Petits sanglots d'automne (coluna social)
E eu a pensar que nunca escreveria sobre os faits-divers, sobre o dolicodoce social, e afinal o “monde” de ontem/hoje (o diabo do jornal sai a princípio da tarde, como seguramente sabem) o que me obriga a comprar pela manhã a imprensa mais revilharista (Canard, Charlie Hebdo etc...) para me manter em estado de ortodoxia esquerdista, e afinal eis que vos trago uma nota sobree o casamento da temporada: nada mais nada menos do que o de Henry Weber e da sua companheira de há trinta e tal anos Fabienne Servan-Schreiber. Weber, lembrar-se-ão os mais velhos foi um dos dois lideres da “mouvance” trotskista, consubstanciada primeiro na Liga Comunista Revolucionária e depois no jornal “Rouge”. Fabienne (que uma vez o Zé Leal Loureiro me terá mostrado no café Roland era uma mulher lindíssima que me fez detestar ainda mais os seguidores do velho Bronstein: o diabo dos fulanos armavam-se em carapaus de corrida e ainda por cima levavam as raparigas mais bonitas!
Bom, a história do jovem casal é simples: ela, produtora de televisão, viu Weber em pose de caudilho arengar às massas e foi tiro e queda: apaixonaram-se e toca de viver em concubinato público e notório até hoje, enfim, ontem. Entretanto muita água passou debaixo das pontes revolucionárias do Sena e o jovem Henri lá foi vogando para a esquerda baixa até ancorar no PS, ala Fabius. Também é, ou foi, deputado europeu e senador ou coisa parecida. Por razões que só a eles dizem respeito resolveram sair da clandestinidade conjugal e assinar os papeis. Pelo civil, apesar de tudo. E se bem o pensaram, melhor, muito melhor, o fizeram. Juntaram oitocentos convidados no Vel’d’hiv e aí vai disto: festa, discursos, saudades dos tempos antigos enfim o que nunca falta às chamadas festas da “gauche caviar” (gauche divine em Espanha, “esquerda festiva” em Portugal). O sóbrio “Le Monde” que nos bons tempos desta rapaziada era considerado burguês e fazendo parte do sistema, dedica-lhes uma página não isenta de ironia como quem diz, elas cá se fazem e cá se pagam. E descreve com pormenor os convidados, onde cabia tudo pelos vistos, mesmo alguns actuais membros do actual governo Sarkozy. E dava conta da falta de entusiasmo pelas danças mais modernas. Pudera! Ali tudo anda pelos sessenta! E um pouco pelo tom de melancolia que, como um anjo, passava pela velha catedral de tanta manifestação de esquerda, da deles, antes deles serem o que são agora, e minha também (idem, aspas, aspas) e de como o Jacques Brel tinha razão quando cantava “les bourgeois c’est comme des cochons” e de como “tout passe, tout casse, tout lasse”. E o “le monde” sempre fleumático mas sempre maldoso acrescentava que à festa só faltou Alain Krivine, o histórico chefe dos trotskistas que, por interposto Rouge, terá mandado dizer que não assistia a enterros e muito menos a debandadas para a direita.
E era nisso que eu vinha a pensar quando saía de “Au petit prince”, pequena livraria de saldos no “boul mich” com um volume (da Plêiade, escusado será dizê-lo) de Lautréamond na mão e um “Journal” do Gide (idem, idem) na outra. A cada um a sua reforma política e o seu modo de ser (in)fiel à sua “oisive jeunesse”.
De Paris-sur-la-nostalgie para as bonitas leitoras de incursões
mcr, enviado especial
o título pretende ser uma homenaghem ao poema de Verlaine que também foi cifra para o dia D. A gravura? Obviamente Isidore Ducasse, conde de Lautréamont
E eu a pensar que nunca escreveria sobre os faits-divers, sobre o dolicodoce social, e afinal o “monde” de ontem/hoje (o diabo do jornal sai a princípio da tarde, como seguramente sabem) o que me obriga a comprar pela manhã a imprensa mais revilharista (Canard, Charlie Hebdo etc...) para me manter em estado de ortodoxia esquerdista, e afinal eis que vos trago uma nota sobree o casamento da temporada: nada mais nada menos do que o de Henry Weber e da sua companheira de há trinta e tal anos Fabienne Servan-Schreiber. Weber, lembrar-se-ão os mais velhos foi um dos dois lideres da “mouvance” trotskista, consubstanciada primeiro na Liga Comunista Revolucionária e depois no jornal “Rouge”. Fabienne (que uma vez o Zé Leal Loureiro me terá mostrado no café Roland era uma mulher lindíssima que me fez detestar ainda mais os seguidores do velho Bronstein: o diabo dos fulanos armavam-se em carapaus de corrida e ainda por cima levavam as raparigas mais bonitas!
Bom, a história do jovem casal é simples: ela, produtora de televisão, viu Weber em pose de caudilho arengar às massas e foi tiro e queda: apaixonaram-se e toca de viver em concubinato público e notório até hoje, enfim, ontem. Entretanto muita água passou debaixo das pontes revolucionárias do Sena e o jovem Henri lá foi vogando para a esquerda baixa até ancorar no PS, ala Fabius. Também é, ou foi, deputado europeu e senador ou coisa parecida. Por razões que só a eles dizem respeito resolveram sair da clandestinidade conjugal e assinar os papeis. Pelo civil, apesar de tudo. E se bem o pensaram, melhor, muito melhor, o fizeram. Juntaram oitocentos convidados no Vel’d’hiv e aí vai disto: festa, discursos, saudades dos tempos antigos enfim o que nunca falta às chamadas festas da “gauche caviar” (gauche divine em Espanha, “esquerda festiva” em Portugal). O sóbrio “Le Monde” que nos bons tempos desta rapaziada era considerado burguês e fazendo parte do sistema, dedica-lhes uma página não isenta de ironia como quem diz, elas cá se fazem e cá se pagam. E descreve com pormenor os convidados, onde cabia tudo pelos vistos, mesmo alguns actuais membros do actual governo Sarkozy. E dava conta da falta de entusiasmo pelas danças mais modernas. Pudera! Ali tudo anda pelos sessenta! E um pouco pelo tom de melancolia que, como um anjo, passava pela velha catedral de tanta manifestação de esquerda, da deles, antes deles serem o que são agora, e minha também (idem, aspas, aspas) e de como o Jacques Brel tinha razão quando cantava “les bourgeois c’est comme des cochons” e de como “tout passe, tout casse, tout lasse”. E o “le monde” sempre fleumático mas sempre maldoso acrescentava que à festa só faltou Alain Krivine, o histórico chefe dos trotskistas que, por interposto Rouge, terá mandado dizer que não assistia a enterros e muito menos a debandadas para a direita.
E era nisso que eu vinha a pensar quando saía de “Au petit prince”, pequena livraria de saldos no “boul mich” com um volume (da Plêiade, escusado será dizê-lo) de Lautréamond na mão e um “Journal” do Gide (idem, idem) na outra. A cada um a sua reforma política e o seu modo de ser (in)fiel à sua “oisive jeunesse”.
De Paris-sur-la-nostalgie para as bonitas leitoras de incursões
mcr, enviado especial
o título pretende ser uma homenaghem ao poema de Verlaine que também foi cifra para o dia D. A gravura? Obviamente Isidore Ducasse, conde de Lautréamont
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