24 novembro 2008

As Más Escolhas da Assembleia

A Assembleia da República vai levar a cabo um inquérito ao BPN, a coberto do qual muita gente irá à A.R. prestar declarações. Entretanto, prosseguem as investigações judiciais à situação do BPN, de que já resultou a prisão preventiva do ex- presidente do Banco

A Assembleia da República decidiu ouvir, proximamente, o Procurador-Geral da República sobre o BPN. Entretanto, o PGR prossegue com as investigações sobre o Banco na Procuradoria-Geral da República.

Estas notícias têm sido profusamente glosadas pela comunicação social. Em versões partidárias e de “analistas de política nacional”. As mesmas concorrem com as do processo Casa Pia - cujo fim agora se anuncia (como se isso fosse verdade) - mais que revisitado e requentado, mas que ainda vende audiências.

O resultado será um fim de ano bem animado e com grande visibilidade para a AR, mas não passará disso mesmo. Ou seja, para além do dinheiro gasto nesse inquérito, nada de nada acontecerá. A única consequência do inquérito é fazer passar para segundo plano, na agenda política, o que verdadeiramente interessa ao país. Enquanto o Parlamento e as TV.s se ocupam das quezílias (mente/não mente, disse/não disse) em redor do BPN, não se fala do destino dos recursos públicos alocados à banca; do preço dos combustíveis; das opções orçamentais para 2009, designadamente no que toca ao investimento público e às previstas parcerias público privadas.

Mas se os senhores deputados da Assembleia da República querem mesmo tratar de inquéritos sérios, porque não eleger aquele que é apontado como o maior problema do país, com impacto no desenvolvimento económico e na vida das pessoas e fazem um inquérito ao processo de aplicação da Justiça. Para tanto poderiam começar por estudar as causas que determinam o arrastamento dos processos. E até poderiam partir de casos concretos: Operação Furacão, Casa Pia ou descer a coisas mais comezinhas: simples casos de polícia ou de quezília entre particulares.

Mas no estado em que se encontra o país, o que interessa é o folclore político, a parte da festa que esconde a raiz dos problemas e quem mais beneficia dos problemas


Nota: Catalina Pestana acabou de dizer, na RTP, que fora do processo Casa Pia estão mais de 80% dos envolvidos e que esses ficaram de fora porque os casos em que estavam envolvidos já estavam prescritos.

1 comentário:

JSC disse...

Afinal não sou o único a pensar na ineficiência inquiridora da AR. Ler Artigo de M.A.Pina, no JN de hoje:

"Mons parturiens"
Depois de o rato das declarações de Manuela Ferreira Leite ter parido a montanha que se viu, tudo indica que a fábula retomará os eixos e que a montanha do BPN irá parir o rato que montanhas do género, quando envolvem montanhistas de peso, sempre parem. O primeiro passo está dado, um inquérito parlamentar, isto é, a transformação de um caso de polícia em caso de política. Toda a gente sabe para que servem os inquéritos parlamentares. Para concluir, em 700 ou 800 páginas, coisa nenhuma.
É da sua natureza, como, para Aristóteles, era da natureza das coisas pesadas cair para o centro do Universo. Nem o mais notório, o do "Envelope 9", concluiu fosse o que fosse, apesar do empenhamento da maioria na famosa tese da cabala, ou da "urdidura". Enfiado na "selva oscura" da AR, onde Dias Loureiro sempre o quis, o "caso BPN" fica entregue a todo o tipo de comércios político-partidários, meio caminho andado para se chegar à conclusão de que tudo foi, afinal, um mal-entendido. Depois, se o MP concluir diferentemente, abrir-se-á novo inquérito, desta vez ao MP, que também não concluirá coisa nenhuma.
Manuel António Pina
In JN de 25/11/2008