isto tinha de acontecer. O Delfim ficou muito triste por eu não usar a expressão ad usum delphini (para uso do Delfim) numa série. E eu só não o quis usar porque numa determinada altura a expressão indicava que se ensinava ao delfim da França (ao herdeiro do trono, portanto) um par de coisas limando as arestas menos agradáveis. Vai daí a expressão teve a conotação de realidade truncada. Vamos a ver se esta não o vai ser. Morrem no ovo as cartas a Ribeiro Sanches e entra em cena logo com o nº 2 o "ad usum...".
estamos em época de comemorações do nosso 2º aniversário e porque o DLM (sempre ele...nem Fátima o detém) foi dizendo que precisa de guia aqui vai para ele e para todos os que de fora cá estarão nas comemorações este guia do Porto nado em 99 para uns estrangeiros que não sei se perceberam.
estamos em época de comemorações do nosso 2º aniversário e porque o DLM (sempre ele...nem Fátima o detém) foi dizendo que precisa de guia aqui vai para ele e para todos os que de fora cá estarão nas comemorações este guia do Porto nado em 99 para uns estrangeiros que não sei se perceberam.
Porto de mar ou porta da terra?
Eis-nos perante uma cidade que, mesmo antes de a conhecermos, já nos provoca uma serie de perguntas de resposta nem sempre fácil. A começar pelo nome: Porto quererá significar ancoradouro, refúgio contra as iras do mar como normalmente se entenderia? Ou apenas local de passagem (o portus romano) e aquí estaríamos apenas frente a um simples vau do rio Douro, uma passagem mais depois de tantas no longo curso de um dos mais emblemáticos rios da península ibérica? De todo o modo: hoje, o porto do Porto situa-se em Matosinhos.
Para titulo recorreu-se a um jogo de palavras (acessível apenas às línguas neolatinas) que, entretanto, poderá dar uma precisa definição desta cidade: um lugar pelo qual saem as riquezas da terra e aonde chegam, de longe, hábitos cosmopolitas, novidades estrangeiras e gentes de todo o lado. O Porto é a cidade portuguesa que mais cedo estabeleceu relações comerciais com o estrangeiro e aquela que melhor se identifica com uma das nossas principais exportações: o vinho do Porto.
E este é já o segundo paradoxo: trata-se de um vinho cultivado e feito a mais de cem quilómetros de distância que, depois, é conservado, envelhecido e engarrafado na outra margem do rio, noutra cidade!!! Mais: o vinho que tradicionalmente se cultiva e bebe na cidade e sua região tem características absolutamente diferentes.
Mas as surpresas não param aqui. Para quem, vindo do Sul, entra na cidade pela velha ponte de D Luís a primeira visão que tem é a da escarpa da Sé coroada pela catedral e pelo palácio dos bispos. Alí estão aqueles dois imponentes edifícios a anunciar que se chega a uma cidade em que o espiritual teria o primado. Porém nada mais falso: a história do Porto é a história de uma cidade burguesa permanentemente revoltada contra a autoridade eclesiástica aplaudindo o rei quando este chicoteou publicamente o bispo.
Não se pense contudo que o tripeiro persegue a Igreja ou desafia a religião: basta viver aqui a época do Natal para ver como tudo pára, tudo se fecha e as igrejas se enchem.
Os do Porto são piedosos mas não são devotos: celebram os seus santos com comedimento e sobretudo recusam-se a deixá-los sair dos altares. Com uma excepção: no dia de S João os burgueses recatados, os tranquilos trabalhadores e toda a restante população modesta e comedida sai para a rua disposta a dançar, comer e beber até ao fim da madrugada. E mesmo a essa hora ninguém recolhe a casa, antes todos se espalham pelas praias e jardins, homens e mulheres, velhos e novos, ricos e pobres, cansados mas alegres, cúmplices na celebração do solstício de verão com cheiro a pecado. A noite de 23 para 24 de Junho enche-se do perfume da erva cidreira e do mangerico, do passeio passa-se á dança e desta ao beijo e á noite amiga e secreta que protege amores, de um dia ou de sempre, á luz de fogueiras e balões.
S João não é, evidentemente, o padroeiro da cidade. Tal missão está confiada á Virgem a quem todos se encomendam quando o perigo espreita. E o perigo espreitou sempre o Porto. Passagem obrigatória entre norte e sul a cidade foi, vezes e vezes, cercada, invadida e conquistada por exércitos nacionais e estrangeiros, além de ela própria ter sido berço de, pelo menos, duas revoluções. Todavia intitula-se "invicta"! Também se orgulha de ser leal apesar das revoltas que protagonizou contra o poder constituído, local ou nacional e nobre mesmo quando se sabe que, durante séculos, recusou residência por mais de três dias a qualquer senhor!!!
Mais paradoxos? Este último para terminar. Construída em granito a cidade aparece, num primeiro momento, grave e austera como convém a uma terra laboriosa e fabril. Todavia basta passear numa das suas velhas ruas centrais onde as casas escuras ainda conservam as janelas à flor da sacada. Em aparecendo o sol logo uma luz especial refletida por milhares de vidros ilumina a cidade torna o ar mais leve e mais soltos o passo e o coração dos transeuntes. E nesse preciso instante a cidade de mil anos é jovem ri-se e entrega-se a quem chega, trata-o por tu convida-o para a mesa ou para um modesto copo de vinho. O Porto é uma porta aberta: entrem e sintam-se em casa. Em vossa casa!
Para titulo recorreu-se a um jogo de palavras (acessível apenas às línguas neolatinas) que, entretanto, poderá dar uma precisa definição desta cidade: um lugar pelo qual saem as riquezas da terra e aonde chegam, de longe, hábitos cosmopolitas, novidades estrangeiras e gentes de todo o lado. O Porto é a cidade portuguesa que mais cedo estabeleceu relações comerciais com o estrangeiro e aquela que melhor se identifica com uma das nossas principais exportações: o vinho do Porto.
E este é já o segundo paradoxo: trata-se de um vinho cultivado e feito a mais de cem quilómetros de distância que, depois, é conservado, envelhecido e engarrafado na outra margem do rio, noutra cidade!!! Mais: o vinho que tradicionalmente se cultiva e bebe na cidade e sua região tem características absolutamente diferentes.
Mas as surpresas não param aqui. Para quem, vindo do Sul, entra na cidade pela velha ponte de D Luís a primeira visão que tem é a da escarpa da Sé coroada pela catedral e pelo palácio dos bispos. Alí estão aqueles dois imponentes edifícios a anunciar que se chega a uma cidade em que o espiritual teria o primado. Porém nada mais falso: a história do Porto é a história de uma cidade burguesa permanentemente revoltada contra a autoridade eclesiástica aplaudindo o rei quando este chicoteou publicamente o bispo.
Não se pense contudo que o tripeiro persegue a Igreja ou desafia a religião: basta viver aqui a época do Natal para ver como tudo pára, tudo se fecha e as igrejas se enchem.
Os do Porto são piedosos mas não são devotos: celebram os seus santos com comedimento e sobretudo recusam-se a deixá-los sair dos altares. Com uma excepção: no dia de S João os burgueses recatados, os tranquilos trabalhadores e toda a restante população modesta e comedida sai para a rua disposta a dançar, comer e beber até ao fim da madrugada. E mesmo a essa hora ninguém recolhe a casa, antes todos se espalham pelas praias e jardins, homens e mulheres, velhos e novos, ricos e pobres, cansados mas alegres, cúmplices na celebração do solstício de verão com cheiro a pecado. A noite de 23 para 24 de Junho enche-se do perfume da erva cidreira e do mangerico, do passeio passa-se á dança e desta ao beijo e á noite amiga e secreta que protege amores, de um dia ou de sempre, á luz de fogueiras e balões.
S João não é, evidentemente, o padroeiro da cidade. Tal missão está confiada á Virgem a quem todos se encomendam quando o perigo espreita. E o perigo espreitou sempre o Porto. Passagem obrigatória entre norte e sul a cidade foi, vezes e vezes, cercada, invadida e conquistada por exércitos nacionais e estrangeiros, além de ela própria ter sido berço de, pelo menos, duas revoluções. Todavia intitula-se "invicta"! Também se orgulha de ser leal apesar das revoltas que protagonizou contra o poder constituído, local ou nacional e nobre mesmo quando se sabe que, durante séculos, recusou residência por mais de três dias a qualquer senhor!!!
Mais paradoxos? Este último para terminar. Construída em granito a cidade aparece, num primeiro momento, grave e austera como convém a uma terra laboriosa e fabril. Todavia basta passear numa das suas velhas ruas centrais onde as casas escuras ainda conservam as janelas à flor da sacada. Em aparecendo o sol logo uma luz especial refletida por milhares de vidros ilumina a cidade torna o ar mais leve e mais soltos o passo e o coração dos transeuntes. E nesse preciso instante a cidade de mil anos é jovem ri-se e entrega-se a quem chega, trata-o por tu convida-o para a mesa ou para um modesto copo de vinho. O Porto é uma porta aberta: entrem e sintam-se em casa. Em vossa casa!
2 comentários:
QUE HONRA!!!
Amigo Marcelo: adorei o seu postal. E é uma verdadeira honra para mim o título que lhe deu! Pois se eu só tenho a aprender consigo!
Como é que adivinhou que eu fiquei com pena de Vexa não ter colocado este título no seu postal de Ribeiro Sanches?...Para além de laico, ai que ele é adivinho...
Adorei a sua escrita: é um belo retrato do Porto, cidade pela qual tenho, aliás, uma grande paixão.
Há muitos anos perguntei à minha mulher: olha lá, e se fizéssemos vida no Porto? Nessa altura não tínhamos grandes amarras aqui em Lisboa...a não ser ela...e como a minha dona tinha feito o seu estágio profissional aí na Comarca...onde conheceu uns Magistrados como se calhar já não há...daqueles assim à antiga...está a ver? Ai o que eu fui dizer...espero que os "novos" não me caiam em cima...bem, adiante: Que não, que não podia ir, pois os pais estavam cá...pronto, ficámos em Lisboa, onde temos hoje o nosso círculo de amigos. Mas parece-me que estão a nascer novos amigos mais ao Norte...
E o meu amigo, deixe que lhe diga, para laico, sabe mais das coisas religiosas do que eu...Ora bem...com laicos destes, São Pedro não diz que não...
mas eu não digo que sim...
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