A liberdade está a passar por aqui
1. Numa noite célebre da televisão francesa, um homem livre e desassombrado, chamado Maurice Clavel, abandona o plateau quando verifica que lhe tinham suprimido um pedaço de uma reportagem. E já da porta lança uma despedida formidável: Messieurs les Censeurs, bon soir!
2 recordo esta historieta de 70 ou 71 para falar de algo bem mais perto e bem mais feio: Um brilhante escritor alemão, Peter Handke, escreveu há uns anos uma peça que foi considerada digna de encenar por um grande teatro francês. E por isso mesmo foi programada para 2007, foram escolhidos os actores e o encenador.
3 Por razões que nada têm a ver com o texto da obra, com as suas intrínsecas qualidades literárias (e são muitas) foi há dias “desprogramada”. Ou seja, como trabalho destinado ao palco, foi pura e simplesmente executada, condenada a não sentir a respiração do público. Que se passou? Passou-se que Handke é politicamente incorrecto. Handke defendeu os sérvios nos conflitos dos Balkans. Handke não correu a embandeirar em arco ao lado dos sequazes de Tudjman o croata, vagamente ustachi ou de Izbegovitch o bósnio chefe dos mártires de Alá. Handke levou o seu despudor ao ponto de assistir ao enterro de Milosevic. Um horror!
4 Claro que as leitoras mais avisadas se perguntarão que destino terão as obras do fascista, colaboracionista e anti judeu Destouches, que assinava Céline. Andarão por aí clandestinas? Desapareceram na fogueira das depurações post libertação? Acaso um livreiro mais rigoroso deixou de as vender? E os Cantos de Pound? Ainda há disso? Ou estarão eles também, como o seu autor, dentro de uma jaula, sujeitos ao gáudio das multidões maccartistas?
5 O mundo, algum mundo, indignou-se quando os nazis condenaram ao fogo os livros de Mann, Benjamin, Zweig, Seghers ou Kästner (esse mesmo, o do Emílio e os Detectives). Nessa altura, uns quantos, já todos mortos, enterrados e felizmente esquecidos, vieram proclamar a infâmia absoluta da censura, da perseguição por motivos políticos, da condenação huxleyana à não existência.
Agora em pleno seculo XXI um director de um grande teatro francês, doublé de polícia do pensamento condena Handke?
6 A mim só me espanta é a tepidez das reacções. Então as pessoas não percebem que hoje vai o Handke, como ontem poderia ter ido o Coeetze ou amanhã a Elfriede Jelinnek? As pessoas não entendem que a censura pidesca do directorzeco francês, priva o público de um direito que nada tem a ver com a defesa do bom nome das vítimas de Milosevic? E mais: será que alguém se deu ao cuidado de saber exactamente o que fez, ou disse Handke na Sérvia? E mesmo que ele tenha, por hipótese considerado Milosevic um grande homem, isso tem algo a ver com as suas peças, os filmes em que colaborou, os livros que escreveu.? Alguém deixa de ler Heidegger o filosofo nazi? Ou Cholokov, esse Nobel, que nunca levantou um dedo para condenar Stalin?
Senhores censores e respectivos admiradores, acompanhantes e desculpantes, boa noite!
Os leitores terão reparado que num texto um pouco mais abaixo, ad usum delphini nº3, acabo por falar de coisas bem semelhantes. não sou eu que me repito são os polícias do pensamento que não nos largam as canelas. P.Q.P.!!!
2 recordo esta historieta de 70 ou 71 para falar de algo bem mais perto e bem mais feio: Um brilhante escritor alemão, Peter Handke, escreveu há uns anos uma peça que foi considerada digna de encenar por um grande teatro francês. E por isso mesmo foi programada para 2007, foram escolhidos os actores e o encenador.
3 Por razões que nada têm a ver com o texto da obra, com as suas intrínsecas qualidades literárias (e são muitas) foi há dias “desprogramada”. Ou seja, como trabalho destinado ao palco, foi pura e simplesmente executada, condenada a não sentir a respiração do público. Que se passou? Passou-se que Handke é politicamente incorrecto. Handke defendeu os sérvios nos conflitos dos Balkans. Handke não correu a embandeirar em arco ao lado dos sequazes de Tudjman o croata, vagamente ustachi ou de Izbegovitch o bósnio chefe dos mártires de Alá. Handke levou o seu despudor ao ponto de assistir ao enterro de Milosevic. Um horror!
4 Claro que as leitoras mais avisadas se perguntarão que destino terão as obras do fascista, colaboracionista e anti judeu Destouches, que assinava Céline. Andarão por aí clandestinas? Desapareceram na fogueira das depurações post libertação? Acaso um livreiro mais rigoroso deixou de as vender? E os Cantos de Pound? Ainda há disso? Ou estarão eles também, como o seu autor, dentro de uma jaula, sujeitos ao gáudio das multidões maccartistas?
5 O mundo, algum mundo, indignou-se quando os nazis condenaram ao fogo os livros de Mann, Benjamin, Zweig, Seghers ou Kästner (esse mesmo, o do Emílio e os Detectives). Nessa altura, uns quantos, já todos mortos, enterrados e felizmente esquecidos, vieram proclamar a infâmia absoluta da censura, da perseguição por motivos políticos, da condenação huxleyana à não existência.
Agora em pleno seculo XXI um director de um grande teatro francês, doublé de polícia do pensamento condena Handke?
6 A mim só me espanta é a tepidez das reacções. Então as pessoas não percebem que hoje vai o Handke, como ontem poderia ter ido o Coeetze ou amanhã a Elfriede Jelinnek? As pessoas não entendem que a censura pidesca do directorzeco francês, priva o público de um direito que nada tem a ver com a defesa do bom nome das vítimas de Milosevic? E mais: será que alguém se deu ao cuidado de saber exactamente o que fez, ou disse Handke na Sérvia? E mesmo que ele tenha, por hipótese considerado Milosevic um grande homem, isso tem algo a ver com as suas peças, os filmes em que colaborou, os livros que escreveu.? Alguém deixa de ler Heidegger o filosofo nazi? Ou Cholokov, esse Nobel, que nunca levantou um dedo para condenar Stalin?
Senhores censores e respectivos admiradores, acompanhantes e desculpantes, boa noite!
Os leitores terão reparado que num texto um pouco mais abaixo, ad usum delphini nº3, acabo por falar de coisas bem semelhantes. não sou eu que me repito são os polícias do pensamento que não nos largam as canelas. P.Q.P.!!!
7 comentários:
Como diria Léo Ferré,
"Ils ont un drapeau noir
En berne sur l'Espoir
Et la mélancolie
Pour traîner dans la vie
Des couteaux pour trancher
Le pain de l'Amitié
Et des armes rouillées
Pour ne pas oublier
Qu'y'en a pas un sur cent et pourtant ils existent
Et qu'ils se tiennent bien le bras dessus bras dessous
Joyeux, et c'est pour ça qu'ils sont toujours debout
Les anarchistes"
Dão-se alvíssaras, a qum os encontrar,para que ajudem a desalojar (do poder) todos estes raquíticos do pensamento politicamente correcto...
Tem o meu apoio MCR!
Abraço,
Silvia
Afinal, o que se passa, que eu ainda não percebi?
como vê Carteiro, parece que se está a formar uma união contra-natura contra o "pensamento politicamente correcto", ou seja um monárquico conservador e um esquerdista anarqueirão estão fartos de ver o pensamento debilóide a triunfar (disse debilóide e não débil, não vá algum partidário de Vatimo meter-se ao caminho...).
É que estou farto de ver toda a gente com medo de exprimir opiniões (não falo desta casa, mas do geral) e esta história da perseguição ao Peter Handke fez-me saltar a tampa. já V. há tempos o dizia: querem fazer voltar a censura. Porra!
Perdão, que me enganei; aqui vai, portanto:
CONFIRMO, PORRA!!
Caro Amigo Coutinho Ribeiro: tenho sentido a falta de Vexa...
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