06 julho 2006

País meu, adiado, mas meu, mesmo se...

1. Nhurro país que nunca se dezdiz.

2. jornal "Abc" (conservador, Madrid) : resultado justo e trabalhado...ainda que sem muito brilho...os franceses anularam o jogo do seu rival.

3. A Santa Paciência, país, a tua padroeira,
já perde a paciência à nossa cabeceira.

4. jornal "El País" (Madrid, centro esquerda). o dianteiro entrava na área e Ricardo Carvalho cometia um penalty...
os portugueses perderam-se em lutas individuais que nunca conseguiram superar o sólido muro defensivo e a pressão zonal de Domenech.

5. O incrível país de minha tia
trémulo de bondade e aletria.

6. jornal "El mundo" (Madrid, centro direita) o jovem Cristiano seria um verdadeiro tubarão se levantasse a cabeça. converteu-se em fútil por excesso de condução e por não ter clara a última opção...
o penalty foi um dos poucos erros de Ricardo neste mundial...
na 2ª parte a França dedicou-se... à destruição sistematica até conseguir desesperar a tropa do "sargento" Scolari, Portugal com pouca inventiva tentou o heroísmi mas o perfeito sistema de cobertura impediu-o por terra e por ar seguindo o manual defensivo de Domenech.

7. Entricheiram-se hostis, os mil narizes
que há neste país.

8. jornal "La Repubblica" (centro esquerda, Itália): Portugal mostrou-se demasiado previsível pagando a ausencia de um verdadeiro artilheiro...lança os seus melhores jogadores que não conseguiram inventar nada...A França contola a situação sem problemas...

9. Moroso país da surda cólera,
do repente que se quer feliz.

10. jornal "La Stampa" (centro direita, Itália) : falta de Ricardo Carvalho sobre Henry... A França em quadrado e vigilante obriga Portugal a reinventar um jogo para o qual não tem os triunfos...O problema histórico dos portugueses, depois de Eusébio, é a falta de um artilheiro.

11. País pobrete e nada alegrete
baú fechado com um aloquete,
que entre dois sudários não contém senão
a triste maça do coração.

12. jornal "Corriere della Sera" (Itália, centro): ...esforços vãos (de Portugal).

13. Estrela trepa trepa pelo vento fagueiro
e ao país que te espreita, vê la se o vês inteiro.

14. jornal "Tribune de Genéve" (Suiça): os franceses limitaram-se a prestar o que se pode chamar "serviços mínimos"... Portugal nada pode fazer... o dribble de Henry oobrigou Ricardo á falta.

15. País por conhecer, por escrever, por ler...

16. jornal "Público" (Portugal): um penalty que o foi. Portugal desinspirado...

16. de ramona, país, que de viagens
tens, tão contrafeito...

e a concluir: este meu país que viaja de terceira, que arrenega do manda-chuva, que abre a casa ao estranjeiro, que canta por entre as grades da cela, que cospe para o ar, que oferece generoso meia sardinha e um gole de tinto, que, alentejano, se enforca de tristeza, que é continuamente enganado por quem lhe oferece bandeiras em vez de pão, rosas em vez de peixe, e futebol em vez de trabalho, merecia a verdade, toda a verdade, nada mais do que a verdade. E não lhe acenem com conspirações e injustiças! A verdade. A santa Verdade!

os textos a azul pertencem a Alexandre O' Neil e fazem do parte do longo (e genial) poema País Relativo (Feira cabisbaixa, 1965). O texto a verde faz parte de uma variação sobre um poema de O' Neil e é de Manuel Heinzelmann.

24 comentários:

josé disse...

Genial, também, é este pequeno texto. Tá bem...direi magnífico. Porque o é.

C.M. disse...

A verdade, Marcelo Ribeiro, é bem mais complexa. Como disse Scolari, Portugal “era o patinho feio deste Mundial, tinha de ir embora. É a arbitragem sul americana que conhecemos, que sabe matar o jogo. Se existe vergonha para a América do Sul é este árbitro”.

Como afirma a Leonor Pinhão, no Jornal "A Bola" de hoje, "se aquilo do Ricardo Carvalho sobre o Henry é falta para grande penalidade, então também aquele voo um bocado tangoso do Cristiano Ronaldo, na área francesa, depois de um encostozinho do Sagnol, também é. Mas o (árbitro) uruguaio achou que não."


A verdade é esta: Os grandes interesses económicos, que residem lá bem no meio da Europa, e que estão por detrás da “compra” do árbitro são fáceis de “ver”: Portugal é um País periférico, com um mercado pequeno, o que não interessa àqueles. O País que ganhar o Mundial, tirará desse facto grandes dividendos económicos.

Para não falar da questão do chauvinismo..


Como costumo dizer, não há maior cego que aquele que não quer ver...

Ou, como diria Sherlock Holmes, “elementar, meu caro Watson”.

M.C.R. disse...

V. desculpará mas a cegueira é da dita senhora Pinhão e é Sua. Eu tive o maior cuidado em apenas citar jornais de Espanha (derrotada pela França), da Suiça (drrotada pela França) e da Itália (que quer derrotar a França).
Se V. conhecesse a lista dos campeões mundiais e dos finalistas e semi finalistas veria várias coisas todas objectivas:
1, há uma série de campeonatos ganhos por latino americanos que na altura nem sequer eram países semi-desenvolvidos.
2 O futebol joga-se praticamente na Europa e América Latina (os futebois africano e asiático só agora aparecem - este "agora" tem 10/15 anos)
3 A história do futebol tem registado diferentes épocas de predomínio (começando pela Inglaterra, sua pátria) até hoje. Houve um futebol húngaro (saudosos Puskas, Koksis & cia). houve um futebol italiano, outro espanhol. A França só ganhou 2 campeonatos e a Alemanha outros tantos. Dado que os EUA não contam onde é que estão os grandes interesses?
4. O senhor Scolari tem mau perder além de outras conhecidas indelicadezas de que ontem deu mostra generosa, desde falar de conspiração uruguaia(!!!) contra ele (mas quem se julga este pateta?) até um gesto feio (que espero seja castigado pela FIFA) para Domenech.
5 A mim (d'Oliveira) o que me doi é este mau perder patrioteiro, este constante desconhecimento do que somos, do que é o nosso futebol, os nossos jogadores produto de exportação (como os brasileiros) os nossos clubes trapaceiros e mais um par de coisas que representam infelizmente tudo o que não deveríamos ser e tudo o que temos de perder para podermos ser enfim portugueses e europeus. Portugueses e Europeus!, repito.
6 Num país onde a vida não corre bem, que está a perder o comboio do desenvolvimento, que regista crescente taxa de desemprego, que aumenta a sua distância até em relação à Grécia (que há cinquenta anos saía devastada de uma guerra mundial e de outra logo a seguir civil...,) tentar com quatro chutos a uma baliza aumentar a auto-estima parece-me uma blasfémia ou um truque de baixa política.

Esta é que é a verdade. O resto como Eça dizia ao pobre Pinheiro Chagas é o deslavado amor ao torrãozinho de açúcar.
Para terminar: há tempos escrevi aqui um postal no meu diario político, com o título "A bola mata-nos" que descrevia a vergonha da última partida contra a França em campeonato onde, em cinco minutos, estragámos um percurso de bom futebol e de civilidade. Tudo pelo mesmo motivo; um penalty justo e um protesto tolo.
Mais recentemente outro contributor dizia aqui que esperava não voltar a ver o repelente espetáculo que se seguiu ao final do último campeonato europeu de futebol. As festejadas bandeiras nacionais continuaram um pouco por todo lado penduradas em varandas, esquecidas e maltratadas, sujas e mortas, "na melhor das hipóteses como panos na pior como trapos" (sic). A ver vamos, desta vez...

d'Oliveira

jcp (José Carlos Pereira) disse...

Espectador atento e frequentador habitual do "mundo da bola", também não subscrevo as teses conspiracionistas. Perdemos com a França porque nada fizemos para ganhar a partida. Tivemos pela frente, pela primeira vez no Mundial, uma equipa melhor que a nossa e perdemos, ponto final.
Afinal, qual foi o grande jogo da nossa selecção neste Mundial?

O meu olhar disse...

Caro d’Oliveira,
As citações são como a estatísticas, podemos recolhe-las ou utiliza-as à medida das nossas convicções. No seu caso o que lhe posso dizer é que gostei muito da construção do texto. Excelente. Quanto ao conteúdo, não estaremos tão de acordo.

O povo diz e eu concordo “ nem tanto ao mar nem tanto à terra”. Não vou pela teoria da conspiração mas não chamaria a Scolari pateta por o afirmar. Do meu ponto de vista, de pateta Scolari não tem nada. Considero que fez um bom trabalho. Considero que a nossa equipa fez um bom trabalho no Europeu e no Mundial. Teve resultados excelentes, certamente superiores às expectativas da maioria dos portugueses no início do campeonato do mundo. Estou orgulhosa da nossa equipa, não pelas exibições mas sobretudo pelos resultados. Ao nível das exibições, tirando honradas excepções, nenhum país me parece que esteja muito orgulhoso.

Vivi com intensidade o percurso da nossa selecção, fiz deste campeonato uma festa. Acho que todos temos direito à festa, à alegria ( e também à tristeza) que o campeonato nos trouxe. Ou será que apenas os países com um PIB decente podem festejar em paz? Os outros, como nós, ditos “pobres” portugueses, têm que sofrer a crise e ainda por cima não podem vibrar com vitórias porque isso é sinal que as suas emoções estão a ser usadas?

Claro que compreendo esse ponto de vista e é evidente que há aproveitamentos políticos ( e não só) de tudo isto, mas a realidade não se resume a isso e ficar por aí reforça o eterno complexo de inferioridade português.

Hoje ouvi na rádio que um jornal francês pediu uma estátua para Zidane já. Em qualquer lugar de França, mas já. O meu pensamento imediato foi: se isto fosse em Portugal era imediatamente apelidado de provincianismo português, coisa de terceiro mundo e por aí fora. Como é em França é mais uma notícia e talvez seja visto como fruto do merecido orgulho francês.

Não são os resultados do campeonato do mundo que me vão fazer esquecer os problemas nacionais até porque vivemos com eles todos os dias. Mas o campeonato do mundo trouxe-me muitas alegrias e orgulho. E isso é bom.
Aumentou a auto estima nacional? Ainda bem. Apareçam mais motivos que todos agradecemos.

M.C.R. disse...

Cara "o meu olhar"

Eu não aproveitei manhosamente qualquer texto de jornal. Resumi. Só. Se assim não fosse estaria a ser intelectualmente desonesto e não vou a essa missa.

Também não fiz o papel de carrasco da selecção. Deixo isso para os que a irão crucificar, o que se calhar, não tardará. E não sou nada dado a radicalismos infantis, antes, como decerto sabe porque me lê, faço o possível por dizer o que penso e temperar o vinho quente e meridional a que não renuncio com alguma água limpa, como antes se fazia, sobretudo ao almoço para não perder a tarde.
Pessoalmente, e por uma única vez, direi que Figo foi outra vez uma revelação de sacrifício de dedicação de construção de jogo, de entusiasmo e até (passe uma que outra explosão ) de civilidade. Mas vai-se embora...
o senhor Scolari não é estúpido nem eu disse isso. É pateta porque pensa que a história do marreco feio tem curso legal em que vê tão desapaixonadamente quanto lhe é possível os jogos da equipa. E no jogo com a França portou-se ainda pior do que no jogo com a Holanda. Se tivesse dito: perdemos porque não se conseguiu encontrar meios de furar oa defesa francesa, o que é de uma verdade gritante, nninguém diria nada. Se não fizesse o teatro que fez no banco eu nada diria. Não sou, como muitos, um incondicional adversário do treinador nem me preocupa o facto de ter escolhido estes e não outros jogadores. O homem escolheu uma equipa e durante bastante tempo terá tido argumentos convincentes para isso. O facto de não ter ido buscar outros jogadores é irrelevante pelo menos para mim. Mas faça o favor de se lembrar do que se disse depois do primeiro jogo. As pessoas gostaram de ganhar mas não acreditavam muito em chegar tão longe. Tanto mais que não se fazia o jogo bonito do mundial da mão de Xavier como não se fez nada que fosse semelhaante ao europeu, Mas ganhava-se e isso tapa a boca a muito crítico. Dir-lhe-ei que não fiquei demasiadamente entusiasmado com os outros jogos: houve eficácia mas não houve beleza exaltante. Aliás a França ou a Itália também não têm feito um jogo que me encha as medidas, antes pelo contrário, mas isso é outra música.Os de lá que o digam.
V está orgulhosa "não tanto pelas exibições mas antes pelos resultados". Eu, que cada vez menos ligo ao futebol, discordo: uma boa exibição é algo que me reconforta: se o futebol não for beleza de jogo torna-se uma coisa chatissimamente profissional, muito italiana que (com poucas excepções) mostrou eficácia sem sonho nem grandeza.
E curiosamente o jornal Le Monde (porventura entusiasmado pela vitória foi o único (que li) que fala de um futebol português bonito!!!...
E vai-me novamente desculpar: este género de festa e tristeza, este banho escocês, para mim tem pouca graça porque a depressão anterior volta com redobrada força. O que eu hoje já ouvi por aí até me arrepia. Desde a negação do penalty, a inexistente falta sobre Cristiano (estou agora mesmo a ver isso em repetição, já é preciso coincidência!) até à conspiração é um cúmulo de sinais de mau perder que dói. É pungente. Foi por isso que entendi chamar à baila esse extraordinário poeta tão visceralmente português que se chamou Alexandre O Neil. Fazemos, ele e eu (sem querer excluir quem quer que seja) parte de uma geração que não gosta de ver o país adiado. Ou como ele belamente intitulava um livro (dele) editado em Itália: Portogallo mio rimorso. E meu, e meu...
receba um abraço deste seu d'Oliveira
O citado documentário a que já me referi sobre o jogo mostra agora rapazes e raparigas da banlieue francesa, isto é árabes e negros: estão a dizer que gostam de ir á final mas que não será isso que melhorará a vida nos seus subúrbios ou as suas perspectivas de futuro. Orgulhosos e sensatos, ora aqui está.

C.M. disse...

Cara " o meu olhar" : "tirou-me as palavras da boca" - subscrevo inteiramente a sua posição. Creio, consigo, que apesar de "pobres" temos " direito à festa, à alegria ( e também à tristeza) que o campeonato nos trouxe". Penso eu de que, diria o Pinto da Costa...

o sibilo da serpente disse...

Como sabem, eu nunca fui muito dado à filosofia. A não ser à minha pobre filosofia, que se resume a dizer umas coisas que penso. E, então, quando se fala de futebol, a minha filosofia é mesmo muito má. Factos: eu fiquei triste com a derrota; eu não sei bem se houve penálti de Ricardo Carvalho, como não sei se não houve sobre Cristiano Ronaldo; não me parece que Portugal tenha feito um grande jogo; parece-me que a França também não; eu andava entusiasmado com a selecção; fiquei abalado com a eliminação; não sei se havia má vontade contra Portugal; não sei se houve roubo e se o roubo foi deliberado, por sermos um país pequeno e não dar muito jeito uma final com um país pequeno.

O que sei: teria sido boa esta vitória e a vitória que viesse a seguir. Precisamos de um clique, de um clique que vá até ao climax. Não sei até que ponto nos fará bem, mas mal não nos fará.

Se fôssemos campeões do mundo, andaríamos por aí uns meses congratulados com a nossa vitória. Só poderia fazer-nos bem. Como ficamos por aqui, vamos andar uns meses a discutir se foi por causa disto ou daquilo. A discutir o acessório. Sem chegarmos a consenso. E a lado nenhum.

C.M. disse...

Pois é...as posições, neste nosso pequeno País, são sempre extremadas em tudo: é na Política, é na Fé, é até nas “pequenas coisas” como o futebol…

Deve ser trauma…

Sem querer assumir um tom que poderia soar a “pedagógico”, creio que uma certa “intelectualidade” habituou-se a dizer sempre mal de tudo o que é português. Apenas por hábito, estão a ver?...

Não faria mal nenhum defendermos o que é nosso, pois se estivermos à espera que os “amigos” europeus digam bem de nós, ou nos ajudem…adeus minhas encomendas!

Nas pequenas coisas se deve fazer progressos. Até nessa coisinha chamada futebol. Viram como o povo português vibra com a noção de Pátria, Nação, como choram a ouvir o hino nacional? Afinal de contas, são oitocentos anos de História! Isto não é nenhuma “tabanca”!
Devemos defender sempre o nosso País, em tudo, até nos aspectos mais comezinhos, para que este se afirme como um todo coeso e vir a ser, um dia, uma vez mais respeitado nessa trsite Europa dos tecnocráticos!

C.M. disse...

Olhe, madame, em democracia todos temos direito à nossa própria opinião, a não ser que a madame considere que haja apenas uma opinião colectiva, esta sim válida…


Quanto aos 3 f’s, parece que a incomodam ainda hoje, não é madame? Isso mostra o seu entendimento da democracia…deve ser um entendimento de democracia totalitária… Mas será que os seus concidadãos não têm direito à liberdade de escolha? Não é isso a democracia? Olhe, parece-me que a madame é que vive ainda numa redoma de mentalidade bafienta: veja que se esconde por trás de um completo anonimato; assim é fácil criticar, não é verdade? Afinal, a madame tem medo de alguma coisa nesta sociedade democrática? Tem medo de ir presa pela liberdade de opinião? Então porque se esconde? Bem prega frei tomáz…


N´´os aqui podemos discordar todos ns dos outros, por vezes parece que nos mordemos, mas isso é o uso da liberdade a que temos direito...independentemente das opiniões expressas. Madame: aqui não há boas ou más opiniões: há opiniões, certo?

M.C.R. disse...

Isto não é nenhuma "tabanca"? A tabanca é algo de horrível, uma latrina, um alcouce, um bidonville eterno, onde os condenados da terra amargam os pecados de ter nascido pretos?
Ou a tabanca é tão só a cristalização de um modo de organização social como o foi a tribu, o clã, o lugar e aldeia quando existiram? Então os homens não nascem todos iguais, de uma mãe e de um pai, com ou sem sopro divino, consoante se é teísta ou materialista?
O poeta (e meu amigo) Manuel Alegre que decerto não pertence á famigerada intelectualidade malsã que conspira conta a pátria das quinas, não chora com a Portuguesa (hino republicano e maçónico por sinal) não veio dizer, alto e bom som, que a equipa portuguesa representava os pobres, os periféricos, os derrotados pelo capitalismo, os puros, etc, etc...?
E esses quem são? Os da cidade capital do ex-império ou os da cintura não rica do mundo ocidental? Os da favela brasileira ou do bairro de Copacabana? os da elite bonairense ou os tipo "pibe" Maradona?
O professor Rebelo de Sousa, sempre tão animoso, e agora tão caxecol verde-rubro não é um intelectual que dá pazada (e de que maneira) em boa parte dos tiques nacionais? É intelectual no defeso dofutebol e português dos quatro costados logo que soa o apito do ártbitro?
O Professor Eduardo Lourenço não pertence também ele (e de que maneira!!!) à tal intelectualidade que posterga o Portugal de hoje (e boa parte do de ontem para os cafundós de um atraso histórico cultural pejado de trevas e tiques?
E no entanto não veio dizer, ele também, que Portugal ja ganhara tudo e por isso a derrota agora seria apenas moral?
Mas ser intelectual (isto é não braçal, não sujeito a um trabalho repetitivo, alienante e coisificante) é pecado? Eça o que era? E o dr joão das Regras, primeiro constitucionalista português? E Garcia da Horta, João de Barros (o das Décadas que muito poucos lêem, Pacheco Pereira, o da Índia, claro ( e parece que antepassado directo deste outro...)? E Pedro Hispano, papa, único e português ou S. joão de Brito ou o Cavaleiro de Oliveira? E o padre António Vieira (o defensor das "tabancas" dos indios brasileiros, era o quê? Estiveram estes e tantos outros (Afonso de Albuquerque para não ir mais longe) de acordo com o pensamento politicamente correcto do seu tempo?
E já agora: porque é que o caxecol, o choradinho diante da Portuguesa (que já poucos sabem de cor) o amor á bandeira que se esquece na janela ao pó e aos dejectos dos passarinhos e dos passarões, são tão bons e o querer um país moderno, próspero, culto e livre é mau ou pelo menos olhado com suspicácia só porque vem dizer que há mais país alem de Genselkirchen (que é na Alemanha...), que o prazer de ser e sentir-se português não passa obrigatoriamente pelo futebol, pelo fado e por mais um par de coisas?
Um cavalheiro russo e embalsamado, que de nascença se Vladimir Ilicht Ulianov, disse uma vez uma coisa (que pouco ou nada respeitou, o que não estraga a qualidade do dito): A verdade é sempre revolucionária. E é, olá se é. E só faz bem mesmo quando doi. Como as injeções.

Quem esta escreve viu de perto muita tabanca. Na Guiné, para ser mais preciso... E muito habitante dela a lutar por uma bandeira verde e vermelha. E vê esses mesmos homens serem pestíferos no seu recente país e e humilhados no que defenderam. Se calhar por serem de tabancas...

PS que não tem nada a ver com isto: se alguém em França entende levantar uma estátua a Zidane, a exemplo do que acontece cá (e muito justamente) com a estátua de Eusébio, na Luz tem desde já o meu apoio mesmo que decerto não necessite dele: Zidane, o "beur" do bairro problemático de Marselha, fez mais pela integração dos cidadãos magrebinos em França do que cinco presidentes franceses juntos. Como Montand pelos italianos (e Platini) ou Catherine Ribeiro pelos portugueses emigrados. Por alguma razão toda a imprensa francesa chama à sua equipa "black, beur, blanc" (há também a variante blanc, beur bleu). E por alguma razão um esgoto moral chamado Le Pen ataca a mesmíssima equipa. Ou melhor: pela razão exactamente contrária.
D'Oliveira

M.C.R. disse...

Este texto começou a ser escrito às 09:30. O último comentário estava assinado pelo excelente Carteiro. Todavia uma chamada telefónica de um senhor jornalista que nos lê interrompeu-o e quando foi para o éter já havia mais dois comentários: um da nossa contributor Madame Min e outro do nosso contributor dr Cabral Mendes. Eu mesmo falei de dois efes só porque só esses me interessavam. Acontece que, e não será o dr Cabral Mendes que me contraditará que o 3º F (de Fátima) foi usado e glosado a outrance para o bem e para o mal. Isto é: não está em causa a pessoa que peregrina que reza que crê. Está em causa o malsão uso político de Fátima que permitiu tudo: desde um exercito para a conversão da Rússia bolchevista, até a um patusco jornal de extrema direita que se intitulava "O Cavaleiro da Imaculada". esta publicaçâo de duvidoso valor moral ou teológico, entreteve-se durante uns anos a exercer de alcoviteira da PIDE e a denunciar pessoas que não respeitavam Deus a Pátria e Autoridade,
Quando alguém se refere a isso, é a isso que se refere. quando se fala de Inquisição fala-se dum crime que nada tem a ver com os Evangelhos. quando se fala de intolerância muçulmana não se fal do Corão, livro aliás magnífico. quando se fal de castas ou de racismo não se atancam os fundamentos da religião hindu mas tão só o uso e abuso político que na India se pratica.
Neste blog há pessoa que assinam com o seu nome e pessoas (identificadas junto dos bloguistas seus colegas) com pseudónimo como é o meu caso. Aqui sou d'Oliveira e por d'Oliveira quero ser tratado,. Nem que só fosse por amor da árvore, do Carlos de Oliveira ou do Cavaleiro. É o meu direito e não quero que o desrespeitem. Também há um Anto, uma "o meu olhar" ou um "contraverso". E havia o meu "compadre Esteves" amigo de há muitos anos.
Espero que entretanto não tenha aparecido mais algum comentário que torne este inútil.

O meu olhar disse...

Caro d’Oliveira,
Li os seus comentários e o que gostaria de lhe dizer é que subscrevo tudo o que defendeu com excepção de algumas conclusões ou seja, estou plenamente de acordo (não poderia estar mais) com um conjunto de princípios e preocupações que atravessam o seu texto. Só não defendo algumas inferências, nomeadamente:

“não aproveitei manhosamente qualquer texto de jornal” – não o pensei e não o escrevi. Não nos conhecemos, mas da leitura que faço (atenta) dos seus textos, passados ou recentes, nada me indica que tenha esse tipo de posturas, muito pelo contrário. O que eu quis dizer é algo que bem sabe: a leitura que cada um de nós faz da realidade, e isto é verdade para todos, está condicionada por muitas coisas e extraímos dela os pedaços que melhor servem as nossas convicções. A provar que qualquer ser humano está sujeito a estas interferências temos que, por exemplo, qualquer trabalho de investigação que se quer rigoroso fica obrigado a grandes procedimentos e cuidados de descontaminação de leituras de realidade que tendam a inferir automaticamente as hipóteses iniciais.
Claro que não temos que ter todos os cuidados do cientista, mas estarmos atentos a essas inferências é fundamental para não cairmos na ratoeira das nossas próprias certezas ou razão. E isto não tem que abalar os nossos princípios orientadores, as nossas balizas. São elas que nos seguram neste mundo confuso.

“porque é que o cachecol, o choradinho diante da Portuguesa (que já poucos sabem de cor) o amor á bandeira que se esquece na janela ao pó e aos dejectos dos passarinhos e dos passarões, são tão bons e o querer um país moderno, próspero, culto e livre é mau ou pelo menos olhado com suspicácia só porque vem dizer que há mais país alem de Genselkirchen (que é na Alemanha...)”

Onde vê “choradinho” eu vejo emoções que fazem vibrar. Onde vê insuficiência do conhecimento do hino, eu vejo mais pessoas a sabê-lo. Onde vê bandeiras esquecidas à mercê do tempo e dos pássaros, eu vejo um desejo de prolongar vitórias. E sabe, eu penso que temos os dois razão: as motivações das pessoas são inúmeras. Quanto à dicotomia de que “um é bom e o querer um país próspero e culto é mau” penso que as coisas não devem ser colocadas assim. Uma coisa não tira a outra. Se assim fosse aí sim, dar-lhe-ia toda a razão. Ora o que eu penso é que podemos ficar orgulhosos, satisfeitos mas saber relativizar as coisas, como o fizeram aqueles entrevistados da tv francesa: orgulhosos e sensatos. Subscrevo.

“Se alguém em França entende levantar uma estátua a Zidane, a exemplo do que acontece cá (e muito justamente) com a estátua de Eusébio, na Luz tem desde já o meu apoio mesmo que decerto não necessite dele: Zidane, o "beur" do bairro problemático de Marselha, fez mais pela integração dos cidadãos magrebinos em França do que cinco presidentes franceses juntos.”
Plenamente de acordo. Eu própria quando a França ganhou o campeonato de mundo que decorreu em Paris fiquei contente por isso mesmo, por aquilo que aquela selecção representava. Todavia, é capaz de não ser por isso que o dito jornal pediu uma estátua para Zidane…
Um abraço

M.C.R. disse...

Minha Prezada Colega "o meu olhar"
Eu não queria (nem V como vejo) tornar isto numa troca de galhardetes. Percebo o Seu ponto de vista, e muito bem até, mesmo que ache que, onde eu ponho uma cor mais escura ,V porá, quiçá, uma demasiado branda. Mas é isso que faz a riqueza de um debate pelo que Lhe agradeço do coração as suas sensatas e gentis palavras.
Eu sei perfeitamente que não houve má intenção na sua primeira leitura sobre as citações: já vi há muito, porque sou Seu atento leitor, do que a casa gasta. Achei melhor, entretanto, fazer o ponto da situação na generalidade. Para que conste...
E agora uma boa notícia: os portugueses de St Maur que assistiram religiosamente verde-rubros ao jogo de há dias já avisaram que na final apoiam o seu país de adopção, que os recebeu e lhes dá comer pelo seu trabalho. Chamo a isto um inteligente (no verdadeiro sentido) patriotismo. Também eu que não me esqueço que foi em França que o meu irmão e farto número de amigos obtiveram asilo político. É uma dívida que pago. Se Portugal fosse à final contra a França obviamente pedia uma moratória, "fica para a outra vez pá, desta tenho que defender as minhas cores". Discreta mas firmemente como é sempre o patriotismo verdadeiro. Mas como a sorte não foi essa, e muito embora adore a Itália e quase tudo o que é italiano (menos o Berlusconi) cá vou diecreto torcer um bocadinho pela França. com uma ressalva: que ganhe o melhor, o que tiver um futebol mais bonito.
Muito vcordialmente Seu
d'Oliveira

o sibilo da serpente disse...

São estas discussões
que fazem
a força do Incursões.

(mas não se zanguem, bafientos :-)

C.M. disse...

Olhe, amigo CR, discussões discussões… sabe, eu não sirvo para ser o “bombo da festa”…se querem acordar o Incursões, não o farão à minha custa. Não sirvo de bode expiatório, principalmente daqueles que hoje se dizem amigos e, vá-se lá saber, amanhã não o são…


Apenas quero dizer ao d’Oliveira que se ele viu, na Guiné, muito habitante a lutar por uma bandeira verde e vermelha, e vê agora esses mesmos homens serem pestíferos no seu recente país e humilhados no que defenderam, de quem é a culpa? Dele, e daqueles que os abandonaram à sua sorte, e agora vêm, num blog, derramar lágrimas de crocodilo.

U abraço para si, CR.

L.P. disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
L.P. disse...

A atençao dos leitores e colaboradores (e em especial de d'Oliveira!): ja aqui chamei a atençao para nao confundirem a madame min que acima escreveu (profile em : http://www.blogger.com/profile/19667678) com esta Madame Min que subscreve este comentario (profile em http://www.blogger.com/profile/6450175) e que esporadicamente aqui deixa alguma verrina nos comentariostkls.

o sibilo da serpente disse...

Vamos com calma. Andam todos muito susceptíveis. Há mal entendidos no ar. Olhem: atirem-se a mim, impliquem, chateiem. Pode ser que faça bem a todos :-)

M.C.R. disse...

Dr Cabral Mendes
vejo que "num blog se choram lágrimas de crocodilo"
mais vejo que isso deriva do facto de alguém que nele escreve ter abandonado os referidos soldados negros, especialmente os da Guiné
Embora não quisesse acreditar que isso me era dirigido porque seria inacreditável e inaceitável verifico que o é. Trata-se, desculpará o termo, de uma tolice que só a desrazão futebolística e uma gritante ausencia de qualquer espécie de conhecimento em futebol ( e não só) pode desculpar.
entretanto sempre direi que fui subscritor e há mais tempo do que possa pensar (há 28 ou 29 anos!) de um documento que pedia ao governo da altura (provavelmente um governo de iniciativa presidencial de Eanes) a imediata intervenção junto desses cidadãos portugueses de cor negra para não só os proteger no país de origem, se lá estivessem, como neste. Pedia-se especialmente que fossem pagas as pensões devidas a qualquer soldado.
Em segundo lugar não fui eu quem usou o termo tabanca num sentido que me pareceu pejorativo e que poderia também parecer racista, coisa de que não queria crer que fosse capaz.
Verifico que perdeu uma boa oportunidade para explicitar esse ponto e isso faz com que dê aqui a discussão por encerrada.

M.C.R. disse...

Madame Min 6450175: desculpe a confusão com a madame 19667678. De todo o modo o que disse mantém-se nos seus exactos termos.

C.M. disse...

Eu, consigo, já não tenho rigorosamente nada a discutir. Nem tenho de me justificar.

Eu é que dou por encerrada, não só a discussão, mas a minha participação neste blog. Não estou para servir de divã de psicanalista...

ADEUS!

o sibilo da serpente disse...

E eu que estou a pedir que se acalmem. Calma, senhores! Somos todos crescidos...

Kamikaze (L.P.) disse...

Delfim, estranho o tom, parece que o futebol de facto tira as pessoas do serio!
Nao havia necessidade, nao havia necessidade... de trazer aqui para o blog ataques e animosidades pesoais!
Porque tenho especiais responsabilidades no Incursoes como administradora e, para alem da reflexao que venho fazendo sobre o meu "papel" neste blog penso que temos de reflectir sobre o seu rumo colectivo, segue email para todos os contributors.

Entretanto espero que esta troca de "mimos" no blog acabe por aqui!