Sei que ao escrever as linhas que se seguem haverá alguém a apontar-me um dedo vingador e definitivo e a votar-me às gemónias habituais que circulam com grande facilidade em meios politicamente correctos: anti sionista, anti semita e mais umas quantas qualificações de idêntico teor.
Paciência! Não vale sequer a pena desmentir porque os desmentidos deste género caem em saco roto e em orelhas moucas. Vamos pois direitos a questão.
A Amnistia Internacional acusou hoje o Estado de Israel de crimes contra a humanidade e de ter levado a cabo no Líbano uma guerra suja contra a população civil. E vá de referir (como eu próprio já aqui fiz ( cfr. Estes dias... 34; p.q.p. a guerra; antes de ir para férias; postais editados em Julho) os ataques a portos, a ponte no Norte, a estradas, a depósitos de petróleo, a carros manifestamente civis etc... Tudo isto, passe o desplante, me tinha parecido como algo de inconcebível como um claro e premeditado ataque à população civil, porventura com a estúpida ideia de que se esta sofresse muito, se viraria contra o Hezbollah! Pelos vistos o tiro saiu pela culatra e o Hezbollah conseguiu angariar ainda mais simpatias. Simpatias que se multiplicarão se este movimento conseguir reconstruir os edifícios, socorrer as famílias dos mortos e feridos e repor a normalidade nas zonas onde tem influência. Coisa que pelos vistos está a acontecer se é que os noticiários da TVE, TV5, Arte e RAI 1 são fidedignos.
Os leitores notarão que eu não falo de “reacção desproporcionada” de Israel na medida em que me parece um conceito muito pouco operacional e de difícil medição no terreno. Estou sim a falar de um crime claro contra civis, mesmo que estes sirvam de camuflagem aos guerrilheiros. Este conceito de responsabilidade dos civis foi muito bem trabalhado por um cavalheiro hoje em declínio, Mao Zedong, num celebre panfleto sobre a guerra revolucionária. O guerrilheiro dizia ele (na altura chamavam-lhe Mao Tse Tung) circula no meio do povo como um peixe na água. E Mao avisava que o risco da anti-guerrilha era exactamente tornar as massas um aliado objectivo do guerrilheiro.
Ora os cavalheiros israelitas parece que não lêem Mao e que já se esqueceram dos tempos em que praticavam alegremente o terrorismo na Palestina sob mandato inglês. Vai daí foram à bruta. Como, curiosa associação, os alemães em Lídice na Checoslováquia, ou em Oradour sur Glane em França, para vingar a morte de um patife no primeiro caso e de um par de soldados no segundo.
A segunda estação deste rosário de tristeza é a notícia fartamente glosada em vários meios de comunicação, mormente os grandes jornais americanos, de que esta campanha estava a ser preparada há meses, com beneplácito americano e que o rapto dos dois soldados foi apenas um (feliz) pretexto para desencadear a invasão. Aqui entramos em algo ainda mais desagradável e sinistro. Ou seja: a Real Politik, à modo do Médio Oriente. Temperada com um desprezo racista que ultrapassa os limites da má fé mesmo em Estados não democráticos.
A guerra que se travou resultou, para a opinião pública israelita e para a opinião dos soldados (e dos generais...) regressados da frente numa falsa vitória se é que não numa derrota. Nenhum dos objectivos políticos e militares de Israel foi alcançado: não enfraqueceu o Hezbollah, bem pelo contrario, não o afastou do resto da população libanesa, antes pelo contrário, não recuperou os seus soldados; não atemorizou o mundo árabe, piorou as suas relações com o Egipto e com A Jordânia, criou nos meios árabes a ideia (perigosíssima) que há que apoiar o Irão na sua política nuclear; irritou a Europa dos 25 e finalmente provou que Tsahal não é invencível e que os guerrilheiros se bateram taco a taco com os soldados israelitas que não só eram em maior número mas sobretudo dispunham de meios e armamento infinitamente superior. Esta última consequência é do ponto de vista estratégico um altíssimo risco para Israel cuja força militar era temida até agora.
Claro que a frente interna israelita também não está em bons lençóis: o governo acusado de ter lançado uma campanha sem objectivos claros, sem finalidade precisa, sem meios adequados como se viu sem conhecimento (por onde andará o Mossad, em tempos uma agência exemplar?) do espírito popular libanês, da posição dos cidadãos quanto ao Hezbollah, debate-se agora com acusações de corrupção, negociatas com acções no dia anterior ao ataque, assedio sexual – até o presidente da república! – além de má condução da guerra.
Como se tudo isto não bastasse um considerável número de organizações ecologistas vem agora acusar Israel de crime ecológico. E o caso não é para menos: as costas do Líbano e da síria foram atingidas pela maré negra que provavelmente também não poupará o sul da Turquia.
Entretanto que é que vamos lendo na imprensa nacional atacada até ao tutano pelo síndroma da silly season? Pois que uma senhora depois de ter lido um livro sobre o holocausto está de alma e coração com Israel. Não refiro por caridade o nome desta alma boa e por absoluta piedade (as férias dão-nos estômago para tudo) o único artigo que li da drª Muznick. Deprimente!
Como nota pessoal gostaria de acrescentar algo a que já teria feito referencia: uma das burrices dos alemães consistiu em pensar que todos os judeus porque “inferiores e sub-humanos”, não seriam capazes de lhes fazer frente. Foram e de que maneira! No ghetto de Varsóvia primeiro, nos campos e bosques da Lituânia e dos restantes países bálticos onde houve uma forte e estruturada guerrilha judaica, nas revoltas levadas a cabo no fim da guerra em vários campos de concentração onde esqueletos vivos e cadáveres adiados conseguiram tomar o controle e libertar o campo.
Ora os actuais israelitas também terão pensado que tudo o que é árabe é de terceira e que bastava mostrar dois tanques para semear o Líbano de botas de soldados em fuga. Chama-se a isto racismo, claro. E como de costume dá mau resultado. Como se viu!
Deixo aos meus leitores esta pequena (enorme) interrogação: o Ocidente, isto é nós, a quem o mundo muçulmano associa Israel, ganhou algo com esta guerra?
Paciência! Não vale sequer a pena desmentir porque os desmentidos deste género caem em saco roto e em orelhas moucas. Vamos pois direitos a questão.
A Amnistia Internacional acusou hoje o Estado de Israel de crimes contra a humanidade e de ter levado a cabo no Líbano uma guerra suja contra a população civil. E vá de referir (como eu próprio já aqui fiz ( cfr. Estes dias... 34; p.q.p. a guerra; antes de ir para férias; postais editados em Julho) os ataques a portos, a ponte no Norte, a estradas, a depósitos de petróleo, a carros manifestamente civis etc... Tudo isto, passe o desplante, me tinha parecido como algo de inconcebível como um claro e premeditado ataque à população civil, porventura com a estúpida ideia de que se esta sofresse muito, se viraria contra o Hezbollah! Pelos vistos o tiro saiu pela culatra e o Hezbollah conseguiu angariar ainda mais simpatias. Simpatias que se multiplicarão se este movimento conseguir reconstruir os edifícios, socorrer as famílias dos mortos e feridos e repor a normalidade nas zonas onde tem influência. Coisa que pelos vistos está a acontecer se é que os noticiários da TVE, TV5, Arte e RAI 1 são fidedignos.
Os leitores notarão que eu não falo de “reacção desproporcionada” de Israel na medida em que me parece um conceito muito pouco operacional e de difícil medição no terreno. Estou sim a falar de um crime claro contra civis, mesmo que estes sirvam de camuflagem aos guerrilheiros. Este conceito de responsabilidade dos civis foi muito bem trabalhado por um cavalheiro hoje em declínio, Mao Zedong, num celebre panfleto sobre a guerra revolucionária. O guerrilheiro dizia ele (na altura chamavam-lhe Mao Tse Tung) circula no meio do povo como um peixe na água. E Mao avisava que o risco da anti-guerrilha era exactamente tornar as massas um aliado objectivo do guerrilheiro.
Ora os cavalheiros israelitas parece que não lêem Mao e que já se esqueceram dos tempos em que praticavam alegremente o terrorismo na Palestina sob mandato inglês. Vai daí foram à bruta. Como, curiosa associação, os alemães em Lídice na Checoslováquia, ou em Oradour sur Glane em França, para vingar a morte de um patife no primeiro caso e de um par de soldados no segundo.
A segunda estação deste rosário de tristeza é a notícia fartamente glosada em vários meios de comunicação, mormente os grandes jornais americanos, de que esta campanha estava a ser preparada há meses, com beneplácito americano e que o rapto dos dois soldados foi apenas um (feliz) pretexto para desencadear a invasão. Aqui entramos em algo ainda mais desagradável e sinistro. Ou seja: a Real Politik, à modo do Médio Oriente. Temperada com um desprezo racista que ultrapassa os limites da má fé mesmo em Estados não democráticos.
A guerra que se travou resultou, para a opinião pública israelita e para a opinião dos soldados (e dos generais...) regressados da frente numa falsa vitória se é que não numa derrota. Nenhum dos objectivos políticos e militares de Israel foi alcançado: não enfraqueceu o Hezbollah, bem pelo contrario, não o afastou do resto da população libanesa, antes pelo contrário, não recuperou os seus soldados; não atemorizou o mundo árabe, piorou as suas relações com o Egipto e com A Jordânia, criou nos meios árabes a ideia (perigosíssima) que há que apoiar o Irão na sua política nuclear; irritou a Europa dos 25 e finalmente provou que Tsahal não é invencível e que os guerrilheiros se bateram taco a taco com os soldados israelitas que não só eram em maior número mas sobretudo dispunham de meios e armamento infinitamente superior. Esta última consequência é do ponto de vista estratégico um altíssimo risco para Israel cuja força militar era temida até agora.
Claro que a frente interna israelita também não está em bons lençóis: o governo acusado de ter lançado uma campanha sem objectivos claros, sem finalidade precisa, sem meios adequados como se viu sem conhecimento (por onde andará o Mossad, em tempos uma agência exemplar?) do espírito popular libanês, da posição dos cidadãos quanto ao Hezbollah, debate-se agora com acusações de corrupção, negociatas com acções no dia anterior ao ataque, assedio sexual – até o presidente da república! – além de má condução da guerra.
Como se tudo isto não bastasse um considerável número de organizações ecologistas vem agora acusar Israel de crime ecológico. E o caso não é para menos: as costas do Líbano e da síria foram atingidas pela maré negra que provavelmente também não poupará o sul da Turquia.
Entretanto que é que vamos lendo na imprensa nacional atacada até ao tutano pelo síndroma da silly season? Pois que uma senhora depois de ter lido um livro sobre o holocausto está de alma e coração com Israel. Não refiro por caridade o nome desta alma boa e por absoluta piedade (as férias dão-nos estômago para tudo) o único artigo que li da drª Muznick. Deprimente!
Como nota pessoal gostaria de acrescentar algo a que já teria feito referencia: uma das burrices dos alemães consistiu em pensar que todos os judeus porque “inferiores e sub-humanos”, não seriam capazes de lhes fazer frente. Foram e de que maneira! No ghetto de Varsóvia primeiro, nos campos e bosques da Lituânia e dos restantes países bálticos onde houve uma forte e estruturada guerrilha judaica, nas revoltas levadas a cabo no fim da guerra em vários campos de concentração onde esqueletos vivos e cadáveres adiados conseguiram tomar o controle e libertar o campo.
Ora os actuais israelitas também terão pensado que tudo o que é árabe é de terceira e que bastava mostrar dois tanques para semear o Líbano de botas de soldados em fuga. Chama-se a isto racismo, claro. E como de costume dá mau resultado. Como se viu!
Deixo aos meus leitores esta pequena (enorme) interrogação: o Ocidente, isto é nós, a quem o mundo muçulmano associa Israel, ganhou algo com esta guerra?
1 comentário:
O exército isrealita já começou a reconhecer as suas próprias falhas internas ( ver em http://www.publico.clix.pt/shownews.asp?id=1268127).
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