05 junho 2007

missanga a pataco 18

"os gajos não precisam de vir com manual de instruções. basta-lhes serem como são!"

Ando enfronhado num texto “a sério” sobre a crise de 1962. Prometi-o ao Manel da Quinta, há um par de dias depois de, a convite dele, ter participado num colóquio sobre cem anos de crises académicas em Coimbra. Isso e uma tradução atrazadota tiram-me mais tempo do que quereria. Tudo isto vem a propósito do meu ultimo post que a leitora Ni ( olá Ni! Como vai essa bizarria?) achou que sabia a pouco. Em contrapartida uma outra leitora (isto é um fartote!) achou que assim, sim! Postais grandes nem vê-los.
Ai, eu às vezes, dou razão a um jovem escritor que escreveu um livro com o título “As mulheres deviam vir com manual de instruções”. Confesso que não o li, não sei como é que ele resolve a questão, se questão há. Eu prefiro-as sem manual. Por duas razões. À uma o prazer da descoberta, enfim falo pelos outros que eu, já estou a cair da tripeça. Mas, com jeitinho... cala-te boca safada que já não tens dentes que cheguem... - Mas tenho memória. E experiência!... (Isto faz-me lembrar uma história que me contaram no encontro Literatura em Viajem em Matosinhos: parece que havia um gabiru, lisboeta, claro, que subia o Chiado, nos tempos em que o Chiado era dos verdadeiros, e murmurava, salafrário, ao ouvido das senhoras com que se cruzava: tenho vícios!). Em segundo lugar poderia alguma leitora perguntar porque é que os homens não viriam eles também com manual de instruções. Ora leitora, isso nem parece seu! Os homens não precisam de vir com manual de instruções. Isto, estas varonis carcaças, é do mais simples que há. Como se dizia: trigo limpo, farinha “Amparo”! Um manual de instruções seria uma perda de tempo, de dinheiro e uma inutilidade. E é essa a nossa vantagem. Somos de tal modo fáceis, intercambiáveis, fungíveis, que conquistámos o mundo. E convencemos as nossas mães que éramos (e se calhar somos) uns zeros à esquerda. Daí as senhoras educarem-nos daquela maneira protectora, machista que até agora tanto resultado tem dado ao homem mediterrânico. Não sabemos cozinhar! Não sabemos pontear umas meias nem deitar uns fundilhos novos a um par de calças velho! Temos uma falta de jeito notória para limpar o rabinho aos bebés. E se porventura nos prontificamos a varrer uma sala ou a lavar a louça, fazemo-lo de uma tal maneira que qualquer mulher se exaspera. Sobem-lhe os humores coléricos, dá-lhe o nervoso miudinho e, zás, tira-nos da mão a escova ou o esfregão da loiça e manda-nos para longe. E nós vamos. Para um bom sofá de preferência ver televisão, ler “A Bola” (leitura que nenhuma mulher consegue levar a cabo com um mínimo de concentração. Eu até já ouvi um marido dizer consternado “Ó rapariga olha que isto não é para ler como o Prust” – com u! E basta. Pois não pá! Elas não têm a noção da galinhola. Já sabem o que é um penalty mas nunca dominarão os mistérios do off-side!
Ah se eu tivesse tempo e disposição o que não diria mais. Mas não tenho. Nem sei. Até à próxima!

A ilustração persiste com Doisneau! A leitora Ni -que bom! mais uma leitora! gostou da fotografia anterior pelo que esta era-lhe devida. A propósito: o Doisneau está publicado em mil sítios mas também na Taschen. Deve haver na FNAC. Os íncolas do deserto (tomem lá esta ó sulistas!) terão de mandar um camelo ao Cairo pelo livrinho. E se não houver a culpa é dos magistrados que andam de mãos dadas com os autarcas no "gamanço". Força, JAB! que o ex-dirigente da linha negra do mrpp está a pedi-las!

8 comentários:

M.C.R. disse...

Eu espero que a minha mãe não leia isto. Todavia, à cautela, peço o favor de não lhe mostrarem este post.
Ela leva muito a sério o seu papel de mãe e de educadora e toma sistematicamente o partido das noras. Ou finge, o que vem a dar no mesmo. Obrigadinho!
mcr

Ni disse...

Olá, caro M.C.R!

Ainda surpreendida por ver o meu minúsculo nomezinho( 'Ni' era como o meu querido pai me chamava)neste seu texto, espero que com a palavra 'bizarria' se referisse ao lado semântico mais 'simpático' da palavra. (Era?)
...
Sorriso
...

Quanto ao seu 'post' onde deixei o meu primeiro comentário neste blog (apesar de ser uma visitante diária já há algum tempo), eu não disse que me 'sabia a pouco'. O que escrevi foi:

«Excelente 'post'! (Dada a qualidade da escrita, o humor delicioso, esta denominação 'soa-me' a pouco...)»
...

Ou seja:
Chamar 'post' (palavra com que embirro) a um texto tão bem escrito (do ponto de vista de forma e de conteúdo) 'soa-me' a pouco, porque o que escreveu me 'sabe' a muito! É meramente uma questão de sensibilidade face às palavras, porque as palavras têm ecos, cores, odores.... e o que escreveu, para mim, é um texto. Um excelente texto. (sim, gosto da palavra 'texto'!)

...

Não estive no encontro 'Literatura em Viagem', e tive pena, não só pela presença do meu querido amigo e colega Francisco Viegas, mas também pela hipótese de conhecer e interagir com outros 'viajantes', e sorri ao ler a fórmula de apresentação do 'gabiru' que subia o Chiado.

Sorriso.

Ainda bem que não temos livro de instruções. Ainda bem que temos vícios.

Agradeço-lhe mais esta foto de Doisneau! Que delícia! É verdadeiramente uma foto 'À la Recherche du Temps Perdu'!

Abraço

Ni*

Gasolina disse...

Ainda bem que ninguém traz livro de instruções! Que pasmaceira sería este mundo, sempre pardo...agora, creio que alguns (algumas) deveríam acompanhar-se de livro de reclamções (mau feitio o meu!)

Um abraço.

PS.: Como sempre fantástico e envolvente.

PS.: ...eu até sei o que é um fora de jogo :~D

M.C.R. disse...

Como vai essa bizarria é uma velha e (para mim) bonita fórmula de cumprimentar. Suponho que Eça a utilizou, tenho quase a certeza mas se não, há o velho Senhor e verdadeiro fidalgo Rui Feijó que também a usa.
O FJV esteve numa mesa moderada por mim. Acho-o um tipo divertido, culto e que escreve bem. Também gosta de comer, outra afinidade.

Cara G. é sempre um prazer ser lido por quem passou férias entre a foz do mondego e a praia de Buarcos.

Gasolina disse...

Carissimo MCR,

Foram mais do "simples férias"...vivi toda a minha infância em Coimbra.
Essa é uma das razões por que me sinto tão grata quando o leio.
Bem haja!

Atrevo-me a deixar-lhe um beijo

M.C.R. disse...

Pode dar até mais do que um! A gente às tantas conhece-se...

M.C.R. disse...

Eu também arrenego da palavra post, livra coisa mesmo mixuruca, post!
todavia a internet-linguagem é assim:despossuída de poesia, pouco dada a cheiros e sabores pelo que deixo andar.
Obrigado pelos comentários: um tipo que anda por aqui a remar (por gosto, é verdade, mas a remar) gosta de saber que o lêem e, na medida do possível, o apreciam. Ou pelo menos eu gosto.

Gasolina disse...

MCR,

Após um deleitoso arroz de polvo (de minha mão, que nesta coisa dos comeres parece que temos o gosto comum), (AH! a Democrática...que saudade!), tomei como sobremesa (re)lê-lo.
Não sei se lhe servirá de consolo, mas Eu gosto muitissimo de O ler.

Deixo-lhe dois beijos.

PS.: ...Bairro do Calhabé, a avistar o campo da Briosa.