29 maio 2008

Au Bonheur des Dames 125


Da cidade para o mundo


Hoje quero carne!”, avisou a CG em tom cavernoso. E o caso não era para menos. Isto de tentar ir ao Vaticano numa quarta-feira não lembra ao diabo. Mas lembrou-me a mim, desconhecedor dos mistérios do rito. Resultado: praça cheia de gente vinda das mais desvairadas partes, com direito a missa e Papa.
E a basílica? perguntei a um carabineiro. Só depois da uma, respondeu-me.
Eram dez e pouco da manhã. Não me apetecia ouvir missa mesmo papal. O sol ia alto e quente. Entreguei-me ao “bon vouloir” da CG. Que começou por pedir um sumo fresquinho de laranja para pensar. Depois de meio sumo e três cigarros, numa esplanada, reconheceu que esperar tanto era “uma seca”. E regressamos ao mundo pecador, a tempo de almoçar num restaurante na zona do Panteão.
Ao nosso lado instalaram-se seis americanas, quatro muito novas e duas com ar maternal. Entre todas comeram duas pizzas sempre com ar enjoado. Uma delas rolava os olhos com medo de uma pomba que debicava restos. “The bird”, guinchava, I’m scared with the bird!. Olhando para a assustadiça que com os seus dezoito anos e setenta quilos confessava o seu horror pelo pássaro enquanto dizia mal de Roma, dos romanos, do tempo, da água S. Pellegrino e de não sei mais quê, percebi a razão de algum anti-americanismo europeu.
Pela tarde, e para se ressarcir do desgosto da não visita, a CG pediu para regressar à Via dei Condotti. A pretexto de umas compritas para a filha... Pimba! Se aquilo são compritas eu sou um americano com medo de pássaras...
A tarde quente, claro!, foi-nos guiando preguiçosamente por pequenas ruas e praças. Ainda tentei beber um cervejinha em S Lorenzo in Lucina (magnífica igreja!) mas as esplanadas estavam cheias como um ovo. Mais abaixo, em pleno Montecitorio as televisões entrevistavam uma “excelência” gorda e pesada que devia ter coisas importantíssimas para dizer. Subitamente numa esquina, dou de caras com uma cartoleria onde comprei uns papeis lindíssimos para encadernar a livralhada mais precisada. Eu perco a cabeça com estes papeis feitos à mão. O pior é o preço: 17 eurinhos por uma folha!
Jantámos magnificamente num restaurante na piazza de S. Eustachio (foi aqui que Leão X foi corado Papa.)
. Umas verduras grelhadas e gratinadas para abrir e o tal bife exigido pela CG. Eu refugiei-me num spaghetti alle vongole verace.
Ao nosso lado, outros seis americanos: dois homens, duas senhoras e duas raparigas. Civilizadíssimos. God bless America, murmurei in petto.

* na gravura: S Eustachio

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