12 julho 2007

HIPOCRISIA OU INOCÊNCIA?

O tema que o JCP já abordou no post a Nódoa e o Pano continua a alimentar a discussão e até já está a dar lugar a grandes reflexões acerca dos políticos, da política e, pasme-se, das ideologias.
Martim Avillez Figueiredo, em editorial no Diário Económico de hoje, interroga-nos e responde assim:

"Uma empresa paga legalmente a um político que, nessa condição de político, tenta influenciar a decisão do presidente da maior empresa nacional de telecomunicações. E que diz o país? Quase nada."

Depois de alguma lenga-lenga jornalística conclui "que isso não faz de Marques Mendes um corrupto (...) o que faz é da política um perigoso caldeirão de interesses".

Como se percebe, Marques Mendes foi desculpabilizado e a responsabilidade recaiu sobre a política, que deve ser alguma coisa que anda por aí, mas em que ninguém toca, que não tem cor, que não tem cheiro. Aliás, estas devem ser as qualidades que tornam a politica tão interessante e apetecível por uns tantos.

Apesar de tudo, até estou de acordo com o que acima transcrevi do editorial de Martim Avillez. Aquilo que me incomoda é a hipocrisia daqueles que, como o director do DE, se mostram tão surpreendidos com a presença de políticos, nas Assembleias Gerais de empresas. O DE bem poderia fazer um levantamento (deve ter por lá os Relatórios e Contas) das pessoas que integram a Assembleia Geral das grandes sociedades anónimas nacionais, a fim de relacionar a presença nesse órgão com a actividade política. Então, é que terá razão para tanto espanto.

Ou será que já sabe tudo isto e apenas se trata de esboçar um fugaz incómodo sobre mais um caso, eminentemente político, que passará sem mancha?
Por fim, do editorial em apreço sobressaem ainda duas ideias. Uma, relativa à perda “de ideologia na política” que terá gerado o “caldeirão de interesses”. A outra, resulta como síntese e leva a uma nova definição de política:

“Política, por estes lados, é puxar muitos cordelinhos e comer as laranjas que alguém (não importa quem) coloca sobre a mesa”.

1 comentário:

jcp (José Carlos Pereira) disse...

Tem razão JSC em dizer que exemplos destes abundam entre ex-ministros, ex-deputados e ex-pessoas titulares deste e daquele cargo. Contudo, o DE de hoje vem revelar que Mendes recebe 12.000 euros por ano por presidir à AG de uma empresa. 12.000 por uma ou duas reuniões por ano? Ou 12.000 pela disponibilidade para intervir com os seus conhecimentos (da política) aqui e ali.
Neste caso concreto, ficava mais confortável se o líder da oposição, tal como acontece em outros países, tivesse a mesma remuneração e as mesmas regalias do primeiro-ministro.