30 junho 2006

Manhã de domingo


A manhã nublada do domingo e suas ruas quietas. A casa descansa um descanso que não é meu. Azaléas caladas na varanda, um latido ao longe, a obra na rua parada ao meio. Tudo parece ainda no resto de sono matinal.


Olho detalhadamente as coisas - casa, rua, jardim, árvores, varanda, montanhas ao longe, cão perambulando - à procura do reconforto da visão pacífica de tudo. Sorrio da minha própria ingenuidade. Pacíficas as coisas, inquieta a pessoa. Não me movo, distendendo o entendimento da inevitabilidade dos fatos. Ainda assim sem paz. Ainda assim pergunto sempre.
Jazer ali, talvez, feito coisa, apenas um objeto impensante a mais na natureza passageira de tudo.


Ou feito gato que vai passando em passos lentos; esguio, todo atenção. Essa atenção esquiva, própria, enigmática, que não pergunta, mas tem propósitos. Jazer, nem um pensamento a atormentar-me com porquês.

Reunir-me à buganvília , toda silêncio e espinhos, a usufruir o sol.
E nem uma palavra.



Silvia Chueire

3 comentários:

C.M. disse...

O Domingo assume uma evidência estruturante e identitária na vida de todos nós.

É o dia por excelência do repouso, onde concentramos a densidade do nosso ser, que repousa das fadigas do dia-a-dia.

Actualmente, razões de carácter sociológico, económico, laboral e outras, dificultam a vivência plena do Domingo, espaço privilegiado de convívio e reflexão interior.

Como diz a Sílvia, passemos o Domingo em silêncio (o silêncio é de oiro...) a usufruir do Sol!

M.C.R. disse...

Quando era rapaz novo e tolo costumava dizer que o domingo era para amadores. assim como a noite de sábado (naquele tempo praticavamos muito a noite até altas, altíssimas horas). Com o passar dos anos a noite foi rareando, ou pelo menos a noite fora de casa. Não há pachorra para os bandos de jovens que invadem os bares sossegados que ainda resistem. O mesmo se passa um pouco com o domingo. De manhã ainda consigo ir até uma explanada diante do mar (tentando dali avistar a sílvia no Brasil...) mas á tarde torna-se impossível sair de casa e cair no meio de um vai-vem de carros que andam por aí a gastar gazolina e a entupir o ar já pouco saudavel da cidade. Nesses dias fecho-me em casa e reinvento prazeres simples: ler, jogar bridge, escrever aos amigos...

Isto dito, para seguir na esteira do caro DLM "das cinco chagas", gostaria de dizer que a prosa da Sílvia não teme comparação com os seus versos. Ou se calhar até os ultrapassa.
Boa malha, Sílvia.

Silvia Chueire disse...

Aos dois amigos agradeço as palavras. Muito.

Um abraço grande,
Silvia

ps: esperando que ao olhar o horizonte no mar ( o que sempre faço ), vê-lo aí, MCR, na esplanada, com as mãos protegendo os olhos voltados para cá. : )