06 setembro 2006

O que fazer?

As tentativas desesperadas dos emigrantes clandestinos que todos os dias batem à porta da Europa, seja nas Canárias, no estreito de Gibraltar, em Ceuta ou na costa italiana do Adriático, devem importunar-nos enquanto cidadãos de uma Europa que não pode ser construída numa redoma de vidro.

A UE, terra dos sonhos para povos de países ameaçados pela guerra, pela fome, pela miséria, em suma, pela ausência de condições mínimas de desenvolvimento, deve empenhar-se activamente em combater as razões que estão na base desse êxodo em busca do milagre europeu. Fomentando programas de auxílio e de incentivo ao desenvolvimento económico-social nesses países, pressionando os governos no sentido de respeitarem os direitos humanos e o estado de direito, contribuindo para o surgimento de estados com infra-estruturas mínimas de funcionamento, criando condições para que essas sociedades possam gerar oportunidades, atrair empresas, criar riqueza, sem a mão opressora das oligarquias dominantes. Será pedir o impossível?

A verdade é que a UE necessita de mão-de-obra imigrante mas não suporta esta avalanche de repatriados. O caminho será definir regras e quotas razoáveis. De nada adianta abrir a porta, criar ilusões, se depois não podemos corresponder às expectativas de quem pensa vir encontrar o el dorado.
Volto a um tema que foi aqui trazido, em boa hora, pelo atentíssimo MCR, como poderão ler mais abaixo.

3 comentários:

o sibilo da serpente disse...

No plano dos princípios, estás cheio de razão. Só que, na prática, já se viu que não dá bom resultado o ocidente andar a explicar aos "outros" como devem governar-se ou impôr-lhes modelos de funcionamento. Se tu fazes isso, eles acham que os infiéis estão a atacá-los e, tunga, aí vem bomba...

M.C.R. disse...

Há que distinguir as emigrações. Não consta que as emigrações provenientes da américa Latina daAfrica Negra de boa parte da Ásia tenham originado conflitos culturais pronunciados e muito menos religiosos. Mesmo do Islão, Maghrebe incluido, não pode esquecer-se que uma imensa,imensissima maioria não está implicada num conflito em que, deresto, não é bem a europa que é parte mas antes a questão palestiniana.
em segundo lugar há a emigração dos países do antigo leste que também (salvo casos esporádicos de pequenas mafias) não tem tido maus resultados. A grande aposta seria ade facto investir a longo prazo nos países dos migrantes. há experiencias bem sucedidas que poderiam ser mais seguidas. O que não pode continuar é a situação existente que mesmo do ponto de vista económico é dramática: os países africanos já pagaram 3, 7 vezes a sua dívida que entretanto continua a crescer. O jogo dos juros ou os "perdões" são apenas uma boa desculpa (esfarrapada) para criticar nesses países um desenvolvimento desigual, errado e motivado pelos mesmos interesses que depois vêm gritar "aqui del-rei". A europa, por exemplo, produz acucar de beterraba a três vezes mais do que o preço do de cana. E pior: paga generosamente aos seus agricultores para continuarem esse desperdício. Idem para o tabaco (até Portugal é produtor!!!). note-se que eu não sou -Deus me livre! - altermundialista ou coisa desse género. Apennas tenho a clara sensação de que estamos a cavar a sepultura da Europa. mas isso, se calhar é outra história...

O meu olhar disse...

Não podia estar mais de acordo consigo JCP. Aliás, penso que as medidas que aponta são uma inevitabilidade em que se tem de apostar, mais cedo ou mais tarde. Não há saída.