26 maio 2006

Ab imo pectore...


“Ali também Timor, que o lenho manda
Sândalo, salutífero e cheiroso”

Camões - Lusíadas Canto X ,Est. CXXXIV




Em 1961, quando em Angola, a UPA, a poder de machadadas, realizou uma autêntica carnificina, pondo fim a um projecto (ainda incipiente, bem sei…) de uma sociedade pluricontinental e plurirracial, António Oliveira Salazar deu um grito que ficou célebre na história: “Para Angola e em força!”

Ora, quarenta e cinco anos depois, e relativamente a Timor, que faz Portugal?

Culpado da tragédia que existiu em Timor, do qual fugimos atabalhoadamente, deixando um povo, inteiramente identificado com a nossa Bandeira (católico) à mercê da poderosa cruel (e muçulmana) Indonésia, Portugal que faz? Hesita, ou melhor hesitam os políticos (ou os politicões) em agir. Estranho que nas Bósnias foram mais firmes…é mais perto, mais cómodo…mais “cool”…

Sempre me fez muita “impressão” a questão de Timor, porquanto ao deixarmos ali esquecido todo um povo indefeso, provocámos o necessário caldo para o emergir de uma guerra civil, o que veio a suceder. De resto, foi o que aconteceu em todo o Império Português, com a nossa partida…Como são proféticas as palavras de Marcello Caetano, corria o ano de 1973: “Pobres populações nativas entregues à incompetência desses homens e abandonadas às lutas tribais!”

Foi o que aconteceu. Não soubemos fazer uma transição pacífica, suave, não se perdendo a cadeia de comando, por assim dizer…Mas o abandono de antigas possessões foi uma tragédia em geral. Veja-se o caso do Congo Belga: O Governo belga concedeu a independência. Foram celebrados acordos. Mas, o que sucedeu depois? Morticínios, sevícias…As Nações Unidas foram obrigadas a intervir com os seus “capacetes azuis” a fim de restabelecer a ordem, sem se livrarem, posteriormente, de acusações de terem conduzido uma ofensiva de grande violência para com os civis belgas…com efeito, muitos foram mortos, inclusive hospitais foram bombardeados…uma loucura!

A França também não conseguiu ver realizados os seus intentos, visados pelos acordos através dos quais reconheceu a independência da Argélia: Passados quatro meses sobre a independência, 900.000 franceses abandonaram o território onde a maioria tinha nascido. Hoje, a Argélia é um inferno (para o seu próprio povo, à mercê de grupos fundamentalistas terroristas).

Na África portuguesa, milhares de famílias perderam os seus lares, muitos a vida, e a desolação, a ruína, a destruição, a morte, abateram-se durante estes últimos trinta anos sobre territórios onde deveria ter sido feito o milagre da paz, do progresso, a tal sociedade onde todos deveriam ter lugar…Será que todo o continente africano deverá ser proibido ao homem branco? Não será isso também, um forte racismo de cor diferente?


O povo de Timor foi, porventura, o mais inocente puro e fiel à (antiga) Nação Portuguesa. Da actual pouco resta. De glória, de sentimentos, de honra.

Afinal, que significado assumem hoje estas palavras?

“Ó mar salgado/quanto do teu sal/ são lágrimas de Portugal/Por te cruzarmos quantas mães choraram…”

E desistimos?

Para Timor e em força!

Nota: a foto diz respeito a uma família timorense que passeia numa praia... .parece que nos acenam....

4 comentários:

M.C.R. disse...

em 1975 havia em Timor 14 quilometros de estrada alcatroada, liceu até ao 5º (ou 7º não estou seguro) meia duzia de colonos fdescendentes de deportados, e uma administração incompetente que considerava aquilo um exílio. Depois houve um levantamento da UDT (seria igual se fosse a Fretilin ou a APODETi ...) e o que se viu.
A cruel Indonésia pediu vezes sem conta (há registos e há história...) que Portugal assumisse as suas responsabilidades. Do mesmo modo que as não assumiu em 1941, também em 75 as não assumiu. Provavelmente não poderia mas isso é outra história.
A cruel Indonésia(?) tem quase 40 bispos católicos, uma forte minoria protestante, uns milhões de budistas, outro tanto de animistas para não falar dos hinduistas.
É o único país de maioria muçulmana onde as mulheres andam de cara destapada, bastante á ocidental. Por acaso, agora, vem em todas as televisões QUE INFORMAM (o que exclui as portuguesas) fortes mas ainda não alarmantes manifestações muçulmanas para impor certas regras do corão e proibir o Playboy!
Por aqui se vê o que é a sociedade indonésia, cujo embaixador em Portugal tem nome português!
Timor como país independente é, foi e será, absolutamente dependente. Nem o petróleo o salva. Se calhar até o poode perder...Os amigos australianos que praticamente dizimaram os seus aborigenes, preparam-se agora para tratar dos timorenses como trataram aqueles.
Portugal nos antípodas não tem grandes possibilidades (nunca teve, aliás) de intervir. Porque as questões que poderão ser momentaneamente resolvidas agora com meia duzia de tropas ressurgirão amanhã.
E finalmente a católica Timor: no dizer insuspeito do exbeneditino José Matoso, perante o silêncio comprometido de D Ximenes Belo, é preciso estar atento ao fortíssimo animismo timorense!!! Vem nos jornais!
Quanto à piedosa lenda da bandeira nacional, fdeixêmo-la assim: piedosa e lendária.
O Dr Marcello Caetano era um bom administrativista. Ponto e parágrafo. Foi um político mediocre, fraco e insensato. Não vale a pena citar-lhe quaisquer pérolas de estilo porque ele foi a partir dos anos 30 um dos obreiros e dos mais importantes pilares do Estado Novo, que era velho.
A teoria do indígena coitadinho á mercê de lobos maus por falta do colono bom é, desculpe caro DLM, repelente. Não é verdadeira e nunca o foi. V. deveria de facto ter passado por lá. Viria ainda mais enojado do que eu. E isto garanto-lhe é dizer pouco.
Nunca houve sapiente, paciente ou incipiente, qualquer tentativa de sociedade pluricontinental, plurirracial e pluri seja o que for em Angola. Houve ganância, estupidez, maus tratos, incompetencia e ignorância. E se é verdade que os da UPA fizeram barbaridades (claro que sim, há fotografias) havia de ver o que os restabelecedores da ordem fizeram (também há fotografias) . E foi a própria Igreja católica, sobretudo a partir de 69/70 a Curia Romana, quem recebeu os líderes "rebeldes2, quem apoiou as denúncias dos massacres (Wiriamu, á cabeça), quem desde cedo (sobretudo em Angola) fez parte das movimentações independentistas. Falo da Igereja local e não dos bispos brancos e importados da metrópole. Já estou rouco de aqui contar o que era o rosto das sociedades coloniais onde o branco, qualquer branco, era importante, e qualquer negro era criado. Criado, DLM, criado. Quanto aos mulatos de Angola eles eram mais ou menos detestados como os indianos de Moçambique. Por uns por demasiado escuros, por outros por demasiado claros e feitos com o colonizador.

Não queria terminar este amoargo comentário sem referir que há um par de anos foi para Timor e em força um transbordaador da Madeira carregado de pessdoas angelicamente generosas e pateticamente inocentes de mistura com o senhor general Eanes. Chegados que foram (depois de um mês de navegação, pertp das
aguas territoriais de timor, foram avisados pela marinha indonésia de que teriam de assumir os riscos da entrada nesse território. Agradecidos a este providencial aviso, deitaram umas flores murchas na água, cantaram a portuguesa, rezaram um terço e para trás que se faz tarde! Nem sequer se arriscaram a ser presos! E a causar escandalo internacional. Para trás e depressa. Para a vergonha. Até eu que achava aquilo de um ridiculo atroz, até eu, dizia, me senti mal.

quanto aos actuais aconteecimentos: V. percebe o que se passa? Percebe qual é a posição do senhor Xanana Gusmão? A do senhor Alkatiri? A do senhor Horta? Ó homem ilumine-me que eu estou completamente ás escuras.

C.M. disse...

Pois...eu também sei das ignomínias que os homens ( maus) são capazes de fazer...mas temos de separar o trigo do joio...

Caríssimo MCR, relativamente a esta concreta questão, ao que parece, e segundo o “Público”, o Major timorense Alfredo Reinado, líder do grupo rebelde refugiado nas montanhas à volta de Díli, acusou o primeiro-ministro, Mari Alkatiri, de ter ordenado o ataque ao quartel-general da polícia.

Este último, sintomaticamente, não quis comentar estas acusações…

Parece que os militares, a soldo desse tal Alkatiri, assassinaram um grupo de polícias que estavam desarmados, pois que se tinham rendido…apesar disso, foram chacinados.

Aquele Major ainda acusou as Nações Unidas de serem responsáveis por este massacre, pois permitiram que os polícias se desarmassem e depois permitiram o respectivo ataque…

Parece que na base de tudo isto está uma antiga rivalidade entre estas forças! Imagine-se!

Enquanto isto, os australianos, “gente simpática” que efectivamente liquidou os aborígenes, limitam-se a garantir a segurança do senhor Xanana…


No Público, uma nota esclarecedora da representante de Díli em Lisboa, Pascoela Barreto:

Segundo esta, “trata-se de uma herança da nossa situação: durante a ocupação [indonésia] toda a parte de defesa e segurança estava nas mãos das Falintil", que vieram a dar origem às Falintil-Forças de Defesa de Timor-Leste (F-FDTL). "Depois da independência, os poderes tiveram de ser distribuídos".

“Além de terem de abrir mão de certas competências, as Falintil viram-se ainda na iminência de não serem transformadas em forças armadas. "Os nossos conselheiros internacionais, as Nações Unidas, não estavam de acordo com uma força de defesa e preferiram investir mais na Polícia." Foi esta que recebeu treino, equipamento, dinheiro, não as F-FDTL.”

Daí à (estúpida) rivalidade foi um passo!

Diria o Óbelix: estes romanos são doidos!

"

M.C.R. disse...

Caro DLM Isso é o que os jornais trazem. Também li. Mas tem de haver mais qualquer coisa. E era a essa mais qualquer coisa que eu me referia. Não que uns palermas de uns militares (está-lhes na massa do sangue...) não possam fazer burrices. Mas isto a que se assiste tem já quase duas semanas de combates e emboscadas e não pode ter SÓ razões tão mesquinhas.

C.M. disse...

pois...a não ser que existam outras razões…deveríamos reflectir sobre quem sairá beneficiado pela desagregação do Estado Timorense...a Austrália? O petróleo é uma boa razão…talvez ande ali mãozinha destabilizadora, que confunda certas cabecinhas militares, já de si sempre quentes...e aproveite as rivalidades existentes…