Desastrado? Desastrado ao cubo!
A semana, se é que uma semana começa à segunda e não ao domingo como pareceria mais congruente, segunda é segunda ou não?, começa aos tropeções. O João Tunes atirou-me com uma cadeia dessas que depois temos de passar a cinco outros inocentes, sobre uma página 161, 5ª linha do livro que tivermos à mão. Sorte a dele, enfim, meia sorte, porque naquele momento não estava de “Dicionário abreviado del español actual” do Manuel Seco et alia na unha. Já imaginaram o que seria eu escrever argamasar tr (Constr) Unir [algo] con argamasa. la plata.
Isto, porque em obediência ao mandado eu teria de citar a quinta linha inteira mesmo quando, como é o caso, o dicionário tem duas colunas.
Claro que se poderia dizer que era escrita automática mas surrealices dessas não cabem em obras sérias como é atributo dos dicionários.
Obras sérias? Enfim... é que logo ao lado, na mesma pilha, estava o honrado (?) “Dictionnaire des expressions paillardes et libertines (de la littérature française)” de Jean-Marc Richard, filipacchi, 1993 cuja 5ª da 161 reza: FAIRE BÂILLER LA MOULE: exciter sexuellement une femme.
E imediatamente a seguir, caprichos da sorte e acasos da vida de um tradutor semi-amador: 5. Cojón, 5ª acp, en pl. (Cela [Camilo José] “Diccionario secreto [1]”, Alianza, Alfaguara, 1978.
A pilha verdadeira terminava com mais dois dicionários. O primeiro devido à pena sempre bem-vinda de Fernando António Almeida (“Vidas maravilhosas de antigos santos”, teorema, 2005, trata-se de facto de uma adaptação da “Legenda áurea”). E aí, uma condenação: este foi o miserável fim que teve Julião, o Apóstata, o inimigo de Cristo.
Eu não queria pôr a derradeira possível frase mas, amicus Plato sed magis amica veritas, o dever impõe-se-me: “trous (sexe feminin): ce saint ferait danser les tros féminins (ed. - entrada relativa a Saint Balletrou, no “Dictionnaire des saints imaginaires et facetieux”, de Jacques E. Merceron, Seuil, 2002, doutíssima obra que conta com, nada mais nada menos!, 1295 páginas!!!
Todavia, ficou salva a honra do convento. Aqui mesmo à mão esquerda, a boa, estavam as “Mémoires” do Cardeal de Retz que ando a ler aos soluços mas – advirto - maravilhado (como é que passei dois terços da vida sem ler este cavalheiro?). E a frase é, também ela vagamente referida à dimensão espiritual (trata-se de referir o temível Mazarino...), prova evidente que isto das cadeias é para levar a sério, muito a sério, mesmo. A frase anda por aí em post próprio e atirada a cinco colegas da casa (é o que vale estar amesendado num blog colectivo...) que terão de ir pela quinta linha da pagina cento e qualquer coisa para se salvarem não sei bem de quê, mas, na dúvida o melhor é darem à perna e passarem a terceiros essa responsabilidade que me foi passada pelo Tunes, valente marmanjão, que já a tinha recebido dum tal João Paulo (não me digam! Será que... não, não pode ser, o senhor morreu, todavia... isto quando mete gens eclesiastica é terrível.) Vai-se a ver e, se calhar, o Tunes, é irmão laico de alguma coisa... Sei lá, só sei de mim, e isso estejam descansados que eu sou um pobre réprobo, um descrente, uma espécie de bom selvagem votado ao limbo, que já não há, valente chatice, ou ao inferno, que parece que também já deu o triste pio, isto está difícil encaixar os mortos, depois de mortos, a crise é geral, não há espaço nos cemitérios, felizmente que eu não me importo, façam-me do cadáver o que quiserem, podem mesmo dar-me ao teatro anatómico, até ficava bem, eu fui do Citac com muita honra, não me importo de me oferecer em espectáculo depois de morto, mas ao menos tapem-me as partes que pode haver senhoras na plateia, se é que o teatro anatómico ainda tem disso. Não que me incomode o pudor delas, nada disso, mas é que as partes, se eu morrer, como penso, lá para os noventinhas, hão-de estar num estado deplorável a merecer uma pateada injusta se considerarem a idade do actor, mesmo mudo, um gajo é um actor, ora essa, e não se lhe faz essa desfeita. E paro aqui que para cadeia de inconveniências já esgotei a minha ração semanal, a partir de hoje é escrever com muito ourelo, muito respeitinho, senão vem aquele ministro que fala da imprensa e zás!, ferra-me com uma multa, ou até, sabe-se lá com uma pena de prisão, mesmo remível a dinheiro a pena de prisão é uma chatice. E vou mas é arrumar os dicionários, livrinhos mais atrevidos, onde é que se viu?
a ilustração: foi dificil arranjar uma ilustração que não fosse demasiado caricatural. Felizmente existe um senhor, grande amador de jazz, desenhador de renome, chamado Siné (Maurice Siné) autor de um livrinho sobre gatos de que surripiei este desenho.
Isto, porque em obediência ao mandado eu teria de citar a quinta linha inteira mesmo quando, como é o caso, o dicionário tem duas colunas.
Claro que se poderia dizer que era escrita automática mas surrealices dessas não cabem em obras sérias como é atributo dos dicionários.
Obras sérias? Enfim... é que logo ao lado, na mesma pilha, estava o honrado (?) “Dictionnaire des expressions paillardes et libertines (de la littérature française)” de Jean-Marc Richard, filipacchi, 1993 cuja 5ª da 161 reza: FAIRE BÂILLER LA MOULE: exciter sexuellement une femme.
E imediatamente a seguir, caprichos da sorte e acasos da vida de um tradutor semi-amador: 5. Cojón, 5ª acp, en pl. (Cela [Camilo José] “Diccionario secreto [1]”, Alianza, Alfaguara, 1978.
A pilha verdadeira terminava com mais dois dicionários. O primeiro devido à pena sempre bem-vinda de Fernando António Almeida (“Vidas maravilhosas de antigos santos”, teorema, 2005, trata-se de facto de uma adaptação da “Legenda áurea”). E aí, uma condenação: este foi o miserável fim que teve Julião, o Apóstata, o inimigo de Cristo.
Eu não queria pôr a derradeira possível frase mas, amicus Plato sed magis amica veritas, o dever impõe-se-me: “trous (sexe feminin): ce saint ferait danser les tros féminins (ed. - entrada relativa a Saint Balletrou, no “Dictionnaire des saints imaginaires et facetieux”, de Jacques E. Merceron, Seuil, 2002, doutíssima obra que conta com, nada mais nada menos!, 1295 páginas!!!
Todavia, ficou salva a honra do convento. Aqui mesmo à mão esquerda, a boa, estavam as “Mémoires” do Cardeal de Retz que ando a ler aos soluços mas – advirto - maravilhado (como é que passei dois terços da vida sem ler este cavalheiro?). E a frase é, também ela vagamente referida à dimensão espiritual (trata-se de referir o temível Mazarino...), prova evidente que isto das cadeias é para levar a sério, muito a sério, mesmo. A frase anda por aí em post próprio e atirada a cinco colegas da casa (é o que vale estar amesendado num blog colectivo...) que terão de ir pela quinta linha da pagina cento e qualquer coisa para se salvarem não sei bem de quê, mas, na dúvida o melhor é darem à perna e passarem a terceiros essa responsabilidade que me foi passada pelo Tunes, valente marmanjão, que já a tinha recebido dum tal João Paulo (não me digam! Será que... não, não pode ser, o senhor morreu, todavia... isto quando mete gens eclesiastica é terrível.) Vai-se a ver e, se calhar, o Tunes, é irmão laico de alguma coisa... Sei lá, só sei de mim, e isso estejam descansados que eu sou um pobre réprobo, um descrente, uma espécie de bom selvagem votado ao limbo, que já não há, valente chatice, ou ao inferno, que parece que também já deu o triste pio, isto está difícil encaixar os mortos, depois de mortos, a crise é geral, não há espaço nos cemitérios, felizmente que eu não me importo, façam-me do cadáver o que quiserem, podem mesmo dar-me ao teatro anatómico, até ficava bem, eu fui do Citac com muita honra, não me importo de me oferecer em espectáculo depois de morto, mas ao menos tapem-me as partes que pode haver senhoras na plateia, se é que o teatro anatómico ainda tem disso. Não que me incomode o pudor delas, nada disso, mas é que as partes, se eu morrer, como penso, lá para os noventinhas, hão-de estar num estado deplorável a merecer uma pateada injusta se considerarem a idade do actor, mesmo mudo, um gajo é um actor, ora essa, e não se lhe faz essa desfeita. E paro aqui que para cadeia de inconveniências já esgotei a minha ração semanal, a partir de hoje é escrever com muito ourelo, muito respeitinho, senão vem aquele ministro que fala da imprensa e zás!, ferra-me com uma multa, ou até, sabe-se lá com uma pena de prisão, mesmo remível a dinheiro a pena de prisão é uma chatice. E vou mas é arrumar os dicionários, livrinhos mais atrevidos, onde é que se viu?
a ilustração: foi dificil arranjar uma ilustração que não fosse demasiado caricatural. Felizmente existe um senhor, grande amador de jazz, desenhador de renome, chamado Siné (Maurice Siné) autor de um livrinho sobre gatos de que surripiei este desenho.
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