12 outubro 2006

O leitor (im)penitente 8

A vida custa a todos!

Já estou a ver alguma leitora amável e mais atrevida a dizer com os seus botões: até que enfim que aquele lírico do vale (eu escrevi lírico de propósito, leitorinha!) chamado mcr percebeu que estava no mundo dos vivos. E o façanhudo Simas Santos, apoia-a meneando a cabeça branquíssima. Se calhar também diz até que enfim...
A verdade, a verdade verdadeira, nua e crua, leitoras e leitores é que eu sempre andei por este mundo feio e vil. E sempre soube como ele era. E de tal modo o sabia que sempre que me era possível, ala que se faz tarde, exílio com ele, fugir disto a sete pés, fingir que isto não existia.
Algum leitor mais arguto lembrar-se-á a propósito desta última frase de um livrinho da imortal colecção Argonauta: “Os marcianos divertem-se” de Frederic Brown, se a memória me não falha. A história é simples: a terra é invadida pelos marcianos que pregam as piores partidas aos nativos. A todos excepto aos bêbados que tem mais em que ocupar o tempo e a um cavalheiro que, pura e simplesmente assevera contra toda a evidencia que os marcianos não existem. Quem quiser saber o resto que vá pelo livro que vale a pena e é barato.
E se viver para as bandas da capital que não perca tempo: aos Sábados (já aqui se disse) na rua Anchieta ali ao Chiado há uma feira de livros organizada pelos alfarrabistas. Volta que não volta há lá pequenos achados. Por exemplo: boa parte dos livros editados pela extinta “Hiena Editora”, uma empresa amável que publicou muitas e boas coisas, incluindo um Assis Pacheco de boa memória.
Ou, como foi o caso no passado sábado, e numa outra mesa (aquilo são mesas grandes cheias de livros), ofereceram-me (e eu comprei) uma série de “cadernos coloniais” da velha e respeitabilíssima Cosmos, a um euro cada. Levei tudo o que vi e o vendedor simpático ofereceu-me um outro exemplar perdido. Estes cadernos, leitores mais conservadores (que os tenho e respeito e estimo, então não?) são bem interessantes para um maníaco de África como eu porque recolhem biografias dos militares que fizeram as campanhas todas da ocupação, pacificação daqueles imensos cafundós, tal e qual o meu avô Manuel Patrício Curado, militar corajoso e honrado que pobre foi e pobre veio, ou menos pobre porque trazia uma catrefada de medalhas, das melhores, com que o país honrava os seus soldados. Dele apenas conservo a espada que das medalhas nem rasto. A prima Maria Manuel tem esse nome em memória do avô que não conheceu. Bem como o meu irmão, um tio e um sobrinho. Até eu em épocas perdidas o usei como pseudónimo... Aliás, e a propósito, a dita cuja prima, acompanhou-me e a mais um tio, leitor omnívoro, também a essa feira. E num gesto generoso e moscovita pagou-me já nem sei que livros que eu mercava. Bendita prima!
Mas tudo isto vem porque, interessado em mais caderninhos, enviei um mail a uma conceituadíssima livraria alfarrabista perguntando se, acaso, talvez, porventura, etc., tinham mais exemplares. A resposta tombou hoje: que sim, mas a quatro euros o exemplar! Ora toma! Nem lhes vou responder que aquilo parece o pinhal da Azambuja de outros tempos: quatro euros! Oitocentos paus dos antigos. Mas esta gente pensa que está a vender ouro ou quê?
Nesta mesma expedição lisboeta, tornada gloriosa por via de um jantarinho que nem vos digo nem vos conto chez Madame Kamikaze (cfr. Au Bonheur ... 35), fui ver a colecção Rau ao Museu das Janelas Verdes. Ora aqui convem dizer que esta foi a vez primeira que por ser cliente (pobre) do Banco Millenium (raio de nome!) não paguei a entrada. Vá lá. Mas não há bem que não acabe. O catálogo português estava esgotado há que tempos pelo que me tive de contentar com um em inglês. Ora aqui está mais um exemplo da não eficácia lusitana. Fizeram um número ridículo de catálogos, como é triste costume e pronto que se lixe a taça! Senhores millenarios com dois eles e u: abram um pouco mais os cordõezinhos à bolsa ( E voi altri signoroni,/ che avete tanto orgoglio/ aprite il portafoglio.... como se cantava – e canta – numa certa Itália do meu contentamento ) para que na sopa não caia mosca, que diabo! Se sobrarem alguns exemplares mandem-nos a escolas e museus e bibliotecas que algum leitor (tão penitente como este) lhes dará atenção.
E para acabar: a D. Quixote anunciou em princípios da primavera uma fotobiografia de Alexandre O’Neil: seis meses depois, pergunta-se (homenageando a cônsul honorária do Incursões no Rio de Janeiro, de seu nome Sílvia Chueire, psiquiatra, poetisa, porreirinha): “Cadê o livro ó quixotesca gente? Sai ou não sai?

Ps: Para quem viva no Porto ou seu termo: amanhã, sexta-feira, pelas 21:30 na Capela de Fradelos (Junto ao Silo-auto) há recital de poesia. Da Sílvia, claro! Os incursionistas lá estarão: babados!

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