O Alentejo, os pobres, Cuba e as cataratas
Está a causar grande escândalo o envio de doentes para Cuba. Vão fazer operação às cataratas. Vão quase cegos, fartos de anos de espera. Chegam lá e, além da operação, são submetidos a check-ups gerais e, como foi possível, hoje, ouvir na televisão, regressam melhor, a ver e tratados de outras maleitas de que padeciam.
Quem me costuma ler sabe bem que não nutro pelo regime cubano qualquer carinho. Acho aquela gente tão detestável quanto qualquer outra tirania, actual ou passada.
Todavia, tenho de me render a uma evidência: as pessoas regressam a ver, satisfeitas, por preços que são acessíveis tanto mais que fazem lá todo o post-operatório.
Parece, contudo, que à Ordem dos Médicos, ao Ministério da Saúde e a mais algumas criaturas cujos interesses me parecem pouco claros, causa espécie esta transumância sanitária .
Comecemos pelo excelso Ministério: de repente entende que é possível fazer o dobro das operações que se faziam até agora. E vai entrar em acordos com hospitais privados para o efeito.
A pergunta inocente é esta: por que é que os não fez antes, tanto mais que, mesmo com as centenas ou milhares de operações em Cuba, havia uma enorme lista de espera? Uma lista que, a avaliar pelas prometidas e actuais metas, dá para cinco anos, sem contabilizar as urgências que irão aparecer inevitavelmente. Porque, ao que me informam, crescerá a procura destes serviços de saúde.
Continuemos pela Ordem: alguma vez questionou o problema? Alguma vez se lembrou de recomendar um sistema análogo ao cubano, rápido e expedito, um sistema que em quinze, vinte dias receba um camião de alentejanos idosos e os devolva sãos e a ver às localidades de origem?
Eu não vou cair na facilidade, maliciosa, ainda por cima, de pensar que à Ordem o que dói é o “cacauzinho” que os seus representados deixam de receber. A Ordem crê firmemente no juramento de Hipócrates e decerto estará disposta a recomendar aos médicos e às clínicas privadas um forte desconto para restituir a saúde ocular aos portugueses pobres.
Deixo para terceiro lugar essas criaturinhas que provavelmente pensam que nisto há uma conspiração bolchevista internacional que transforma cataratas capitalistas em perigosos agentes do Komintern. É a revolução que vencida nas urnas, regressa nas córneas dos operados. Convém prevenir o SEF, a Guarda Fiscal, o SIS, os senhores Ministros da Saúde e da Administração Interna, sem esquecer o da Justiça.
Olho nesta alentejanada vermelhuça e de mau agouro.
Está a causar grande escândalo o envio de doentes para Cuba. Vão fazer operação às cataratas. Vão quase cegos, fartos de anos de espera. Chegam lá e, além da operação, são submetidos a check-ups gerais e, como foi possível, hoje, ouvir na televisão, regressam melhor, a ver e tratados de outras maleitas de que padeciam.
Quem me costuma ler sabe bem que não nutro pelo regime cubano qualquer carinho. Acho aquela gente tão detestável quanto qualquer outra tirania, actual ou passada.
Todavia, tenho de me render a uma evidência: as pessoas regressam a ver, satisfeitas, por preços que são acessíveis tanto mais que fazem lá todo o post-operatório.
Parece, contudo, que à Ordem dos Médicos, ao Ministério da Saúde e a mais algumas criaturas cujos interesses me parecem pouco claros, causa espécie esta transumância sanitária .
Comecemos pelo excelso Ministério: de repente entende que é possível fazer o dobro das operações que se faziam até agora. E vai entrar em acordos com hospitais privados para o efeito.
A pergunta inocente é esta: por que é que os não fez antes, tanto mais que, mesmo com as centenas ou milhares de operações em Cuba, havia uma enorme lista de espera? Uma lista que, a avaliar pelas prometidas e actuais metas, dá para cinco anos, sem contabilizar as urgências que irão aparecer inevitavelmente. Porque, ao que me informam, crescerá a procura destes serviços de saúde.
Continuemos pela Ordem: alguma vez questionou o problema? Alguma vez se lembrou de recomendar um sistema análogo ao cubano, rápido e expedito, um sistema que em quinze, vinte dias receba um camião de alentejanos idosos e os devolva sãos e a ver às localidades de origem?
Eu não vou cair na facilidade, maliciosa, ainda por cima, de pensar que à Ordem o que dói é o “cacauzinho” que os seus representados deixam de receber. A Ordem crê firmemente no juramento de Hipócrates e decerto estará disposta a recomendar aos médicos e às clínicas privadas um forte desconto para restituir a saúde ocular aos portugueses pobres.
Deixo para terceiro lugar essas criaturinhas que provavelmente pensam que nisto há uma conspiração bolchevista internacional que transforma cataratas capitalistas em perigosos agentes do Komintern. É a revolução que vencida nas urnas, regressa nas córneas dos operados. Convém prevenir o SEF, a Guarda Fiscal, o SIS, os senhores Ministros da Saúde e da Administração Interna, sem esquecer o da Justiça.
Olho nesta alentejanada vermelhuça e de mau agouro.
1 comentário:
Faz-me pensar os nossos problemas serem tantas vezes tao parecidos...
Enviar um comentário