22 março 2006

A propósito da chuva…

Está a chover. Os meteorologistas anunciam que o tempo vai piorar. Ventos fortes, muita chuva para tranquilizar os governantes e o povo, que não precisará de fazer a respectiva dança nem de ir a Fátima pedir a dita.

O tempo está como a política. Com a diferença que o tempo vai melhorar. É seguro que vai melhorar. Enquanto que a política dá pouca esperança de isso acontecer.

Alguns jornais de hoje publicam grandes fotos do encontro de Sócrates com a vidente Fátima Felgueiras. Sócrates cumprimenta (beijo) Fátima Felgueiras, num gesto de cumplicidade antiga, dizem.

Pois é! Tudo se junta num compromisso infernal, medonho. Quem foi que pediu uma espécie de operação “mãos limpas”? Seremos gente para isso? Tornámo-nos mestres na arte de ludibriar, de contornar as normas.

Em Portugal uma operação “mãos limpas” acabaria certamente com os acusados a pedir indemnizações ao Estado. E o Estado acabaria por ter que as pagar, sem apelo nem agravo, até porque há sempre a ameaça do tribunal europeu.

É que, não se sabe porquê, neste País, os defensores dos acusados são sempre mais inteligentes que os defensores do Estado ou do interesse público. Ou então é a própria lei que está feita para desproteger o interesse público.

Recordam-se do célebre caso da vírgula? Dura há muito tempo a nossa formação na arte de bem construir o descrédito das instituições. Viramos especialistas no engodo. A maior parte das vezes, não importam as competências, o que conta é estar do lado certo, o que ganha.

E tudo isto a propósito da chuva, do tempo que faz. Amanhã outros encontros se darão, outros sinais mostrarão o sentido da queda. E assim será até que novas gerações decidam iniciar um novo ciclo, um pouco mais acima, talvez.

4 comentários:

C.M. disse...

Lá me enganei outra vez...bem, queria dizer que esta da chuva fez-me lembrar do "Il pleut Sur Santiago"...precisávamos, pois, de uma boa chuvada, não daquela que se abateu sobre Santiago, obviamente, mas uma chuva que efectivamente lavasse o País desta chusma de oportunistas e de feirantes, que mais não fazem senão defender os seus interesses! E depois dizem que corporativos são os outros!...

o sibilo da serpente disse...

O que me preocupa mesmo é que 30 anos depois não mudamos muito.

M.C.R. disse...

de boa vontade recitaria um belo poema de Rilke: Got es ist Zeit (Senhor é tempo...o Verão foi demorado lança o teu vento nas campinas etc...) para significar essa necessidade de pedir uma chuva primordialque lavasse a terra e quantos a habitam. Mas nem para isso tenho coragem. Ao ver essas fotografias do pastorinho e da rainha do Carnaval no Minho penso que só um dilúvio dos antigos (do de Noé) é que pararia esta bambochata de mau gosto. Perdeu-se definitivamente o sentido da decência.
Amanhã o eng Sócrates vai dizer que a Fátima de Felgueiras ainda não foi julgada e que por isso até lá tudo como dantes. Nem a fuga rocambolesca para o Brasil, nem as porvoeiras da mulherzinha e as ameaças que também bolsa, convencem o primeiro Ministro que ela é infrequentável.
O que me dói é que estas criaturas vivem e mandam no meu país.

O meu olhar disse...

MCR, achei piada a essa do pastorinho e da rainha do Carnaval. Bem apanhada.
Quando à chuva, era realmente preciso que viesse e limpasse essa tralha toda, mas que não nos levasse a esperança que apesar e tudo ainda resta.