18 abril 2006

Resta-nos ver Portugal a arder!

Passeando pelas Beiras deste país, durante umas férias pequenas e merecidas (convicções !...) deparei com o quadro habitual: mato e mais mato a matar a floresta por asfixia! Limpeza das matas? Onde? Não vi. Estradas de acesso nos montes? Onde? Poucas vi. Reflorestação? Onde? No entanto, muitos recebem subsídios para limpar matas que ninguém limpa, nem ninguém controla a forma como se gasta esse dinheiro.

A esse propósito comentei com o meu parceiro:”vais ver que daqui a pouco se começa a falar do combate aos incêndios e a prevenção vai passar ao largo”. Em cheio! Nas notícias do dia seguinte lá estava o super carro dos bombeiros que aí vem para apagar fogos, mais não sei quantos aviões (alugados) e mais não sei o quê. Parei o que estava a fazer com uma ténue esperança de ouvir falar sobre o que tinha sido feito ao nível da prevenção materializada, por exemplo, na limpeza das matas. Nem uma palavra. Pensei com os meus botões: “ mas não haverá por aí um jornalista, um que seja, que pegue nos incêndios antes destes acontecerem e ponha a prevenção a nu?”. Quando partilhei este meu pensamento o comentário que obtive foi:

- Mas desde quando é que a prevenção vende? Um fogo, isso sim, com muito drama à mistura, casas queimadas, isso sim vende!

E é verdade. A reforçá-lo estavam as imagens que tinham passado momentos antes na televisão: fogo e mais fogo.

Tenho pena. Tenho pena pelas árvores que vão arder, pelos animais que vão morrer, pelas ruínas negras das habitações, pela pobreza que se instala cada vez mais nos nossos montes.

Se os ministros, secretários de estado e directores gerais passassem pelas estradas do interior deste país em vez de se deslocarem a 180-200 Km/h nas auto-estradas ou se alojassem em turismo rural em vez de irem para o Brasil passar férias, talvez dessem conta de como está a "paisagem" que cerca as cidades.

Como nada acontece para evitá-lo, resta-nos ver Portugal a arder!

2 comentários:

C.M. disse...

Caríssima "o meu olhar", antes de me deitar ( vou começar a deitar-me cedo que esta história de noitadas tem de acabar: Roma e Pavia não se fizeram num dia…) coloquei um rápido postalinho e acabo de ver o seu: olhe, tem muita razão!

Portugal é ( actualmente) uma lixeira a céu aberto. É uma pena, pois tinha todas as condições de ser um jardim de toda a Europa: mas o “pessoal” não quer nem hoje o gosto abunda...

Algures já mencionei esta excelente passagem, respigada de um texto do historiador Paulo Varela, intitulado “Os incêndios do regime”; não resisto a colocá-la aqui, a fazer companhia ao seu texto:

“Na III República deu-se o colapso da autoridade do Estado central e local, este regime de desrespeito completo pela lei, que começa nos ministros e acaba no último dos cidadãos. É o território do incumprimento dos planos, das portarias e regulamentos camarários, o território da pequena e média corrupção, esse sangue, alma, nervo da III República” – in Jornal Público de 11 Agosto 2005.

Com efeito, em Portugal, o sistema democrático foi tomado como sinónimo de desordem, de desrespeito pelo próximo. Precisamente o contrário daquilo que deveria ser. A culpa será dos políticos que não respeitam o cidadão, não o educam para uma verdadeira cultura cívica. Quando eles não se respeitam a eles próprios...

M.C.R. disse...

Querida Amiga:
Sabia que há até um projecto , um plano, uma coisa qualquer dessas que paga aos agricultores uma renda decente para eles plantarem (replantarem) floresta autóctone?
E que esta (teixo, carvalho, casttanheiro etc) resiste melhor, muito melhor aos incêndios e à sua propagação?
Claro que também se pode e deve dizer que 90% da floresta é de particulares, pequenos proprietários que já não têm dinheiro nem condições para explorar a floresta. Mais: fica-lhes caríssimo limpá-la. Mas se é assim que a dêem ao Estado, à autarquia, à Misericórdia local ou até aos bombeiros voluntários.
Os ministros e secretários tendo alguma responsabilidade tem também sobretudo uma manifesta impossibilidade. Fazer leis para não serem cumpridas, nem sequer verificado o seu cumprimento ( a limpeza das matas...) não vale a pena. Este é um problema de mentalidades e de cidadania. E de imaginação: que fazer á floresta? como rentabilizá-la?
De todo o modo o seu texto é um severo alerta e... custa-me pensá-lo, uma terrível premonição.