Bem aventurados os inocentes...
A drª Ferreira Leite saiu da sua sigilosa reserva e foi de longada até Belém. Foi auscultar o sr. Presidente da República a respeito do reconhecimento do Kosovo.
Entendamo-nos: a senhora dirigente do PPD não foi a Belém dizer o que pensa (ou não pensa) do reconhecimento como pareceria natural num partido que aspira a governar. Foi perguntar ao actual inquilino de Belém e ex-presidente do PPD o que é que este pensava de tão momentosa questão.
Ao que parece esta bizarra diligência deve-se ao facto do Governo estar prestes a tomar uma decisão. Decisão que, atentas as anteriores reservas, parece ser a de se juntar ao alegre e irresponsável grupo de reconhecedores.
Esse mesmo grupo, diga-se para já, que se indignou com os casos da Abkazia (há anos separada da Geórgia) e da Ossétia do Sul que desde há tempos mantinha não só um conflito com a mesma Geórgia mas também estava mais ou menos fora do país de Estaline.
A Geórgia é uma das curiosas ficções da revolução de 1917 e do decorrente direito dos povos disporem de si próprios. Nunca dispuseram, pelo menos na antiga URSS, mas isso era o menos. Os dirigentes da “União” traçaram fronteiras, deram territórios, tiraram outros, expulsaram populações inteiras, amalgamaram grupos étnicos diversos tudo em nome do “socialismo científico “ e da política de nacionalidades cujo primeiro comissário foi aliás o senhor Yossip Vissarionovicht Djugatchivili, mais conhecido por Estaline.
Antes da conquista russa, no século XIX, terá existido uma espécie de principado georgiano sempre tributário de tártaros, persa ou turcos, pese embora a religião cristã de parte da população, da língua e pouco mais. Nas sucessivas guerras que os russos travaram no Cáucaso foram anexados a esse primitivo território, outros conquistados quer a turcos, quer a persas. E por aqui ficamos.
Claro que o Kosovo, que alguns países europeus entenderam reconhecer, ainda é mais problemático como nação. Até aos inícios deste século era maioritariamente habitado por sérvios ortodoxos. Aliás o Kosovo é considerado o berço dos sérvios. A expansão da população albano-muçulmana é recente e tornou-se forte nos últimos decénios do século XX. Foi Tito quem criou a província autónoma do Kosovo dentro da entidade sérvia. Como aliás foi Tito quem inventou o conceito de nacionalidade muçulmana ou entregou a Dalmácia à Croácia, de onde era originário.
Nada disto perturbou as boas consciências ocidentais que assistiram à implosão da Jugoslávia com a satisfação que se conhece. E bom seria que se averiguasse com isenção e rigor as cumplicidades e os apoios a parte das movimentações político-militares nos Balcãs. E já agora recordar que todos, mas todos, os intervenientes cometeram crimes abomináveis. Todos!, repete-se.
Voltando à inocente drª Ferreira Leite. É assim que se perdem oportunidades, cara Senhora. Ir pedir batatinhas ao dr. Cavaco Silva revela menoridade, incapacidade política e ingenuidade. Demasiada areia para a camioneta do PPD! E um inesperado brinde ao sr Primeiro ministro que deve estar a rebolar-se...
Uma pessoa que gosta de falar pouco perdeu a oportunidade de estar caladinha. O desastrado dr. Meneses deve também pensar que lhe saiu a sorte grande. Logo a ele que fala pelos cotovelos...
Não sei, neste momento, qual vai a ser a decisão governamental. Não auguro, todavia, nada de bom. As pressões devem ser mais do que muitas no sentido do reconhecimento daquela fantasmagoria.
Também desconheço o avisado conselho do dr. Cavaco. Se é que deu algum. Se deu, fez mal. Não compete ao Presidente da República servir de ama seca aos dirigentes partidários. Mesmo se estes na sua incurável incompetência se lhe dirigem a pedir uma palavrinha. Essa palavrinha, dada a destempo, compromete o Presidente e mete-o no mesmo barco da requerente. Com as consequências que se adivinham.
Já agora: alguém já pensou no dia em que uns corsos mais exaltados proclamarem a independência? Ou os bascos? Ou os catalães? E por aí fora...
Pergunta final: será que o Primeiro Ministro mandou um belo ramo de flores à drª Ferreira Leite? Se ainda não mandou, faça o favor de se apressar. À falta de flores servem chocolates. Bons de preferência!
De Batumi para o incursoes,
d'Oliveira
Entendamo-nos: a senhora dirigente do PPD não foi a Belém dizer o que pensa (ou não pensa) do reconhecimento como pareceria natural num partido que aspira a governar. Foi perguntar ao actual inquilino de Belém e ex-presidente do PPD o que é que este pensava de tão momentosa questão.
Ao que parece esta bizarra diligência deve-se ao facto do Governo estar prestes a tomar uma decisão. Decisão que, atentas as anteriores reservas, parece ser a de se juntar ao alegre e irresponsável grupo de reconhecedores.
Esse mesmo grupo, diga-se para já, que se indignou com os casos da Abkazia (há anos separada da Geórgia) e da Ossétia do Sul que desde há tempos mantinha não só um conflito com a mesma Geórgia mas também estava mais ou menos fora do país de Estaline.
A Geórgia é uma das curiosas ficções da revolução de 1917 e do decorrente direito dos povos disporem de si próprios. Nunca dispuseram, pelo menos na antiga URSS, mas isso era o menos. Os dirigentes da “União” traçaram fronteiras, deram territórios, tiraram outros, expulsaram populações inteiras, amalgamaram grupos étnicos diversos tudo em nome do “socialismo científico “ e da política de nacionalidades cujo primeiro comissário foi aliás o senhor Yossip Vissarionovicht Djugatchivili, mais conhecido por Estaline.
Antes da conquista russa, no século XIX, terá existido uma espécie de principado georgiano sempre tributário de tártaros, persa ou turcos, pese embora a religião cristã de parte da população, da língua e pouco mais. Nas sucessivas guerras que os russos travaram no Cáucaso foram anexados a esse primitivo território, outros conquistados quer a turcos, quer a persas. E por aqui ficamos.
Claro que o Kosovo, que alguns países europeus entenderam reconhecer, ainda é mais problemático como nação. Até aos inícios deste século era maioritariamente habitado por sérvios ortodoxos. Aliás o Kosovo é considerado o berço dos sérvios. A expansão da população albano-muçulmana é recente e tornou-se forte nos últimos decénios do século XX. Foi Tito quem criou a província autónoma do Kosovo dentro da entidade sérvia. Como aliás foi Tito quem inventou o conceito de nacionalidade muçulmana ou entregou a Dalmácia à Croácia, de onde era originário.
Nada disto perturbou as boas consciências ocidentais que assistiram à implosão da Jugoslávia com a satisfação que se conhece. E bom seria que se averiguasse com isenção e rigor as cumplicidades e os apoios a parte das movimentações político-militares nos Balcãs. E já agora recordar que todos, mas todos, os intervenientes cometeram crimes abomináveis. Todos!, repete-se.
Voltando à inocente drª Ferreira Leite. É assim que se perdem oportunidades, cara Senhora. Ir pedir batatinhas ao dr. Cavaco Silva revela menoridade, incapacidade política e ingenuidade. Demasiada areia para a camioneta do PPD! E um inesperado brinde ao sr Primeiro ministro que deve estar a rebolar-se...
Uma pessoa que gosta de falar pouco perdeu a oportunidade de estar caladinha. O desastrado dr. Meneses deve também pensar que lhe saiu a sorte grande. Logo a ele que fala pelos cotovelos...
Não sei, neste momento, qual vai a ser a decisão governamental. Não auguro, todavia, nada de bom. As pressões devem ser mais do que muitas no sentido do reconhecimento daquela fantasmagoria.
Também desconheço o avisado conselho do dr. Cavaco. Se é que deu algum. Se deu, fez mal. Não compete ao Presidente da República servir de ama seca aos dirigentes partidários. Mesmo se estes na sua incurável incompetência se lhe dirigem a pedir uma palavrinha. Essa palavrinha, dada a destempo, compromete o Presidente e mete-o no mesmo barco da requerente. Com as consequências que se adivinham.
Já agora: alguém já pensou no dia em que uns corsos mais exaltados proclamarem a independência? Ou os bascos? Ou os catalães? E por aí fora...
Pergunta final: será que o Primeiro Ministro mandou um belo ramo de flores à drª Ferreira Leite? Se ainda não mandou, faça o favor de se apressar. À falta de flores servem chocolates. Bons de preferência!
De Batumi para o incursoes,
d'Oliveira
3 comentários:
D’Oliveira, concordo totalmente consigo. Ao seu texto não mudava nem uma vírgula, mas quanto ao título não sei... É que não vejo onde estão aqui os inocentes...
Das duas uma: ou a drº Ferreira Leite é uma inocentinha ou toma-nos por inocentes, naquele conhecido sentido de parvos...
Caro d'Oliveira, foram de facto dois tiros nos pés, da Drª Manuela e do seu amigo-correligionário-professor-presidente.
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