30 julho 2007

missanga a pataco 22


Um senhor chamado Ingmar Bergman


A primeira vez que fui ver um dos seus filmes (Morangos Silvestres, se não estou em erro) nos princípios de sessenta, houve “gritos e suspiros” na plateia. Senhoras desmaiavam. Cavalheiros empalideciam. O intervalo foi dramático. Que filme era aquele, que realizador se atrevia a ir tão longe e tão pungentemente?
A partir do primeiro filme, Bergman, ficou marcado para um certo público português: “Difícil”, “intelectual”, “metafísico” foram alguns dos mimos com que o apodaram. Convenhamos que o de intelectual era um tanto ou quanto estranho. Então um realizador de filmes não é, queira ou não, um intelectual? O mundo dos cinéfilos é bizarro!
De todo o modo, Bergman impôs-se. Pela qualidade evidente da sua escrita cinematográfica. Pelo cuidado que punha na direcção de actores que, entretanto, pareciam tão livres. Pela sua obsessiva pesquisa da natureza do homem, dos seus sonhos e pesadelos. Pela elegância, também. E finalmente pelas suas actrizes. Desde “Mónika e o desejo” é uma plêiade de grandes actrizes que chegam até nós graças a Bergman. E curiosamente também por aí chegava alguma modernidade. Mulheres livres num universo cinematográfico europeu que ainda usava um tipo feminino tradicional. Tentando não pescar nas turvas águas de uma certa critica cinematográfica que tem conseguido com um êxito invulgar afastar o público do cinema, gostaria de sublinhar que Bergman é o realizador do casal, mesmo se em quase todos os seus filmes este está em vias de dissolução. Poucos chegaram tão longe, e tão bem. Se isso parecer uma homenagem, pois que seja. A morte que agora o leva aos oitenta e nove anos tão vividos dá azo a que se fale do passamento do último grande mestre europeu. O que, apesar de Antonioni estar vivo mas perdido para o cinema, não deixa de ser verdade.

PS: Ontem domingo, morria também muito perto dos 89 anos, Michel Serrault, um enorme actor francês. Parece que tinha por lema: mais vale cinco minutos de génio num filme medíocre, que noventa normais num filme brilhante. Serrault teve centenas de minutos de gtrande brilho em filmes muito desiguais, para não falar no teatro que nunca abandonou. Parte, aureolado por vários “César” e, sobretudo, pelo reconhecimento e pelo amor do público. Poucos se podem gabar do mesmo. Chapeau!

* a gravura: cartaz de um dos seus mais admiráveis filmes.

1 comentário:

Luís Bonifácio disse...

Infelizmente não houve dois sem três!

Antonioni morreu ontem também