hoje) e que tudo continuaria na mesma. Continuou mas não na mesma. O edifício mostrou as fissuras e de facto houve um tempo de respiro que permitiu por exemplo um congresso da oposição republicana, vigiado, rigorosamente vigiado, mas apesar de tudo realizado. A guerra continuou mas a discussão sobre ela subiu de tom. Sobretudo os portugueses à falta de melhor voto, começaram a votar com os pés: a emigração política aumentou exponencialmente sob o acicate da guerra colonial. E lá nas áfricas combatentes, a dúvida sobre as operações militares alastrou de tal forma que praticamente já ninguém augurava uma vitória militar. A derrota não vem de 74, vem destes anos que se iniciaram com o consulado de Caetano.
E os poucos que apesar de tudo estavam suspensos de Paris e do Maio francês? Ah esses sabiam tudo. Recordo-me de passar noites com um par de amigos, ouvido colado a um rádio magnífico que apanhava as emissoras francesas, sobretudo a RTL e hora a hora, minuto a minuto relatava as barricadas, a polícia, a ocupação da Sorbonne, e a maré enchente da greve geral. Com o meu amigo “Tati” (António Noronha) desenhávamos num enorme mapa das ruas de Paris, as barricadas, o fluxo e refluxo das manifestações. A Rue Soufflot era-nos mais conhecida que a Av. da Liberdade em Lisboa. Ansiosamente mandávamos vir livros que iam saindo ( e Deus sabe quantos saíram nessa altura...) de França, jurávamos lá ir. E fomos, claro. Logo que houve dinheiro, evidentemente, mas aí já só apanhamos as canas que os foguetes já tinham dado tudo quanto tinham a dar. Numa pesquisa feita sumariamente descobri trinta livros sobre o Maio francês nas minhas estantes. Deve haver mais, claro mas estes, em boa medida foram comprados entre 68 e 69. Ou mais tarde, quando se celebrou o vigésimo aniversário da revolta.
Este palimpsesto vai longo. Fica para a próxima, se próxima houver, uma breve descrição das leituras, das descobertas desta ano de todos os desejos que para mim começou em Maio de 68 mas só acabou em finais de 69. Acho que nessa altura, os meus camaradas coimbrões e eu, pudemos dizer aliviados, como o Cohn Bendit: la révolution nous l’avons tant aimé. Et nous l'avons faite, nom de Dieu!
vai esta para os meus dois camaradas de 69 Anto e Manuel Simas
14 comentários:
Para quem me proporciona tanto prazer na leitura, o que poderei oferecer?...
Ofereço este poema do saudoso romântico, Gilbert Becaud, ao MCR.
Mai 68
Tiens, 12 ans déjà
Qu'on est ensemble, presque mariés
Et le petit Pierre, le beau cadeau
Le temps va vite, voyage
Et Mai 68, c'est une chanson d'un autre âge
Tiens, 12 ans déjà
On était fou, on se foutait
Du monde entier, des gens mariés
D'la république trop tiède
Et Mai 68, pour moi c'est "Je t'aime"
Simplement un seul mot "Je t'aime"
Tiens, tu t'en souviens
La rue du Bac, une barricade
Et je t'emmène chez moi
Pendant qu'on s'aimait
Des gens criaient, couraient
Une jolie Rolls brûlait
A la radio cette musique-là passait
Tiens, 12 ans déjà
Qu'on est ensemble, presque mariés
Le petit Pierre est contestataire
Le temps va vite, voyage
Et Mai 68, c'est une chanson d'un autre âge
Tiens, 12 ans déjà
Pour fêter ça, je t'emmène dîner
C'est rue du Bac, un p'tit resto
"A la barricade", ballade
Et de ce temps-là pour toi et pour moi
Restera un seul mot "Je t'aime"
Meu caro cabral mendes:
Gilbert Bécaud a celebrar o Maio 68 c´est du sirop, mon vieux.
Ou , de outro modo, a prova mais evidente da normalização cultural.
Pas d´accord?!
D´accord, mon vieux Joseph mais...c'est tellement romantique...
hoje estou cá com uma veia "française..." a culpa é do MCR e do Forte! Malandros!!!
Eu sou culpado de muitas e graves coisas mas não do romantismo (movimento que admiro) nem de haver gente romamtica. Antes isso quw estúpida, cúpida, conformista, invejosa etc, etc.
E curiosamente esta cantiga do Bécaud desmonta um pouco algumas coisas adquiridas depois do joli Mai. Por exemplo a do restaurante... Na rue du Bac se bem me lembro não passou nada.
MCR, lá vai “seca”: num dos meus devaneios por Paris, já estive na tal Rue do Bac, onde se encontra a Capela da Medalha Milagrosa.
Com efeito, de Julho a Dezembro de 1830, a Irmã Catarina Labouré, que nasceu em 1806, e que entrou na comunidade das Filhas da Caridade em 1830, aí viu a Santíssima Virgem, que lhe apareceu nessa capela da Rue du Bac. Noviça das Filhas da Caridade, vê e conversa por três vezes com a Virgem Maria.
Nos meses precedentes, Catarina foi beneficiada com outras aparições. São Vicente de Paulo e Jesus cristo. Aliás, esta O viu durante todo o tempo do seu Seminário, excepto todas as vezes em que duvidava.
A 6 de junho de 1830, na festa da Santíssima Trindade, Cristo apareceu-lhe como Rei crucificado, despojado de todos os seus paramentos.
Bem, quem acredita...mas acho que dá para reflectir...
Um abraço
dlmendes
Caro amigo
Como já lhe terei dito, traduzi "Maria" para a Asa mas ainda não está editado. Aí li, com forte espanto meu, que o sec XIX foi fértil em aparições da Virgem. V. depois verá o porquê. A época, era apropriada a aparições e estas foram, de resto, bem exploradas.
Isto tem muito a ver com a grande controvérsia religiosa que consistiu em dar á Virgem um estatuto quase igual ao de Cristo. Coemçou noi sec II fortaleceu-se no concílio de Éfeso teve altos e baixos e o sec XIX foi um dos seus apogeus. Quem diz sec XIX não oculta as sequelas até ao sec XX.
Claro que nada disto tem qualquer correspondencia nos Evangelhos ou nos Actos dos Apóstolos e nas Epístolas, unicos documentos sagrados do catolicismo, como V melhor do que eu sabe. A mariologia tem sido o cavalo de batalha do anti-feminismo no cristianismo: Eva a grande pecadora versus Maria a salvadora. Infelizmente para os defensores dessa tese, aí estão os Evangelhos que práticamente não referem Maria ou sequer o nascimento de Jesus (só dois o referem,,,) ou o Natal, os Magos, a mangedoura, S.Ana e S. Joaquim, etc...
Numa palavra: o Filho do Homem só o é realmente se tiver nascido no seio da humanidade e não salvará o mundo, enquanto Homem se for diferente o seu nascimento. Logo que o livro saia enviar-lhe-ei um dos exemplares que me couberem. Para que conste: o autor pertence à redação de La Croix e os seus livros não estão em nenhum Index!
A r. du Bac tem esse nome porque na margem havia um a jangada (um bac) que fazia a travessia. A ponte é moderna. Desculpe esta explicação mas eu tenho uma biblioteca sobre Paris que é a minha verdadeira cidade. houvesse dinheiro e morava lá...
Ok, MCR...Vexa lá irá com o tempo...ahahah!
Relativamente a Paris, ela é bela, na verdade...é mágica...nem consigo agora caracterizar melhor...faltam as palavras...Já tenho imaginado se por acaso tivesse um cargo a desempenhar nessa cidade...Seria uma felicidade!
Um abraço ( e lá estaremos atentos ao seu livro...).Em tempo: MCR, eu em tempos, vi o mercado de arrendamento e até a aquisição de casa ( assim um apartamento...) e lembro-me de ter constatado que era mais BARATA PARIS que LISBOA! E esta?...actualmente não sei...mas como praticamos preços ( que não salários) equivalentes ao centro da civilização...,perdão, da Europa...
O último L'Express desilude qualquer cavalheiro menos abonado. Refiro-me ao nº 2853 até 15 Março.
Como vê estou atento.
Vou "caçar" esse LÉxpress...não o comprei e fiquei curioso...
É difícil dizer-lhes como foi interessante para mim ler os posts referentes ao maio de 68. As visões de cada um, a experiência de cada um. Uma história pessoal tão rica, inserida num momento do contexto mundial.
Tenho pouco a dizer sobre isto, em 68 eu era uma menina de 14 anos que voltava ao Rio depois de morar anos e anos no interior e não sabia nada de coisa alguma afora ler qualquer livro que me caísse nas mãos. Filha de pai militar, tentava discernir o que estava acontecendo sem grande sucesso. No mesmo ano recebi de uma prima de 17 anos o convite para fazer parte da luta armada contra a ditadura. Levei um susto. Eu? Uma menina que sabia exatamente a idade que tinha? Com armas e contra o expercito ? Meu pai já estava na reserva.E pensei comigo mesma, essa coisa assim não vai dar certo ( apesar de admirar profundamente o ideal que aqueles garotos e garotas tinham ). Tinha apesar de tudo a noção de que éramos crianças e que luta armada é coisa séria e grande. Tanta tortura, tanto descalabro, tantos desaparecidos. Até hoje me pergunto se no fundo não fui mesmo covarde. Mas examino bem, muito bem,o que houve e ainda me vêm a idéia clara de que aquilo tinha tudo para não dar certo. Eu tinha pouquíssima noção de política, mas não me agradavam os regimes de exceção, fossem à esquerda ou à direita. Depois, parte da minha geração dedicou-se ao rock'n roll, paz, amor, e otras cositas más, que como todos sabem eram consideradas pela esquerda militante altamente reacionárias. Tomei meu rumo na Medicina mesmo, pensando sempre que assim poderia ajudar mais.
Abraços,
Silvia
Sílvia, tomou a melhor opção...salvou-se uma médica...
Ah, mas eu me orgulho desta geração, da nossa geração. E muito! Mesmo não tendo participado de movimentos políticos. Mesmo com o país mergulhado numa ditadura.
Tantas coisas mudamos e tantas outras fizemos por mudar. Mulheres à procura de identidade e independência. Homens e mulheres a mudar o modo de ver a sexualidade, o corpo, o outro.
As pequenas lutas do cotidiano a mostrar que as coisas não podiam ser bem assim. Que todos tinhamos direito ao mesmo status. A procura de parceiros, de homens e mulheres ombreados ( cada qual com o seu modo ) pelos mesmos ideais, pelo mesmo trabalho, pelos mesmos direitos, pelo respeito ao próximo.
E vejam bem, nunca fui feminista, nem sou. Mas sou teimosa. E me orgulha o passo gigantesco que demos. Todos nós.
Silvia
Caríssimo anto. De Outubro? Se me lembro? Mais depressa me esqueceria do dia de hoje de manhã (também não se passou nada de relevante mas a imagem vale). foi por isso mesmo que dediquei a croniqwueta a ti a ai Manel simas...
Querida Sílvia:
Permita-me que cite o velho Nietzsche: "Não o teres derrubado ídolos/ mas o tê-los derrubado dentro da tua cabeça/eis a tua vitória". traduzindo em miúdos: uma geração começa a ser uma geração se faz algo por ela e pelas vindouras. Os jovens brasileiros que foram paulatinamente conquistando (com o rock, com a musica, com os novos modos de ver a vida , com o seu desprezo pela ditadura, com o seu obstinado não reconhecimento da ilegalidade legal) um espaço de liberdade são geração: a Sua! e merecem ser lembrados. E pelo menos por mim testemunha distante mas apaixonada tsambém eles fizeram uma revolução. Nas mentalidades. solaparam a base ideológica do regime dos generais. Isso também tem (e deve) ser recordado.
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