12 abril 2006

Diário Político 18

ATÉ OS COMEMOS
(taveirando...)



Exo. Senhor
Eng.º António Taveira


Hoje domingo, às 9 horas menos dez, mais minuto menos minuto tive a oportunidade (mas não o prazer) de ver V.E. anunciar ao Porto e à Pátria que os socialistas tivessem cautela porquanto, e sic, "nós até os comemos"!

Sou do Norte, vivo no Porto e voto socialista. Fico naturalmente preocupado com a hipótese de ser comido por V.E..
E por várias razões que lhe passo a expor:

1º não gostaria de morrer grelhado, frito ou "de fricassé"; parecem-me, V.E. perdoar-me-á, soluções pouco elegantes para um cavalheiro de meia idade.

2º Aos 52 anos já devo ser durázio pelo que temo que V.E., para levar a cabo esse instinto antropofágico que por mim nutre, me sacrifique com os requintes com que se prepara o peru para a ceia natalícia enfiando-lhe pela goela uma aguardente abaixo de qualquer classificação. Logo eu que detesto bagaço.

3º Acabei de fazer uma dieta que me atirou para os 62 quilos, conseguindo assim voltar para a categoria de magro. Assim sendo, e continuando sob ameaça de passar a produto comestível, vejo-me já numa granja a ser engordado como um ganso ou, pior ainda, como um vitelo.

Bastariam estas três razões para apelar a V.E. que desista desse gargantuesco apetite que põe em risco de vida a grande maioria da população eleitora do Porto. Todavia, perdoe, há pior.
Dizem-me agora, com meias palavras, que "comer" significa outra coisa.

Engenheiro Taveira por quem me toma V.E.? Comer-me? Mas que é isso? Alguma vez nos cruzámos e eu, langoroso, lhe atirei com uma "oftálmica" daquelas que diz tudo, mas tudo mesmo? Ou, pior, deixei eu cair um alvo lencinho de cambraia branca bordada com o monograma altivo dos d’Oliveira, e V.E., num gesto ousado e galante, apanhou-o em voo, e entregou-me com um sorriso maroto debaixo desse bigodão?

E naquele "nós até os comemos" haverá ainda a hipótese de não ser V.E. o único e querer partilhar este, entre outros, fatigado corpo com mais compinchas?

Engenheiro António Taveira - já me passou a idade heróica em que eu, à mera evocação do "odore de femina", me sentia um foguetão intercontinental. Todavia isso não significa que me tenha transferido para a outra margem. Afianço-lhe que nem sequer aturo supositórios e, se me permite, também não me atraem mocetões de bigode mesmo a cantar os êxitos do José Cid nos anos 60.

Engenheiro António Taveira - retire por favor a frase e as fomes que ela supõe. V.E., à falta de passado tem, de certeza, futuro mesmo, permita-me que lho augure, como candidato derrotado. Sofreie a impaciência e o apetite e dê tempo ao tempo.

At.,V. e grato
d'Oliveira

nota: o texto ora em exposição (a 1ª da sua já longa vida) data de 1993(?). E refere com toda a verdade uma objurgatória do senhor eng. António Taveira episódico dirigente distrital do PPD/PSD durante a disputa da presidência da Câmara Municipal do Porto contra o dr. Fernando Gomes. Manda o rigor histórico que se informem os leitores destas minúcias históricas da derrota de Taveira. Derrota forte, valente e, quero crer, merecida. Como a do dr. Gomes anos depois...
E foi retirado da naftalina pelo milagre de uma frase do dr Coutinho Ribeiro, neste blog a propósito, julgo de uma vitória do Porto sobre um clube de que já não recordo o nome. Alguém com humor, há que aceitá-lo, contestou a frase, e os ribeiros do blog disseram de sua justiça. poderá uma Oliveira (reino vegetal) juntar-se a esses fenómenos naturais eminentemente geológicos para deitar uma acha à fogueirinha? E, de passagem, cumprimentar o comentador Sebastião e Silva (ora aqui temos outra espécie vegetal. assim já são dois contra dois).
Boa Páscoa!

2 comentários:

o sibilo da serpente disse...

Valha-me Deus, que as palavras são uma chatice. Que me lembre, usei uma única vez a expressão até os comemos - foi aqui, naquele postal.

M.C.R. disse...

E usou bem! é uma genuína expressão popular muito caracterísitca do Norte. não tem nada que se lamentar ou arrepender. O meu texto não pretendia criticar o seu postal mas tão só lembrar uma fras imprudente de campanha eleitoral de um hoje desaparecido político do PSD que perante a iminência de uma derrota (que se concretizou) entendeu usar a mesma expressão num comício eleitoral. Trata-se de um "divertimento" nada mais. E faça-me a caridade de pensar que não confundo o meu talentoso Amigo com o político citado. Est modus in rebus!
fraternalmente
d'Oliveira