03 abril 2006

faltas-me enquanto o cello,
a voz, lembras-te?
ecoa no quarto sua melodia,
um pedido, uma prece.

faltam-me teus olhos,
as palavras a cultivarem
um campo de magnólias
sob a minha pele.

faltam-me o teu desejo óbvio,
as tuas carícias,
e novamente as palavras.

estou só no meio da noite sem poemas
ou gestos.
o cello reverbera a solidão.

nunca estive tão só.
mesmo que tenha um campo de flores na voz
um ritmo natural no corpo,
um riso por abrir qualquer dia.



silvia chueire

3 comentários:

C.M. disse...

Nesta manhã, como em todas em que abro o “Incursões”, antes de mergulhar na loucura do dia, deparo com este belo poema da Sílvia.

Penso sempre que o último poema publicado não pode ser ultrapassado. Mas tenho-me enganado.

Este último, porém, diz-me muito. Acerca da dramática verdade da vida, qual seja, que vai sempre existir, na nossa vida, uma época em que, inevitavelmente, ficaremos sós.

Precisamente em que nos faltarão os olhos e as palavras do outro, que sempre nos acompanhou na aventura da vida.

Apenas posso fazer a seguinte prece, nesta manhã:

Senhor Jesus, que eu nunca venha a sentir esta falta, esta dor.

Que eu possa partir primeiro!

Silvia Chueire disse...

Seu comentário, Delfim, é sinal que o meu poema tocou-o, o emocionou. É uma as coisas que quem escreve um poema espera que aconteça. INdependentemente da dor, fingida ou não-
Agradeço-lhe ( agora eu) emocionada.


Beijos,
Silvia

o sibilo da serpente disse...

Todos os sorrisos se abrem, um dia.