23 julho 2007

Au Bonheur des Dames 79


Porto feliz Foco infeliz

O senhor Rui Rio, meritório presidente da Câmara do Porto anunciou com a modéstia de que sempre faz gala o fim ruidoso do programa Porto Feliz, por ele mesmo lançado há uns anos para libertar as ruas e praças da cidade da praga dos arrumadores de automóveis. Contava, para o efeito com o apoio de uma instituição amadoramente velocipédica que dá pelo nome de IDT (Instituto da Droga e da Tóxico-dependência) e que se tem imposto à consideração publica, nacional e internacional pela organização de uns passeios chamados Lisboa ou Porto Bike Tour. Depois do Allgarve a quem o meu sobrinho Manuel chamou distraidamente, e sem desdouro para a radiosa província, Alarve, eis a Bike Tour, convenientemente anglo-saxónica para nos dar um momento de descanso da língua nacional. Parece que “passeio de bicicleta” era difícil de escrever, dada a má vontade dos estudantes do secundário em relação à língua dita de Camões. E convenhamos que têm razão: Paçeio de Bissicleta não parece lá muito curial.
Portanto, e voltando à vaca fria, (cool cow) temos que o senhor Rio some years ago resolveu purgar ruas, becos, praças e azinhagas do Oporto (what a town!) de drogados, arrumadores & similares. Chamou ele, de sociedade com o IDT que era quem abria os cordões à bolsa, à operation “ Porto Feliz” ou Happy Oporto, já não sei bem.
Garantiam as autoridades que com tal operação, as ruas do Porto iriam ficar mais clean de bandoleiros que Bagdad à hora de ponta (point hour). Os munícipes (our dear neighbours) nunca mais teriam que esportular a temível moedinha (the amazing coin) para que o perigoso pedinte não riscasse o popó. A cidade ia voltar aos seus tempos de altiva grandeza graças a esta salutary idea of Mr River.
Não sei se já disse às leitoras (beautiful readers) que vivo numa zona adjacente à Goodview Avenue, near the Good Sight Stadium, chamada plebeiamente Foco. Era para ser zona Residencial William Graham mas como havia, integrado no conjunto um cinema já falecido, com o nome de Foco. o bairro ficou Foco (ou focus como preferirem). O bairro tem fama de bairro de ricos pelo que não é de estranhar que tenha acolhido desde tempos imemoriais não um mas dois “arrumadores” (vehicle ushers ou car arrangers, como queiram...). E, de facto, devia ser rich as Cresus, porque os arrumadores da zona praticaram sempre um horário especial. “Pegavam” às nove e meia dez horas, faziam um pequeno break para almoço (lunch break) continuavam aí pelas duas e às quatro, retiravam-se não sei se para casa se para uma zona de fornecimento de drugs.
A campanha do “Happy Oporto” não os comoveu, sequer os tocou. Continuaram intemeratos a sacar a moedinha aos incautos cidadãos que aqui estacionavam. E, honra lhes seja feita, nunca os preferiram aos moradores. Aqui toda a gente estava sujeita ao tributo, ricos e pobres, senhoras e cavalheiros, povo trabalhador (working class) e passeantes dominicais.
Continuaram e continuam que ainda há minutos vi dois arrumadores a dividir o território. Dir-se-á, sempre na sequencia daquela bela frase “os ricos que paguem a crise”, que o Foco era uma excepção no mar de serena felicidade outorgada pelo senhor Rio, clemente presidente da Câmara. Erro, dear friends, erro gordo e colossal. A dois passos daqui na John of God street dois arrumadores, dois, dividem fraternalmente o espaço público e parqueante. Não têm a distinção dos nossos, o horário de trabalho deles é mais longo, mas que lá estão, estão. E a cobrar a mesmíssima moedinha, enfim a moedinha apropriada a quem vai num salto à Portugal Telecom pagar a conta do telefone. Ou seja que num raio de duzentos metros a voo de pássaro (bird flight) temos quatro, four, cavalheiros mais integrados que apocalípticos a sacar os trocos aos cidadãos motorizados. E os das bikes? Ah esses não pagam porque são colegas dos cobradores. Ou benfeitores dos mesmos... Ou porque nunca por ali passam.
Convenhamos que o Happy Oporto, no que nos diz respeito a nós, os ricaços do Foco, não deixa saudades (como é que se dirá saudades em ingliche? Homesickness? Raio de palavra... deve ser portuguesa...). Have a good trip Mr River!

yours*
mcr

* não é piada. it's not a joke, Mr. Prime Minister. This is only the 78th edition of "at Ladies' Pleasure".

1 comentário:

O meu olhar disse...

Este seu texto é um mimo de humor MCR! Excelente.