Em verdade, em verdade vos digo...
Ai leitoras que soo aquestas avelaneiras frolidas vejo bailar, o mundo não para de me surpreender. A gente aqui, no blog, a dar ao remo, puxa que puxa, a ver se o mar dá peixe que se veja (ai ele hoje está tão de Buarcos!...) e as excelentíssimas autoridades civis, militares e religiosas a darem baldas do tamanho de uma casa.
Ora vejamos:
A “dama de ferro” da Educação Nacional (eu escrevi “educação nacional”) desceu do seu Olimpo de cartolina para angelicamente dizer diante das câmaras de televisão que havia no seu projecto aspectos complicativos, burocratizantes, injustos e/ou mal fundamentados.
Eu bem gostaria de vos dar mais umas citações da senhora Ministra mas só tenho à mão o “Público”, não estou com paciência para voltar a ouvir os noticiários televisivos (basta-me o da manhã para ficar agoniado todo o dia) porque houve palavras fortes contra um projecto que até há dias era irrecusável.
Dir-me-ão que arrepiar caminho quando se não tem razão é uma boa prática. É. Mas só é se nesse passo atrás se perceber um sinal de dialogo de esforço, de humildade. Ora esta celestial criatura caída no monstro horrível da educação, sabe-se lá porque mistério, não se apresentou nesse papel. Ninguém lhe pedia uma corda ao pescoço, que ela não é, oh quem dera, da craveira de Egas Moniz.
Nem ela nem nenhum dos seus pares governamentais, excepção feita ao cavalheiro que gere a Cultura. Esse, graças a Deus é um mero erro de telefonema: o Primeiro Ministro ia por um homónimo dele, com obra feita no capítulo da cultura e acertou neste brilhante advogado que durante anos se apresentou ao público sob as vestes de um fórum direito e liberdades, ou algo do género, que pelos vistos se reduzia a ele próprio. Se isto é sinal de um forte ego não discuto. Não chega é para a pasta da Cultura. Daí que a cada declaração do dr Pinto Ribeiro, este, se sucedam perplexidades incontáveis. Agora é a Cinemateca do Porto que se adivinha em três locais, com Serralves à mistura (porquê?) com a Casa das Artes (fechada há anos juntamente com a Delegação Regional de Cultura que foi atirada pelo violinista Santana Lopes para uma cave com serventia de retrete em Vila Real e onde prosperam uns pobres diabos – ou diabas – com cartão partidário do governo de turno) e Casa Manuel de Oliveira. Antes, já fora a acusação aos antecessores ministeriais de que não tinham usado as verbas ao seu dispor. Eu ainda não vi uma medida, uma, com sentido e alcance cultural, vinda deste homem admirável que provavelmente todos os dias se mira ao espelho e se pergunta se há alguém tão inteligente quanto ele.
Voltemos à inflexível ministra que ainda há dias, a segura distância de uma manifestação monstra, dizia que a maioria das escolas e dos profissionais estava com ela. Patético! E voltemos também aos seus apoiantes, se os há sinceros. Ou melhor, haver há. Há o dr. Pacheco Pereira, historiador interessante e amante de paradoxos. Convenhamos que o dr. Pacheco Pereira, conselheiro ao que se diz da drª Ferreira Leite, é um presente envenenado para a srª Ministra. Por várias razões a menor das quais é esta: o dr. Pacheco Pereira é um dos opinion makers do PSD. Está do outro lado da barricada, bem à direita como convém a um ex-stalinista (coisa em que aliás não está só: os neo-cons lusitanos não saíram das magras fileiras trotskistas como os confrades americanos mas dessa avalancha de gropúsculos m-l que se alimentavam de “Stalin está vivo nos nossos corações”, de um exacerbado amor a Mao e a Enver Hodja, e de muita leitura das Martas Harneckers que eles tomavam pela vera voz dos clássicos.
Deixemos este soturno espectáculo de circo pobre e passemos à notícia do dia. O Dr Oliveira e Costa está já a ser interrogado pelas competentes autoridades. Tardou mas foi. Acusam-no de burla agravada, branqueamento de capitais, fraude fiscal. A estas horas ignoro se já dorme num calabouço ou se foi para o conforto de uma das suas casas.
As leitoras (e os leitores) permitirão, todavia, que eu cite Brecht (perguntas de um operário leitor):
O jovem Alexandre conquistou a Índia.
Ele sozinho?
César bateu os Gálios.
Não teria consigo um cozinheiro ao menos?
Ou, em português básico: foi o dr. Costa sozinho que fez tudo aquilo de que é acusado? E que atirou um banco para o fundo? E que nos vai fazer pagar um balúrdio? Porque de uma coisa não há dúvidas. Somos nós, os paisanos, quem vai pagar a crise. A do banco, a do país e a que se importar.
Deixando o dr. Costa entregue ao primeiro cabo de esquadra que lhe deitar a mão, passemos a um tema delicado: o dr. Vítor Constâncio. Eu lamento muito não partilhar de uma ideia justa e generosa mas desajustada e desinformada. E que é a seguinte: andamos todos a bater no dr. Constâncio sem cuidar de acertar as contas com o criminoso. Andamos a criticar o polícia por incumprimento, ou insuficiente cumprimento deixando folgadas as costas que deveriam levar a competente carga de varapau.
Lamento muito mas isto não é bem assim. O criminoso estava apontado e era mera questão de tempo pô-lo a bom recato, se possível numa prisão vulgar para ele ver como é que é o povo. O que me parece imoral é que aquele a quem competiam os especiais deveres de polícia se tivesse mostrado tão lento, tão lerdo, tão fora deste mundo. Eu não quero escrever “A importância de se chamar Constâncio”. Já há uma peça teatral de assinalável mérito com um título semelhante. Porém, o dr. Constâncio não é um menino de coro. Não nasceu ontem. É um cavalheiro com uma idade próxima da minha. Foi ministro. Foi secretario geral do P.S. Foi deputado. Foi candidato (com o meu aval, pobre de mim, sempre tonto) a Primeiro Ministro e é Governador do Banco de Portugal. Provavelmente tem o peito constelado de comendas por altos serviços à Pátria e seguramente recebe um ordenado chorudo. Não vos parece que a um cavalheiro destes devam ser exigidas explicações, muitas? E em alta grita? E provavelmente devam ser-lhe ditas algumas verdades desagradáveis?
Então não vos parece desfaçatez vir agora dizer que o BdP não tem técnicos suficientes para controlar as empresas? Só agora é que o dr. Constâncio descobriu esse “gap”, essa deficiência, essa desastrada desorganização do BdP? E pode ele garantir-nos que não há mais bancos na corda bamba? Mesmo sem crime, apenas por manifesto erro de previsão, por exemplo. É que se fala de um Banco, um tal BPP, que ninguém quer comprar e que precisa de liquidez urgentemente. É assim? Então não houve quem lhe vigiasse as contas, os famosos ratios e restante parafernália e dissesse: alto e para o baile?
E querem vocês que uma pessoa vá para o fim de semana descansadinho da silva, enquanto a tv debita desgraças que infelizmente não são (cito de memória) o pé desmanchado da Luisinha Carneiro?
a ilustração é de Georg Grosz, um grande pintor e um grande ilustrador de tempos dificeis e admiráveis
Ora vejamos:
A “dama de ferro” da Educação Nacional (eu escrevi “educação nacional”) desceu do seu Olimpo de cartolina para angelicamente dizer diante das câmaras de televisão que havia no seu projecto aspectos complicativos, burocratizantes, injustos e/ou mal fundamentados.
Eu bem gostaria de vos dar mais umas citações da senhora Ministra mas só tenho à mão o “Público”, não estou com paciência para voltar a ouvir os noticiários televisivos (basta-me o da manhã para ficar agoniado todo o dia) porque houve palavras fortes contra um projecto que até há dias era irrecusável.
Dir-me-ão que arrepiar caminho quando se não tem razão é uma boa prática. É. Mas só é se nesse passo atrás se perceber um sinal de dialogo de esforço, de humildade. Ora esta celestial criatura caída no monstro horrível da educação, sabe-se lá porque mistério, não se apresentou nesse papel. Ninguém lhe pedia uma corda ao pescoço, que ela não é, oh quem dera, da craveira de Egas Moniz.
Nem ela nem nenhum dos seus pares governamentais, excepção feita ao cavalheiro que gere a Cultura. Esse, graças a Deus é um mero erro de telefonema: o Primeiro Ministro ia por um homónimo dele, com obra feita no capítulo da cultura e acertou neste brilhante advogado que durante anos se apresentou ao público sob as vestes de um fórum direito e liberdades, ou algo do género, que pelos vistos se reduzia a ele próprio. Se isto é sinal de um forte ego não discuto. Não chega é para a pasta da Cultura. Daí que a cada declaração do dr Pinto Ribeiro, este, se sucedam perplexidades incontáveis. Agora é a Cinemateca do Porto que se adivinha em três locais, com Serralves à mistura (porquê?) com a Casa das Artes (fechada há anos juntamente com a Delegação Regional de Cultura que foi atirada pelo violinista Santana Lopes para uma cave com serventia de retrete em Vila Real e onde prosperam uns pobres diabos – ou diabas – com cartão partidário do governo de turno) e Casa Manuel de Oliveira. Antes, já fora a acusação aos antecessores ministeriais de que não tinham usado as verbas ao seu dispor. Eu ainda não vi uma medida, uma, com sentido e alcance cultural, vinda deste homem admirável que provavelmente todos os dias se mira ao espelho e se pergunta se há alguém tão inteligente quanto ele.
Voltemos à inflexível ministra que ainda há dias, a segura distância de uma manifestação monstra, dizia que a maioria das escolas e dos profissionais estava com ela. Patético! E voltemos também aos seus apoiantes, se os há sinceros. Ou melhor, haver há. Há o dr. Pacheco Pereira, historiador interessante e amante de paradoxos. Convenhamos que o dr. Pacheco Pereira, conselheiro ao que se diz da drª Ferreira Leite, é um presente envenenado para a srª Ministra. Por várias razões a menor das quais é esta: o dr. Pacheco Pereira é um dos opinion makers do PSD. Está do outro lado da barricada, bem à direita como convém a um ex-stalinista (coisa em que aliás não está só: os neo-cons lusitanos não saíram das magras fileiras trotskistas como os confrades americanos mas dessa avalancha de gropúsculos m-l que se alimentavam de “Stalin está vivo nos nossos corações”, de um exacerbado amor a Mao e a Enver Hodja, e de muita leitura das Martas Harneckers que eles tomavam pela vera voz dos clássicos.
Deixemos este soturno espectáculo de circo pobre e passemos à notícia do dia. O Dr Oliveira e Costa está já a ser interrogado pelas competentes autoridades. Tardou mas foi. Acusam-no de burla agravada, branqueamento de capitais, fraude fiscal. A estas horas ignoro se já dorme num calabouço ou se foi para o conforto de uma das suas casas.
As leitoras (e os leitores) permitirão, todavia, que eu cite Brecht (perguntas de um operário leitor):
O jovem Alexandre conquistou a Índia.
Ele sozinho?
César bateu os Gálios.
Não teria consigo um cozinheiro ao menos?
Ou, em português básico: foi o dr. Costa sozinho que fez tudo aquilo de que é acusado? E que atirou um banco para o fundo? E que nos vai fazer pagar um balúrdio? Porque de uma coisa não há dúvidas. Somos nós, os paisanos, quem vai pagar a crise. A do banco, a do país e a que se importar.
Deixando o dr. Costa entregue ao primeiro cabo de esquadra que lhe deitar a mão, passemos a um tema delicado: o dr. Vítor Constâncio. Eu lamento muito não partilhar de uma ideia justa e generosa mas desajustada e desinformada. E que é a seguinte: andamos todos a bater no dr. Constâncio sem cuidar de acertar as contas com o criminoso. Andamos a criticar o polícia por incumprimento, ou insuficiente cumprimento deixando folgadas as costas que deveriam levar a competente carga de varapau.
Lamento muito mas isto não é bem assim. O criminoso estava apontado e era mera questão de tempo pô-lo a bom recato, se possível numa prisão vulgar para ele ver como é que é o povo. O que me parece imoral é que aquele a quem competiam os especiais deveres de polícia se tivesse mostrado tão lento, tão lerdo, tão fora deste mundo. Eu não quero escrever “A importância de se chamar Constâncio”. Já há uma peça teatral de assinalável mérito com um título semelhante. Porém, o dr. Constâncio não é um menino de coro. Não nasceu ontem. É um cavalheiro com uma idade próxima da minha. Foi ministro. Foi secretario geral do P.S. Foi deputado. Foi candidato (com o meu aval, pobre de mim, sempre tonto) a Primeiro Ministro e é Governador do Banco de Portugal. Provavelmente tem o peito constelado de comendas por altos serviços à Pátria e seguramente recebe um ordenado chorudo. Não vos parece que a um cavalheiro destes devam ser exigidas explicações, muitas? E em alta grita? E provavelmente devam ser-lhe ditas algumas verdades desagradáveis?
Então não vos parece desfaçatez vir agora dizer que o BdP não tem técnicos suficientes para controlar as empresas? Só agora é que o dr. Constâncio descobriu esse “gap”, essa deficiência, essa desastrada desorganização do BdP? E pode ele garantir-nos que não há mais bancos na corda bamba? Mesmo sem crime, apenas por manifesto erro de previsão, por exemplo. É que se fala de um Banco, um tal BPP, que ninguém quer comprar e que precisa de liquidez urgentemente. É assim? Então não houve quem lhe vigiasse as contas, os famosos ratios e restante parafernália e dissesse: alto e para o baile?
E querem vocês que uma pessoa vá para o fim de semana descansadinho da silva, enquanto a tv debita desgraças que infelizmente não são (cito de memória) o pé desmanchado da Luisinha Carneiro?
a ilustração é de Georg Grosz, um grande pintor e um grande ilustrador de tempos dificeis e admiráveis
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