21 abril 2007

Au Bonheur des Dames 61


Days of wine ande roses

As leitoras dirão que o escriba deu em anglófilo, o leitor MSP protestará (mas ele gosta de protestar, agora que já não tem alunos a quem massacrar com a geometria descritiva, sim, porque nós sabemos que aqueles resultados fabulosos, anos e anos a seguir, só torturando as criancinhas, senão o homem era um génio e isso seria demais, no nosso círculo de amigos há desde há muito um princípio, génios façam o favor de se evaporar, que isto aqui é só rapaziada normal ou quase...) mas o facto é que eu mantenho: dias de vinho e rosas! E provo.
À uma, a Frau Kamikaze veio até Matosinhos com o impagável JAB, o advogado com mais humor a leste do rio Pecos. E gostaram ou melhor estão a gostar desta alegre feira à volta da Literatura em Viagem. Ainda por cima conheceram a Dulce Cardoso, de que ambos são fãs e a Maria do Rosário Pedreira idem, fui eu, claro quem os apresentei. A coisa vai mesmo mais longe. A Kami disse-me que eu tinha uns amigos muito simpáticos, mas que é que ela esperava, o diabo da criatura? Que eu frequentasse um grupo de ogros avinagrados que só pensam em estraçalhar gente de bem?
Depois, para penitência, apresentei-lhes o escultor MSP que anda como um cuco, também o caso não é para menos, ontem abriu uma pequena exposição dele e, em meia hora, estava tudo vendido, tudo não, que ainda falta uma peça, bem boa, por acaso, mas cara, carota, esta artistagem agora quer ficar rica á custa da marabunta, que é que é feito do mito do artista pobre e romântico que vendia as peças por tuta e meia?
Em terceiro lugar, mas isto não vai por ordem de importância, eu é que sou assim, vou escrevendo e quem vier atrás que feche a porta, reencontrei a leitora bonita número 1, que as minhas leitoras são todas bonitas, homessa, com esta idade bem que posso ter até a Naomi Campbell como leitora, que elas olham para mim como um amável fóssil, uma espécie ligeiramente mais moderna que o homo habilis, e se calhar até estou a ser generoso comigo próprio, enfim reencontrei a dita cuja leitorinha, sempre bem, olho azul e fundo, simpatia a rodos, vê-se que deve ter sido escuteira para me receber assim, com folares e cavalhadas, ah que bom, what a glorious day (e ele a dar-lhe resmunga o escultor bargante (aguenta-te lá com esta ó ignorante do léxico pátrio!).
Depois, o Eduardo Lourenço, fundador da Vértice, revista onde escrevinhei alguns despropósitos, felizmente a Censura estava atenta, e zás!, traço azul e grosso, e a minha prosa saía mais esburacada que uma renda de bilros, isto sem desdouro da dita renda que eu até nem sei como é, mas a palavra bilro é tão bonita que não resisto a usá-la, o Eduardo Lourenço dizia eu, um mito vivo do melhor que em Portugal se fez, esgalhou uma conversa sem papeis, uma coisa estilo ao canto da lareira, um espectáculo. Chiça! O homem tem oitenta e quatro anos mas parece ter trinta, que cabecinha de oiro, que humor, que verve! E dizia ele, a páginas tantas, que não quereria ser tomado por um ortodoxo da heterodoxia! Querido professor, não se preocupe V. nunca será vulgar, rotineiro, pronto a vestir ou pronto a consumir. O Senhor é um dos poucos príncipes que nos restam, um dos poucos que tivemos e isso, essa chama incerta mas visível é um sinal de que nem tudo está como no reino da Dinamarca, digo Portugal que anda um tanto ou quanto de monco caído, raio de país que não sai da cepa torta, que é um vício, um lento veneno, viagem sem regresso, caravela naufragada ao peso das especiarias...
Matosinhos está que arde! Uma festa! O Chico Guedes bem que pode retorcer o bigode. O raio do homem sabe organizar eventos destes, não é por acaso que se termina este texto mandando-lhe um abraço desses de partir a costela a um urso, porque isto, esta facilidade de contactos, esta conversa de bica aberta entre escritores e leitores, esta pequena viagem pela inteligência das coisas só acontece porque um fulano gordo, bem humorado e de bigode resolveu dar-se ao trabalho de organizar esta festa, sem jet-set nem políticos a jacto de parca amplitude, mas apenas com os leitores e os autores ou seja uma festa entre pessoas de bem que se encontram no mais informal dos desencontros.
Amanhã há mais... Depois não digam que não vos avisei...

Do vosso enviado especial à 2ª edição de “Literatura em viagem” em Matosinhos, claro.

A gravura "pessoa à janela" é de Dali. Vai toda para o Presidente da Câmara de Matosinhos e participante no encontro, que comparou a sua terra a uma janela aberta sobre o mar.

2 comentários:

o sibilo da serpente disse...

Eu sei, caro MCR, que não tenho de lhe jurar que me esqueci. Já me conhece o suficiente para saber que me esqueci mesmo. Mas a Kami ligou. E lá estarei, tal como prometo no que escrevi na minha lojeca.
Um abraço

José António Barreiros disse...

O bem-humorado JAB que lá teve de se levantar hoje às cinco da manhã, para deixar prontos requerimentosas várias e outros arrazoados forenses, vem aqui, deixar um abraço da memória de um fim de semana feliz. Ter descoberto ali, entre tanto escritor e outros artistas que dei aulas de Direito Penal ao Germano de Almeida, na Faculdade de Direito da Universidade Clássica, faz-me pensar que, para além de bem-humorado, estarei seguramente bem conservado. De outro modo, estaria morto e enterrado, entre naus e armaduras. Obrigado, MCR, amigo!