11 outubro 2007

Estes dias que passam 80

Nem sequer alegria...

Um miserável que, por acaso, quero crer, eu que nada tenho de religioso, também era padre católico foi condenado ontem a uma pena de prisão perpétua.
A sentença vem com atrazo, vinte, trinta anos de atrazo. Grande parte das vítimas já não está cá, falo apenas das que sobreviveram, e não dos mortos, que foram muitos, demasiados, nisto os mortos são sempre demasiados, mas duvido bem que sequer esses ainda vivos sintam algo mais do que um sentimento de alívio.
É que esta sentença, tardia, repito, vem apenas avisar os possíveis potenciais tiranetes que de quando em quando as acções têm castigo mormente a tortura de de prisioneiros inermes.
Houve quem achasse que o facto de ser um padre católico o criminoso não tinha qualquer importãncia. O que interessa é os factos e não a condição profissional do carrasco. Esquecem essas boas almas que os prisioneiros que se viram confrontados com este homem eram na sua esmagadora maioria católicos. E que, para esses farrapos de gente tão perto da morte, a condição de padre do seu torturador era um prego mais na cruz onde penavam. Ou seja até a esperança na fé lhes era, por obra e graça deste sacerdote, negada.
E isso, na especial situação da Argentina, parece mesmo que nem sequer terá sido uma excepção. Não que outros religiosos tenham seguido as pisadas do agora condenado, mas apenas porque o silêncio das instituições religiosas foi ensurdecedor. Esta condenação talvez faça também um pequeno milagre e esse será o de pôr uma Igreja desastradamente silenciosa a falar. E poderiam começar, por exemplo, com uma palavra: Perdão.
Mesmo eu, que não sou religioso, poderei relembrar-lhes aquela passagem do acto de contrição: "dizei uma só palavra e a minha alma será salva" (espero não me ter enganado...).
estamos todos à espera de a ouvir.

na gravura: mães da Praça de Maio.

3 comentários:

Kamikaze (L.P.) disse...

Conteúdo: Pois é Marcelo, sobre isto até eu, moi, je, tão arredada de escritas, pus umas palavrinhas, mais singelas claro, e fotos, ali em baixo.

Forma: não era 89, era 80. "Estes dias que passam 80". Corrigi.
De novo a sugestão: clique na etiqueta (no caso "estes dias que passam", acessível, por ex., no modo "editar posts" oi noutro post do blog com amesma etiqueta, antes de numerar o seu novo post.

M.C.R. disse...

Escreveu e escreveu muito bem. eu li (excepto a tal hiper-ligação) e apreciei. Tentei apenas referir (se diferença isso é) o facto de na Argentina a Igreja ter andado calada e muda como se aquilo tudo não fosse com ela. E começo mesmo a desconfiar que esta condenação revela apenas a ponta do iceberg. Haverá mais padres, freiras e membros da Igreja comprometidos? Dever-se-á a isso o silêncio?

Albino M. disse...

O Marcelo tem de mudar os óculos: atraso...
è com "s".
Abc.