07 fevereiro 2008

Au Bonheur des Dames 111


Há bancos e bancos...

Hoje continuámos a ver Modigliani. Desta feita na Fundação Caja Madrid aqui a dois passos do hotel. De facto, a Caja Madrid está associada ao Museu Thyssen nesta empreitada de mostrar Modigliani no seu contexto histórico e artístico. Assim, na Caja, mostram-se vários amigos e companheiros do pintor, bem como os seus nus, alguns desenhos e as escassas paisagens que pintou.
Tem aliás graça o facto de três pintores terem pintado a mesma paisagem do sul de França. Assim de repente só recordo Soutine além de Modigliani. Como é possível ver-se uma paisagem tão diferentemente e, ao mesmo tempo, tão semelhante!
Esta segunda parte da exposição tem outro especial atractivo para mim. De facto, desde há algum tempo ando a ler uma série de coisas sobre o período 1900-1930 (de que também já aqui falei brevemente): textos sobre Montparnasse, os surrealistas, Appolinaire, Cézanne, Kiki de Montparnasse (madrinha de uma das minhas gatas e autora excelente de umas memórias de grande qualidade que mereceram um dos dois únicos prefácios que Hemingway escreveu e pintora de talento). Pois bem esta exposição vem mesmo a jeito para ilustrar ainda mais esse período esplendoroso da arte e da cultura ocidentais, provavelmente o mais fecundo do seculo XX.
Junte-se a isso, que para mim não é pouco, o facto desta exposição ser absolutamente gratuita e veja-se (com tristeza...) que diferença abissal vai daqui para aí.
Aí os bancos podem eventualmente pagar uma parte de uma exposição. Mas cobram depois a entrada que eles não foram feitos para perder sequer um cêntimo. Fundações com origem neles é uma miragem à engenheiro Mário Lino, se é que me permitem juntar a personagem a este texto. E a Caja Madrid não é caso único antes pelo contrário.
E há quem me leve a mal este vago iberismo de que vou dando alguma pequena prova!
Amanhã vou passar por uma enorme exposição de Picasso. A colecção do museu Picasso de Paris que entrou em obras! É no Reina Sofia aqui a dois passos. E daqui a pouco abrem mais umas quantas mostras para aproveitar a ARCO e o movimento dela resultante.
Ambas as exposições estarão até Maio se não estou em erro, meados de Maio! Vale a pena dar um salto a Madrid, o problema é que há sempre coisas demais para ver...
E daqui a meses começam as comemorações da guerra peninsular, do 2 de Maio de que já há livros por todo o lado. Até nisso temos sorte: estamos instalados no coração da cidade revoltada. O mesmo é dizer da cidade que assistiu ao século de ouro. Com um pouco de imaginação ouvimos por estas ruas de nomes tão antigos o rumor das espadas, as discussões literárias, os mentideros sobre o Rei ou os Reis de Filipe III até Fernando VII o desastrado rei que, mesmo assim, foi o emblema da revolta de 1808. A dos que diziam “vivan las ca(d)enas!”
Honra nos seja que para essa guerra também contribuímos.

* na gravura: escultura de Zadkine, contemporâneo e amigo de Modigliani (e também presente na exposição)

2 comentários:

O meu olhar disse...

Bem mcr, ouvi dizer algures que a inveja é um pecado mortal. Pois seja, eu também sou mortal e estou roída de inveja de si. Pelo que me é dado a ler devem estar a gozar à grande e à… espanhola. Ao ler o seu texto consegui, por diversas vezes, imaginar-me nos locais. Daí a inveja, porque, afinal, aqui estou, cheia de trabalho e fechada entre quatro paredes.
A leitura do seu texto fez-me também ter saudades de uma bela manhã em que estava em Paris em trabalho, sozinha, e aproveitei essa manha que tinha livre para visitar o Museu de Picasso que era perto do hotel onde eu estava. Foi uma manhã de encantamento. Por um lado, estava neve em Paris. As ruas estavam lindíssimas. Por outro, mergulhei no mundo de Picasso de cabeça, plenamente.
Obrigada por e fazer recordar esse dia.
Um abraço e continuação da diversão!

M.C.R. disse...

A sua inveja acaba por ser pecado venial porquanto é benigna.
É justamente a exposição permanente do "hotel salé", museu nacional picasso, que está em Madrid. em confronto com a guernica e com os picassos ali residentes. Imperdível. E Madride é sempre uma belíssima cidade....