Não fora a provocação da Kami eu ter-vos-ia contado como uma caminhada de quilómetros acabou em profunda decepção se é que a palavra pode ser usada em Paris. Pelo menos por mim, claro. A verdade é que ontem, segunda feira resolvemos ir visitar o novo museu do cais de Branly, querido e realizado por Chirac. Os presidentes franceses têm este excelente hábito de deixar o nome ligado a grandes realizações de carácter cultural ( o centro Pompidou, a Biblioteca Mitterand etc...) Chirac, fino apreciador de artes exóticas, entendeu, e muito bem, deixar o seu nome associado a um museu onde finalmente se reuniriam e estudariam as artes ditas “primeiras” que, agora, já não é de bom tom chamar “primitivas”. Entregou a obra a um grande arquitecto, Jean Nouvel, e a verdade é que uma pessoa baba-se só de ver o novo museu por fora. A meio caminho entre Orsay e a torre Eiffel, reaproveitando inteligentemente um espaço vago ou desinteressante ao lado do Conselho Superior de Magistratura, eis um novo pólo estrategicamente situado em frente à zona de Alma e, mais longe, o Trocadero.
Por dentro o Museu é simplesmente impressionante. E bonito. O acesso desenvolve-se em volta dum espaço circular de vários andares onde estão, guardadas mas visíveis, as reservas de instrumentos musicais. Só aí, já o curioso perde um tempo enorme mesmo que não queira ver tudo. E depois há o longo percurso das tais arts premiéres: A Oceânia, A Ásia, a África e as Américas. Se alguma reserva se pode fazer é uma apenas: não haver pontos de saída explícitos porque ver tudo isto de uma assentada é uma violência e uma burrice. Ao fim de algum tempo a sensibilidade embota-se e corre-se o risco de “não ver” ou ver mal coisas que, além de importantes, são duma beleza quase sempre avassaladora. Já vi vários museus e muitas colecções semelhantes em Novas Iorque, Berlim ou cá. Devo dizer que, sem estar para aqui a dar classificações tontas e pretensiosas, esta colecção parisiense é absolutamente incontornável. E com uma vantagem: o centro de estudos associado ao Museu, herança, suponho, das práticas do Musée de l’Homme, abre ao amador que sou possibilidades excelentes.
Nesta altura além das colecções permanentes, havia uma exposição sobre a arte do Benim, tesouros reais do Benim, que para qualquer pessoa seria superlativa dada a qualidade das obras expostas mas que, para nós, portugueses, tem um outro especial interesse. De facto os nossos antepassados entraram em contacto com o poderoso estado do Benim no século XVI e deixaram na arte destes povos um rasto considerável. Ao que me foi dado perceber (ainda não abri o gigantesco catálogo que me custou uma nota bem preta, passe o trocadilho) a presença de aventureiros, comerciantes e soldados portugueses foi uma constante a ponto de alguns reis do Benim terem tropas mercenárias portuguesa ao seu serviço, artilheiros sobretudo mas também mosqueteiros e até homens armados com arbaletos. Vê-los foi uma comoção, creiam-me.
Claro que nenhum museu está livre de criticas e este vosso criado apressa-se a fazer parte do grupo dos “sim mas...”: à saída, a fome apertava e quisemos almoçar no restaurante: impossível, estava todo por conta de um grupo privado. Ou seja: agora parece que é fino ir ao museu não para ver o que há a ver mas para ocupar o restaurante e o pessoal estafado pelo percurso que vá comer uma tartine ao bar. Ora bolas... para este detestável hábito e esta voracidade dos grupos privados.
Mas vejo agora que comecei este artigo falando duma decepção. De facto quando na segunda feira lá chegámos demos com o nariz na porta. O museu tinha mudado os seus horários há uma semana. Convenhamos que fazer meia dúzia de quilómetros em vão, pedibus calcantibus, porque a CG não alinhou na ideia de alugarmos bicicletas, abate um cidadão sexagenário e recentemente aposentado por bons e leais serviços à pátria madrasta. Isso e a notícia de que Meneses é o novo patrão do PPD ( que a princípio tomei por anedota de mau gosto) quase nos fazem irritarmo-nos em Paris. Felizmente não há desgosto que não passe com uma boa selle d’agneau com um molho que não vos digo nem vos falo. Alguém daí murmurou “cuisine bourgeoise”? "Exactamente!", respondo. "Fiquem com essas novidades esotéricas que não alimentam sequer uma criança anoréxica. Quem faz a quilometragem que eu faço por cá precisa de muita e boa substância. E com um bom Médoc a acompanhar que a água é só para tirar a sede".
Por dentro o Museu é simplesmente impressionante. E bonito. O acesso desenvolve-se em volta dum espaço circular de vários andares onde estão, guardadas mas visíveis, as reservas de instrumentos musicais. Só aí, já o curioso perde um tempo enorme mesmo que não queira ver tudo. E depois há o longo percurso das tais arts premiéres: A Oceânia, A Ásia, a África e as Américas. Se alguma reserva se pode fazer é uma apenas: não haver pontos de saída explícitos porque ver tudo isto de uma assentada é uma violência e uma burrice. Ao fim de algum tempo a sensibilidade embota-se e corre-se o risco de “não ver” ou ver mal coisas que, além de importantes, são duma beleza quase sempre avassaladora. Já vi vários museus e muitas colecções semelhantes em Novas Iorque, Berlim ou cá. Devo dizer que, sem estar para aqui a dar classificações tontas e pretensiosas, esta colecção parisiense é absolutamente incontornável. E com uma vantagem: o centro de estudos associado ao Museu, herança, suponho, das práticas do Musée de l’Homme, abre ao amador que sou possibilidades excelentes.
Nesta altura além das colecções permanentes, havia uma exposição sobre a arte do Benim, tesouros reais do Benim, que para qualquer pessoa seria superlativa dada a qualidade das obras expostas mas que, para nós, portugueses, tem um outro especial interesse. De facto os nossos antepassados entraram em contacto com o poderoso estado do Benim no século XVI e deixaram na arte destes povos um rasto considerável. Ao que me foi dado perceber (ainda não abri o gigantesco catálogo que me custou uma nota bem preta, passe o trocadilho) a presença de aventureiros, comerciantes e soldados portugueses foi uma constante a ponto de alguns reis do Benim terem tropas mercenárias portuguesa ao seu serviço, artilheiros sobretudo mas também mosqueteiros e até homens armados com arbaletos. Vê-los foi uma comoção, creiam-me.
Claro que nenhum museu está livre de criticas e este vosso criado apressa-se a fazer parte do grupo dos “sim mas...”: à saída, a fome apertava e quisemos almoçar no restaurante: impossível, estava todo por conta de um grupo privado. Ou seja: agora parece que é fino ir ao museu não para ver o que há a ver mas para ocupar o restaurante e o pessoal estafado pelo percurso que vá comer uma tartine ao bar. Ora bolas... para este detestável hábito e esta voracidade dos grupos privados.
Mas vejo agora que comecei este artigo falando duma decepção. De facto quando na segunda feira lá chegámos demos com o nariz na porta. O museu tinha mudado os seus horários há uma semana. Convenhamos que fazer meia dúzia de quilómetros em vão, pedibus calcantibus, porque a CG não alinhou na ideia de alugarmos bicicletas, abate um cidadão sexagenário e recentemente aposentado por bons e leais serviços à pátria madrasta. Isso e a notícia de que Meneses é o novo patrão do PPD ( que a princípio tomei por anedota de mau gosto) quase nos fazem irritarmo-nos em Paris. Felizmente não há desgosto que não passe com uma boa selle d’agneau com um molho que não vos digo nem vos falo. Alguém daí murmurou “cuisine bourgeoise”? "Exactamente!", respondo. "Fiquem com essas novidades esotéricas que não alimentam sequer uma criança anoréxica. Quem faz a quilometragem que eu faço por cá precisa de muita e boa substância. E com um bom Médoc a acompanhar que a água é só para tirar a sede".
na gravura: vista do museu
3 comentários:
Leitora fiel dos seus textos, ainda que não comente, que uma pessoa simples assim como eu não consegue tratar da vida, ler e ter opinião sobre tanta coisa e ainda para mais escrevê-la, reparo que entre o seu último "au bonhuer" e este faltam 2 números! Na esperança de que fosse falha do obsoleto pc (personal computer, entenda-se), cliquei no "label" no final do post, mas nada, faltam 2 mesmo 2 textos, para malheur de dames et monsieurs!
Ilustre que dá pelo nick de MCR, peço-lhe na qualidade de leitora e admiradora, reponha a normalidade no éter, para consolo geral. Bem haja.
querida Leitora: é para já.
E desculpe mas eu nisto de numerar sou um asno completo e nem seqyer ajezado à andaluza como o do Mário Sá Carneiro...
Com que então recentemente aposentado? Vai daí, toca a andar para Paris assinalar o facto. Vá lá que mantém a janela aberta para estes seus amigos.
Um abraço
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