1. Em Moçambique, no antigo “território de Manica e Sofala” (era assim que ainda em 1934 -!!!- se chamava esta vastíssima zona governada pela “Companhia de Moçambique) foi interceptado um camião com quarenta crianças que, tudo indica, iriam ser traficadas na África do Sul. Que tráfico? Não mo indicam, mas tudo parece levar a crer que ou se destinavam à prostituição infantil ou, pior ainda, a serem meros fornecedores de órgãos.
2. Na União Indiana, a “maior democracia do mundo”, foi desmantelada uma rede que comprava rins a operários pobres (havê-los-á ricos? Na Índia?) para vender aos novos ricos da classe emergente indiana. Põe-se-me um problema: será que para fins meramente medicinais se pode transplantar o rim de um dalit (classe inferior), um intocável, para o mal tratado costado de um brâmane?
3. Parece que há quem atribua a remodelação governamental aos clamores da “rua”. Eu fico sempre um pouco de pé atrás com este género de desqualificações. A “rua” é o nome que se dá às multidões que não tendo grandes estudos nem grande estatuto político ou social, não encontra outro meio de mostrar a sua raiva, a sua indignação e, finalmente, a sua desgraçada situação de abandono, senão manifestando-se. Essa mesma multidão, no momento do voto, é solicitada abjectamente pelos mesmíssimos políticos que depois lhe chamam depreciativamente “rua”.
E é curioso que o termo é menos usado pela grande burguesia e pelos aristocratas do que pelos arrivistas que desesperadamente procuram um modo de se distinguir da pequena burguesia de onde vieram...
E, esquecia-me, pelos conversos, pelos que no caminho de Damasco, viram a luz cegadora do poder mesmo que esse mesmo poder só os utilize como “chiens de garde”.
4. Em Espanha, há uns anos, um automobilista atropelou mortalmente um jovem ciclista. Agora resolveu pedir uma indemnização de 20.000 euros pelos estragos na sua viatura. Como seria de esperar, isto despertou as iras dos cidadãos, da rua, para usar um termo em voga.
Hoje o julgamento durou dois minutos: o atropelador que pedia os vinte mil euros desistiu da causa. Segundo os seus advogados “foi crucificado pelos meios de comunicação social”. E isso fê-lo desistir. Que pena!
Moral da história: lá como cá, a culpa é sempre dos “media”.
E da rua!
E das vítimas!
E dos pobres!
* a gravura: "o caminho de Damasco", claro... O problema é que S. Paulo houve um e não se vê modo de voltar a repetir a proeza. Não que a história se não repita. Repete-se. Só que desta vez é em tom de chalaça...
** a expressão "chiens de garde" é pilhada a Nizan. Pena ser pouco lido, esse autor que já nos alvores da guerra descobria a trágica mentira do aparelho.
2. Na União Indiana, a “maior democracia do mundo”, foi desmantelada uma rede que comprava rins a operários pobres (havê-los-á ricos? Na Índia?) para vender aos novos ricos da classe emergente indiana. Põe-se-me um problema: será que para fins meramente medicinais se pode transplantar o rim de um dalit (classe inferior), um intocável, para o mal tratado costado de um brâmane?
3. Parece que há quem atribua a remodelação governamental aos clamores da “rua”. Eu fico sempre um pouco de pé atrás com este género de desqualificações. A “rua” é o nome que se dá às multidões que não tendo grandes estudos nem grande estatuto político ou social, não encontra outro meio de mostrar a sua raiva, a sua indignação e, finalmente, a sua desgraçada situação de abandono, senão manifestando-se. Essa mesma multidão, no momento do voto, é solicitada abjectamente pelos mesmíssimos políticos que depois lhe chamam depreciativamente “rua”.
E é curioso que o termo é menos usado pela grande burguesia e pelos aristocratas do que pelos arrivistas que desesperadamente procuram um modo de se distinguir da pequena burguesia de onde vieram...
E, esquecia-me, pelos conversos, pelos que no caminho de Damasco, viram a luz cegadora do poder mesmo que esse mesmo poder só os utilize como “chiens de garde”.
4. Em Espanha, há uns anos, um automobilista atropelou mortalmente um jovem ciclista. Agora resolveu pedir uma indemnização de 20.000 euros pelos estragos na sua viatura. Como seria de esperar, isto despertou as iras dos cidadãos, da rua, para usar um termo em voga.
Hoje o julgamento durou dois minutos: o atropelador que pedia os vinte mil euros desistiu da causa. Segundo os seus advogados “foi crucificado pelos meios de comunicação social”. E isso fê-lo desistir. Que pena!
Moral da história: lá como cá, a culpa é sempre dos “media”.
E da rua!
E das vítimas!
E dos pobres!
* a gravura: "o caminho de Damasco", claro... O problema é que S. Paulo houve um e não se vê modo de voltar a repetir a proeza. Não que a história se não repita. Repete-se. Só que desta vez é em tom de chalaça...
** a expressão "chiens de garde" é pilhada a Nizan. Pena ser pouco lido, esse autor que já nos alvores da guerra descobria a trágica mentira do aparelho.
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