11 abril 2006

Antes Assim!


Tenho para mim que existem aqui alguns “companhons de route” bem intimistas. Que gostam de escrever o que lhes vai na Alma. Eu próprio gosto de escrever, por vezes, algo sobre tudo aquilo que revisita o labirinto da nossa intimidade e que, não nos expondo totalmente, por pudor creio, sempre revela alguma coisa sobre nós. É um preço a pagar por se escrever num blog, como diz o Carlos, meu colega nas agruras do Direito.

Porém, escritor “intimista” aqui do blog (eu sou apenas um humilde escriba) - e de primeira água - é o nosso Marcelo Correia Ribeiro, bem acompanhado pelo delicioso Coutinho Ribeiro com as suas crónicas de amores e paixões vividos na cidade invicta…

Mas enfim, cada um faz o que pode e quem dá o que tem…

Hoje, já noite, muito noite, gostava de vos relatar, em estilo telegráfico, pois não vos quero maçar, como este rapaz passou a tarde de Domingo, Domingo de Ramos.

Convidados por um amigo de tertúlias dos Sábados à noite, o Abel, que é “Terceiro Carmelita”, andámos, eu e a minha princesa, pela Baixa lisboeta integrados numa Procissão que este ano voltou “à vida”: a “Procissão do Triunfo”. Com efeito, passados 98 anos (a última foi em 1908), a procissão do Triunfo voltou a surgir nesta nossa Cidade.

Partiu da Basílica dos Mártires até à Igreja do Carmo.

Esta caminhada penitencial era inicialmente organizada pela Ordem Terceira do Carmo. Que também tinha o concurso da Ordem Terceira Franciscana. Teve o seu início no século XVII e realizava-se sempre no Domingos de Ramos ou então na Sexta-Feira da Paixão.

Traduz uma forma visível e silenciosa de proclamar a Morte de Jesus Cristo e representa, de certo modo, a Via-sacra de Jerusalém.

O trânsito foi interrompido por algum tempo, nas Ruas da Baixa, nomeadamente na Rua do Ouro, pois que por ela subimos, lentamente, até ao “Rossio”. Mas, curiosamente, mesmo aqueles que foram “apanhados” de surpresa e retidos pela Procissão, mesmo não se revendo nela, manifestavam um comportamento digno e respeitoso.

Afinal, no nosso Portugal, ainda é possível conviverem dois mundos tão diferentes como o mundo material e o mundo espiritual, no dizer de Santo Agostinho.

Como disse um escritor muito do meu agrado, Nunes da Rosa (1871-1946), num dos seus contos, “Antes assim”!

Pois, meus amigos, também direi: antes assim!

13 comentários:

Silvia Chueire disse...

é belíssima a fotografia, o local. Eu teria ficado ali horas a admirar e pensar.

Obrigada.

Abraços,

Silvia

C.M. disse...

Cara Sílvia, este convento foi mandado construir em 1389 pelo Condestável D. Nuno Álvares Pereira.

Ergue-se no Monte do Carmo, sobranceiro ao Rossio e tendo em frente o Castelo de S. Jorge.

O largo que vê possui umas pequenas esplanadas, simples mas agradáveis, onde nos podemos sentar beber qualquer coisa e ler um pouco, ouvindo os passarinhos.

É o largo onde se concentraram as tropas aquando do 25 Abril, pois aí estava cercado o Prof. Marcello Caetano.

M.C.R. disse...

Meu Caro DLM (que quer V? foi assim que o conhecemos, é assim que continuamos a chamar-lhe)

Há aqui de facto dua pessoas que escrevem o que lhes vai na alma, como V. diz. Uma, claro, é a Sílvia, cujos poemas são disso, claríssimo registo. Outro, e como muito bem anota, é o Coutinho Ribeiro (de quem uma leitora do blog e minha familiar diz que ele é pássaro ferido na asa) um passarão que deve ter vivido (e bem!) várias vidas.
Eu - como porventura reparou - defendo-me mais: isto vem de uma antiga e nunca curada timidez que me faz disfarçar em tonitruância algumas pequenas confissões. Sou, aliás, pouco dado, ào intimismo: vivi uma época em que por imperativos exteriores, havia que defender muito a privacidade possível. Dos camaradas e da polícia. E tem graça que isso se traduzia em coisas pequeníssimas: por exemplo: entre os 17/18 e os 20 e vários, quase não tenho fotografias minhas, só ou em grupo. Propositadamente! Hoje isto parece estranho mas eu, que nunca fui exactamente um clandestino a tempo inteiro, cuidei-me bem de deixar rastos. Aliada a essa situação estaria outra e anterior. Durante algum tempo, a família entendeu dever mandar-me para colégios, interno. Cedo descobri que a nossa correspondência era lida pelos senhores directores. Nunca mais me pilharam, sequer para a família, coisa que se aproveitasse. Quando, finalmente caí nas mãos das polícias, decidi-me a escrever um diário secreto para ser lido. Muito anos depois, descobri, num dos processos, uma cópia integral de um deles. O mais curioso é que, ao mesmo tempo, e graças a esse truque, consegui de facto anotar um par de coisas que salvei e nunca foi descoberto. Está a ver porque gosto de romances policiais?
De todo o modo a sua excessiva bondade crítica quanto ao que vou escrevendo, toca-me profundamente, envaidece-me e faz-me um bem danado ao ego.
Bem haja por isso. Já praticou uma boa acção que o poderia ter salvo de participar nessa procissão penitencial. Para penitência basta aturar os pais da pátria!

M.C.R. disse...

Meu Caro DLM (que quer V? foi assim que o conhecemos, é assim que continuamos a chamar-lhe)

Há aqui de facto dua pessoas que escrevem o que lhes vai na alma, como V. diz. Uma, claro, é a Sílvia, cujos poemas são disso, claríssimo registo. Outro, e como muito bem anota, é o Coutinho Ribeiro (de quem uma leitora do blog e minha familiar diz que ele é pássaro ferido na asa) um passarão que deve ter vivido (e bem!) várias vidas.
Eu - como porventura reparou - defendo-me mais: isto vem de uma antiga e nunca curada timidez que me faz disfarçar em tonitruância algumas pequenas confissões. Sou, aliás, pouco dado, ào intimismo: vivi uma época em que por imperativos exteriores, havia que defender muito a privacidade possível. Dos camaradas e da polícia. E tem graça que isso se traduzia em coisas pequeníssimas: por exemplo: entre os 17/18 e os 20 e vários, quase não tenho fotografias minhas, só ou em grupo. Propositadamente! Hoje isto parece estranho mas eu, que nunca fui exactamente um clandestino a tempo inteiro, cuidei-me bem de deixar rastos. Aliada a essa situação estaria outra e anterior. Durante algum tempo, a família entendeu dever mandar-me para colégios, interno. Cedo descobri que a nossa correspondência era lida pelos senhores directores. Nunca mais me pilharam, sequer para a família, coisa que se aproveitasse. Quando, finalmente caí nas mãos das polícias, decidi-me a escrever um diário secreto para ser lido. Muito anos depois, descobri, num dos processos, uma cópia integral de um deles. O mais curioso é que, ao mesmo tempo, e graças a esse truque, consegui de facto anotar um par de coisas que salvei e nunca foi descoberto. Está a ver porque gosto de romances policiais?
De todo o modo a sua excessiva bondade crítica quanto ao que vou escrevendo, toca-me profundamente, envaidece-me e faz-me um bem danado ao ego.
Bem haja por isso. Já praticou uma boa acção que o poderia ter salvo de participar nessa procissão penitencial. Para penitência basta aturar os pais da pátria!

M.C.R. disse...

Cara Sílvia
O nosso DLM esqueceu-se de dizer que o convento ou as suas ruínas é sede do museu de arqueologia, se não estou em erro. Está arruinado desde o grande terramoto de 1755. Todavia ainda hoje é um belo exemplo do gótico tardio.
Também lhe poderia ter dito, se não fosse um lisboeta empedernido, que está situado num bairro antiquissimo, agradabilíssimo, cheio de livrarias e de alfarrabistas (é assim que chamamos aos nossos "sebos"). Para não falar em optimos restaurantes...
ele se fosse bom companheiro punha aí um mapa da zona e assinalava algumas belíssimas Igrejas todas dignas de visita minuciosa. Mas V. já sabe, os católicos tem das Igrejas uma visão muito patrimonial e não gostam de ver o povo descrente a visitá-las...

C.M. disse...

Ai este MCR é do piorio!...ahahah...

Tem razão sim senhor! O Bairro é lindo, e tem os nossos alfarrabistas de estimação...

Quanto às Igrejas, são um "must"!

Então são elas: Igreja do Sacramento, na Calçado do Sacramento, junto a este Largo que vemos na foto, Igreja do Loreto, Igreja de São Roque ( dos Jesuítas) Igreja dos Mártires, na Rua Garrett, Igreja da Encarnação também nesta rua.
Creio que, neste pequeno perímetro da cidade, não me esqueci de nenhuma. Mas, é claro, bom bom era fazer a visita "in locco"...nós todos, travestidos de turistas...calças jeans e umas sandalinhas nos pés...e o MCR a fazer o "tour" pois ele sabe tudo!

M.C.R. disse...

Haja uma boa alma que me ensine a desfazer um comentário quando ele sai em duplicado!...

DLM: Eu gosto muito de Lisboa, sabia? Não tenho nada desses bairrismos insuportáveis e anti-capital. O bairro alto e adjacências está ligado a uns belos anos de vida quase diária ali. Estava em Lisboa pelo menos dois dias por semana. Alojava-me em casa de um amigo mesmo em cima da Bertrand (3º andar) e anos depois no Hotel Borges que era, nesse tempo, um must: velho, com quartos todos diferentes, bom preço e um pessoal de portaria inexcedível. as minhas sedes eram a (já inexistente ) Opinião, livraria, galeria e bar onde hoje é a Cotovia, uma outra livraria no largo Trindade Coelho, dito da Misericórdia, que hoje ainda existe mas muito diferente e com outro proprietário, a Trindade, claro, o restaurante A Trave do mesmo dono do 1º de Maio onde se reunia um belo grupo que ia dos irmãos Vitorino Salomé ao Adriano Correia de Oliveira, do Cardoso Pires ao Herberto Hélder, do Assis Pacheco ao Cabeça de Vaca, etc... o Tavares, uma catedral da boa comida, , a livraria Barateira, a que volto sempre religiosamente e os vários bares desde o Snob JoãoSebastiãobar. E mais e mais. E a leitria garrett esquecia-me dela. E o Grémio Literário, boa comida. etc, etc...

C.M. disse...

Ai este MCR! Que vida! Isto é um rodopio!

Ó MCR, a propósito, não me diga que ficava no quarto que em tempos o Oliveira Salazar ocupou, ali no Hotel Borges!

E esta, hem?!

M.C.R. disse...

Dessa não sabia. Mas garanto que com a minha passagem (nem sempre só) o hotel ficou vacinado desse virgem empedernido.

o sibilo da serpente disse...

Pássaro ferido na asa? Uma boa imagem da nossa leitora, familiar do MCR. Um dia destes o passarão explica

Silvia Chueire disse...

Pois aí está eu gostaria de conhecer o roteiro todo, MCR.

E claro a cicatriz da asa do
nosso carteiro, que hoje não deve mesmo ser mais que uma cicatrizinha. : )


Beijos,
Silvia

M.C.R. disse...

O nosso Carteiro é como S. Sebastião: está sempre a ser alvo de flechas (de cupido?)

C.M. disse...

Temos de ver essaas marcas do nosso Carteiro...