Sugestões para um Verão preguiçoso
O Verão (insisto em escrever com maiúscula) dá para tudo. Para a praia, para umas mariscadas (que os cidadãos estão cheios de cacau graças ao sábio governo que temos), para muita preguiça e alguma leitura. E música, claro. Quanto mais não seja para ouvir no Ipod (os cidadãos nadam em cacau etc, etc...).
Ora comecemos pela livralhada entretanto saída.
“Istambul” de Pamuk. Para este vosso criado, uma das melhores obras dele. Acaba de sair a tradução portuguesa, não há desculpa.
Os amadores de história pátria e que provavelmente pouco sabem das guerras peninsulares que estejam descansados. Voltou a ser reeditado o primoroso José Acúrsio das Neves, “História geral das invasões francesas...” que Vasco Pulido Valente (Ir para o Maneta) tanto enaltecia.
A rapaziada mais dada à política pode escolher entre uma embevecida hagiografia de um primeiro ministro de oiro ou a palavra de um homem de bronze: Flausino Torres: “diário da Batalha de Praga”. Vão por este, que mais seguro. A obra foi anotada e coligida pelo neto, o Paulo Torres Bento. Os amigos da Marcela e do Zé Bento (e são ainda tantos) que como eu viram o Paulo ao colo dos pais bem que se podem babar. O miúdo tem a quem sair e sai mesmo.
Quem não tiver caído para o lado com as loas primo-ministeriais à cleptocracia angolana pode começar a tentar perceber a história daquela desgraçada colónia. E pode começar pela biografia do Viriato da Cruz que, até como poeta, era infinitamente melhor do que o finado presidente Neto A obra é coligida por Edmundo Rocha, ele mesmo um velho combatente angolano.
E dois poetas para terminar: Nuno Júdice: “Geografia do caos” e Alberto Pimenta: “Imitação de Ovídio”.
Para os ouvidos delicados das leitorinhas gentis nunca é demais propor um Sinatra (“At the Sands”) ou mais gravemente uma jóia de Gesualdo (fourth book of madrigals for five voices) ou até “secular vocal music” de um certo Sigismondo d’Italia, cavalheiro que viveu entre 1580 (?) e 1624. Ambos os discos são, obviamente, da “brilliant classics”.
Estes tipos da “brilliant classics podiam pagar-me uma avença dada a propaganda que lhes faço. Mais duas colectâneas, desta feita de jazz: “Kind of Baker” e “Kind of Getz” respectivamente do enorme Chet, trompetista de primeira água e do não menos brilhante Stan, saxofonista generoso e leal. Qualquer das colectâneas traz 10 (dez!!!) discos. O preço? Uma surpresa agradabilíssima. Nem é preciso ser rico como um português para os comprar. A “brilliant” é assim.
E uns dvd para amenizar as noites sem programa?
Se os leitores são daqueles que já estão fartos de filmes muito modernos, uma passagem pela amazon ou alapage impõe-se. Essa malta descobre filmes que mais ninguém descobre: “Été violent” (Zurlini) publicado por “les grands classiques du cinema italien”, “L’année derniere a Marienbad (Resnais), “Universal”, “A double tour” un Chabrol demasiadamente esquecido, tanto que só se consegue a referência via internet sob o nome de Belmondo e finalmente “La Chair” seguido de “L’audience” ambos de Marco Ferreri na colecção “les films de ma vie”.
Obviamente poderia indicar outros porventura mais famosos mas justamente por isso dou-vos estas dicas. Valem a pena e sempre se sai dos caminhos mais que batidos.
Incidentalmente, para ver clássicos do cinema ninguém, hoje em dia, precisa de equipamentos pesados e caros, como uma cinemateca prometida para o Porto. Vai uma aposta em como não a fazem? Ou fazendo-a não será uma cinemateca mas apenas um vago entreposto de fitas em saldo. Não será assim que se conseguirá essa coisa simples e eficaz que é (ou era) um bom cineclube. Como o do Porto. Abandonado por todos: espectadores e poderes públicos, ainda que estes últimos sejam os menos culpados. Nesta história o que mais impressiona é a generalizada ignorância dos peticionários e a incrível petulância de quem só agora despertou para as angústias cinéfilas da cidade. Há eleições à vista...
* na gravura: fotograma de "Verão violento" Trintignant e Eleanora Rossi Drago! Que bonitos!
Ora comecemos pela livralhada entretanto saída.
“Istambul” de Pamuk. Para este vosso criado, uma das melhores obras dele. Acaba de sair a tradução portuguesa, não há desculpa.
Os amadores de história pátria e que provavelmente pouco sabem das guerras peninsulares que estejam descansados. Voltou a ser reeditado o primoroso José Acúrsio das Neves, “História geral das invasões francesas...” que Vasco Pulido Valente (Ir para o Maneta) tanto enaltecia.
A rapaziada mais dada à política pode escolher entre uma embevecida hagiografia de um primeiro ministro de oiro ou a palavra de um homem de bronze: Flausino Torres: “diário da Batalha de Praga”. Vão por este, que mais seguro. A obra foi anotada e coligida pelo neto, o Paulo Torres Bento. Os amigos da Marcela e do Zé Bento (e são ainda tantos) que como eu viram o Paulo ao colo dos pais bem que se podem babar. O miúdo tem a quem sair e sai mesmo.
Quem não tiver caído para o lado com as loas primo-ministeriais à cleptocracia angolana pode começar a tentar perceber a história daquela desgraçada colónia. E pode começar pela biografia do Viriato da Cruz que, até como poeta, era infinitamente melhor do que o finado presidente Neto A obra é coligida por Edmundo Rocha, ele mesmo um velho combatente angolano.
E dois poetas para terminar: Nuno Júdice: “Geografia do caos” e Alberto Pimenta: “Imitação de Ovídio”.
Para os ouvidos delicados das leitorinhas gentis nunca é demais propor um Sinatra (“At the Sands”) ou mais gravemente uma jóia de Gesualdo (fourth book of madrigals for five voices) ou até “secular vocal music” de um certo Sigismondo d’Italia, cavalheiro que viveu entre 1580 (?) e 1624. Ambos os discos são, obviamente, da “brilliant classics”.
Estes tipos da “brilliant classics podiam pagar-me uma avença dada a propaganda que lhes faço. Mais duas colectâneas, desta feita de jazz: “Kind of Baker” e “Kind of Getz” respectivamente do enorme Chet, trompetista de primeira água e do não menos brilhante Stan, saxofonista generoso e leal. Qualquer das colectâneas traz 10 (dez!!!) discos. O preço? Uma surpresa agradabilíssima. Nem é preciso ser rico como um português para os comprar. A “brilliant” é assim.
E uns dvd para amenizar as noites sem programa?
Se os leitores são daqueles que já estão fartos de filmes muito modernos, uma passagem pela amazon ou alapage impõe-se. Essa malta descobre filmes que mais ninguém descobre: “Été violent” (Zurlini) publicado por “les grands classiques du cinema italien”, “L’année derniere a Marienbad (Resnais), “Universal”, “A double tour” un Chabrol demasiadamente esquecido, tanto que só se consegue a referência via internet sob o nome de Belmondo e finalmente “La Chair” seguido de “L’audience” ambos de Marco Ferreri na colecção “les films de ma vie”.
Obviamente poderia indicar outros porventura mais famosos mas justamente por isso dou-vos estas dicas. Valem a pena e sempre se sai dos caminhos mais que batidos.
Incidentalmente, para ver clássicos do cinema ninguém, hoje em dia, precisa de equipamentos pesados e caros, como uma cinemateca prometida para o Porto. Vai uma aposta em como não a fazem? Ou fazendo-a não será uma cinemateca mas apenas um vago entreposto de fitas em saldo. Não será assim que se conseguirá essa coisa simples e eficaz que é (ou era) um bom cineclube. Como o do Porto. Abandonado por todos: espectadores e poderes públicos, ainda que estes últimos sejam os menos culpados. Nesta história o que mais impressiona é a generalizada ignorância dos peticionários e a incrível petulância de quem só agora despertou para as angústias cinéfilas da cidade. Há eleições à vista...
* na gravura: fotograma de "Verão violento" Trintignant e Eleanora Rossi Drago! Que bonitos!
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