14 agosto 2006

Enganos

Notícia do Portugal Diário. E é caso para dizer que, afinal, os defensores das posições do Hezbollah andavam enganados. O Hezbollah ganhou a guerra, garante o seu próprio líder.

Tiros de celebração ouviram-se, por toda a capital libanesa, Beirute, quando o chefe do Hezbollah, xeque Hassan Nasrallah, declarou vitória sobre Israel, escreve a agência Lusa.
Hassan Nasrallah, reivindicou uma «vitória estratégica e histórica para todo o Líbano e para a resistência», depois do cessar-fogo com Israel.
«Trata-se de uma vitória estratégica e histórica para o Líbano, para todo o Líbano, para a resistência e para a unma (nação islâmica)», disse ele a uma cadeia de televisão do seu movimento, a Al Manar.

4 comentários:

o sibilo da serpente disse...

O que é objectivo, meu caro Hóspede, não é o post que, além do mais, é um excerto de uma notícia do PD, aliás, transcrita emn vários media. O que é objectivo é que, apesar do que vinham dizendo muitos do que nunca tiveram dúvidas, o Partido de Deus não era assim tão inferior em capacidade de combate do que o exército de Israel, como renconhecem os próprios editorialistas moderados de Israelitas. O que é objectivo é que os guerrilheioros dispõem de um vasto e sofisticado arsenal de guerra, fornecido pelo Irão. O que é objectivo é que os guerrilhereiros se confundiam ostensivamente com a população civil para tentar criar um escudo à sua volta. Israel não dá direito aos palestinianos a terem uma pátra? E os fundamentalistas - veja-se o presidente do Irão - dá direito a Israel de ter o seu próprio país?

O que eu estranho é que seja a esquerda - a mesma esquerda que tanto fustigou o Holocausto - que hoje não tem dúvidas em afirmar que os sionistas são os maus e os outros os bons. Recuo às leituras marxistas que vêem nos judeus o supremo simbolo do capital?

O que eu quis dizer com o meu postal, foi que, afinal, não valia a pena andar a chorar sobre a alegada desproporção de meios. Afinal, o Hezbollah ganhou-a.

Silvia Chueire disse...

A mim não me importa quem ganhou a guerra e sim os feridos, os mortos, os civis, as crianças que não pediram para estar nela. O país destruído.

É claro que a tal vitória não é uma vitória libanesa, mesmo que os libaneses se alegrem com ela. Duvido que escolhessem ser bombardeados apenas para que o Hezbollah fosse vitorioso.

É claro também que Israel subestimou a capacidade do Hezbollah. É também claro, claríssimo, que Israel tem uma capacidade de fogo muito maior que a do Hezbollah, que por sua vez tem armamentos superiores ao exército do Líbano. Quereria alguém que o exército israelense seguisse bombardeando o país apenas para que se compreendesse que eles eram capazes de vencer?
O Hezbollah que agora canta vitória aprendeu uma lição à custa do povo libanês. Eles não esperavam aquela reação de Israel ao sequestro dos dois militares israelenses.
Israel aprendeu também a sua lição com a "derrota" e mais: agora tem a noção clara do poder da organização terrorista. Que não haja uma próxima vez para que este conhecimento seja posto em prática.
A vitória se houve alguma, mais do que tardia, foi dos libaneses que sobreviveram.Foi humana.
A paz. Que haja paz!

Penso aqui, amigo carteiro, se a sua afirmação não poderia ser entendida como uma esperança de que mesmo à custa de tantos civis mortos Israel fosse vitorioso e aí sim poderiam todos chorar?. Caríssimo carteiro, Israel não está ameaçado de destruição.O que lá se discute não é que Israel desapareça, mas que o pedaço de terra que era dos palestinos depois de 66 (ou menos, não tenho certeza)seja devolvido. Os fundamentalistas, penso eu, são contra muito mais coisas do que o Estado de Israel.Abomino-os.

Não sou a favor nem de certa esquerda, nem da direita que vejo.
Mas chorei sobre a desproporção de meios (o que não significa desejar que o Hezbollah tivesse mais armas e matasse mais civis israelenses), chorei sobre todas as mortes. E elas, com vitória ou sem, ocorreram, em número muito maior no Líbano.

Morreram também 8 brasileiros nos bombardeios, todos no Líbano. Cinco eram crianças!

M.C.R. disse...

Caro Carteiro
compreendo as suas claras dúvidas e o seu desconcerto perante a "vitória" proclamada pelos chefes religiosos do hezbollah.
De facto que vitória há quando o país está tão tragicamente destruido, quando os mortos ultrapassam o milhar?
Porém, e peço-lhe que atente nisto:
foi destruído o poder militar do Hezbollah? não!
foi conseguido que o Líbano se dividisse entre pró e contra Hezbollah? Não, muito pelo contrário!
foram libertados os dois soldados raptados? Não.
acaso a opinião pública internacional apoiou israel? Não
Está Israel a salvo de novos ataques de foguetes? Não!
A opinião pública israelita apoia a intervenção? Parece que começa a põr em causa a campanha1

Em segundo lugar:
o Hezbollah mostrou que os seus combatentes se batem com coragem. Que não retiram nem um palmo. Que respondem á desproporção de meios com uma perfeita tactica guerrilheira. Que politicamente reforçam as suas posições no Líbano, na Síria e que começam a ser olhados como peça incontornável nas futuras conversações. Nessa altura parece que já não serão considerados terroristas. Tal e qual como os chefes judeus das organizações Stern ou Irgun que até levaram ao cargo de primeiro ministro um dos seus: Beguin!
Com um abraço e com uma ideia: a paz só se constroi com a devolução dos territórios ocupados, com o regresso dos refugiados, com estatuto diferente para Jerusalem e com uma nova mentalidade quer em certos países muçulmanos, quer em Israel, quer nos Estados Unidos. O que não é pouco
Outro abraço

o sibilo da serpente disse...

Cara Silvia:
Vejo que está preocupada com as vítimas inocentes do conflito entre Israel eo Hezbollah. Faz bem. Eu também estou. Como estou preocupado com os inocentes que morreram no World Trade Center, no comboio de Madrid, no metro de Londres, com as inocentes crianças que foram barbaramente assassinadas em Beslan.
(na altura escrevi sobre isso e não vi por aqui tantas palavras de indignação contra o sucedido)
E estou sobretudo preocupado com as próximas vítimas inocentes: aquelas que poderiam ter sucumbido este mês nos aviões que atravessam o atlântico, aquelas que poderão sucumbir a qualquer momento, em qualquer sítio, às mãos de qualquer um fanático.
Essas vítimas podem ser você, ou eu, ou os nossos familiares, ou os nossos amigos.
E é por isso que esta guerra que se trava entre o mundo ocidental e os outros nunca será uma guerra igual. Facto: os ocidentais prezam a vida humana; os outros não. Se eu me metesse com uma bomba num avião e o fizesse explodir, uma de duas: ou seria inimputável ou um criminoso consciente. Um malfeitor. E isto, porque sei que, fazendo-o, estava a cometer uma atrocidade. Não o faria pelo facto de pensar que dessa forma seria um mártir em nome de um qualquer profeta, nem porque dessa forma ganharia um paraíso de virgens, melhor em muito do que vida terrena.
O que torna esta guerra desigual, é uma diferente postura em relação à vida. Nós tememos que nos tirem a vida, lamentamos a vida de inocentes - eles (não sei os líderes também pensam assim) relativizam a vida em nome do seu fundamentalismo.
Dessa forma, por muito que muitos deles morram, por muito que os seus meios bélicos possam ser inferiores (o que está por demonstrar, porque essa dos mísseis artesanais não é verdadeira), eles ganharão sempre a guerra. Porque eles sabem que os "infiéis" prezam a vida. Eles sabem que enquanto conseguirem arregimentar mártires à procura de virgens, a nossa vida estará sempre condicionada pelo medo.
Lamentará o Hezbollah os que perderam a vida neste conflito? Não. Claro que não. Para os fundamentalistas o que é importante é matar. Em nome sabe-se lá de quê, desde que isso provoque medo ao ocidente.
E que não perceber isto, não percebe coisa nenhuma. E, por isso, aceito que o Hezbollah ganhou a guerra. Por muita indignação que possa sentir.


(Caro MCR: no eseencial, creio que também respondi ao seu comentário. Eu também acho que o Hezbollah ganhou, mais que não seja porque já começou a violar a resolução das ONU, que pressupunha a libertação dos soldados israelitas raptados, o que Hezbollah não cumpriu.

Como se ganha a paz? Bastará que os israelitas devolvam os territórios ocupados? Ou será que a guerrilha comandada pelo Irão e pela Síria só param quando Israel for riscado do mapa? Não foi isso mesmo o que disse o presidente do Irão? E será que, mesmo aí, teremos paz? Não será que "eles" só pararão quando dizimarem os "infiéis"?
Se eu tivesse a certeza de que com o fim de Israel teríamos paz, eu seria o primeiro a pedir aos israelitas para virem para Portugal. Talvez aí nós tivessemos futuro como país.)