17 abril 2008

A Arte da Economia

O Governo acaba de aprovar um novo prazo máximo para os créditos bonificados na compra de habitação, que passa a ser de 50 anos.

A comunicação social, em bloco e com o rigor que a caracteriza, desatou logo a anunciar a poupança que o novo regime vem trazer para os portugueses endividados com a habitação. O próprio Ministro das Finanças induziu essa leitura ao dar o exemplo de que quem paga 197 euros mensais vai passar a pagar 140 euros, o que determina uma poupança de 57 euros mensais, cito de cor.

Sem por em causa a importância e oportunidade da medida, face à crise no mercado imobiliário (que não é referida), o que me surpreende é que se fale em poupança, quando o que se trata é de diferir o pagamento da dívida e, consequentemente, com mais encargos. Ou estou muito enganado ou não há qualquer poupança neste processo de chutar para a frente a amortização da dívida.

Contudo, não restam dúvidas que quem optar por alongar o prazo do empréstimo vai ver reduzida a sua prestação mensal e talvez pense que está a poupar o que não paga agora, mas vai pagar mais adiante. A verdade é que vai ficar com mais dinheiro disponível para afectar a outros gastos, por isso a provável ilusão de que está a poupar.

A economia tem destas coisas e até pode levar as pessoas a pensar que poupam o que verdadeiramente não poupam.

2 comentários:

jcp (José Carlos Pereira) disse...

Voilá, meu caro.

M.C.R. disse...

Et revoilá, mon cher1
em cheio na parte óssea da barriguinha!
ou de como uma medida destinada mais a reanimar o mercado imobiliário poderá passar como um favor aos cidadãos sem casinha.
Ou ainda: eis uma medida que vem tentar evitar a entrada de numerosas famílias na lista dos créditos incobráveis!