09 maio 2008

Estes dias que passam, 108


Ora, ora...

Bob Geldof
chamou criminosos aos dirigentes de Luanda. E daí? Foi surpresa para alguém? Haverá por estas bandas uma pessoa que desconheça esta evidência triste e brutal?
Eu sei, com pesar o reconheço, que a verificação do que se passa em Angola é, para muitos (quase todos) dos que se solidarizaram com a luta anti-colonial, um terrível exercício.
Poderia pensar-se – e muitos porventura pensarão – que foram inúteis os sacrifícios, os medos, as angústias - a prisão por vezes – que a solidariedade com os povos coloniais acarretou.
Como de costume, o problema está mal equacionado. Ser contra o estado de coisas reinante nas colónias não implicava, nem implica, solidariedade com os governantes que depois da independência foram surgindo.
E no caso de Angola isso é patente. Muitos dos primeiros lutadores anti-coloniais já morreram, muitos outros, mais, mesmo, foram perseguidos, há um largo grupo deles espalhado por esse mundo, exilados, fugitivos dos cleptocratas de Luanda. Do primeiro núcleo de dirigentes angolanos poderiam referir-se logo à a cabeça os Pinto de Andrade (Mário e Joaquim) ou o Viriato da Cruz. Esmagados pela história e pelos zelosos burocratas do MPLA e pelas sucessivas e infamantes polícias políticas que eles criaram.
A história dos últimos trinta anos de Angola é sinistra: a lista dos mortos, dos presos e dos desaparecidos faria empalidecer de inveja o senhor general Pinochet ou os seus colegas argentinos. A guerra civil aberta ou larvar deu azo a tudo, a começar pelo roubo sem peias das riquezas nacionais, pelo escândalo das ligações às quadrilhas internacionais e pela violência cada vez mais insuportável das declarações dos dirigentes angolanos e pela miséria agressiva da sua imprensa.
Angola é uma pústula no coração de África e isso sabemo-lo todos desde há muito.
O que, eventualmente se desconhecia (???!!!) era a cumplicidade objectiva de grandes grupos financeiros nacionais e internacionais com a ditadura angolana. Ficou agora à vista com as reacções às declarações de Geldof. Ou melhor: reforçou-se.
De facto, esta nova ida em força para Angola tem, para as empresas portuguesas e estrangeiras um ónus fatal. Elas sabem com quem vão contratar. Elas sabem a quem vão untar a pata. Elas sabem que a arraia miúda de Luanda ou do interior não verá senão uns trocos das imensas somas que os negócios gerarem. O resto vai direito para os bolsos da ladroagem, para os bancos de certos paraísos fiscais, se é que não se acoitam escondidos por aí.


1 comentário:

Mocho Atento disse...

Os bons negócios fazem-se sempre!

E o resto é treta!...

De facto, as guerras de libertação e as utopias geraram ditaduras e cleptocracias, sustentadas em nome da solidariedade revolucionária. As culpas são sempre dos colonialistas ou dos inimigos internos!!!