16 dezembro 2008

Aprender com a História

O ESTADO DA QUESTÃO

Estamos pobres, somos ignorantes, vivemos na corrupção e no aviltamento, …, a legalidade tornou-se um impossível, a acção governativa insolúvel.

Dir-se-ia, ao considerar tudo isto, que somos de uma origem diferente dos outros povos da Europa. Que inertes no meio do movimento do mundo civilizado, que nos cerca por todos os lados, …, somos os últimos descendentes de um povo mais caduco que os outros povos da Europa; … Dir-se-ia que o problema que nos agita é o mais complicado de todos os problemas; que interesses opostos umas contra as outras classes da nossa sociedade; que presenciamos a luta de raças inimigas, que mutuamente se destroem, e entre as quais não há repouso e conciliação possível.

E, todavia, nada há de mais falso. Não há país na Europa em que o problema político seja mais simples; em que as classes da sociedade sejam menos separadas por interesses inimigos; em que as opiniões dos diversos partidos políticos sejam menos divergentes, e mais conciliáveis.

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A questão portuguesa, …, é uma questão simples, fácil e de solução realizável: é puramente uma questão económica e administrativa. É a questão de sabermos … se os capitais do país hão-de continuar a esterilizar-se no giro improdutivo da agiotagem, em vez de serem fontes de produção e de riqueza pública; …; se os ministros hão-de ser pagos pelo Estado para trabalhar em favor da nação, ou subsidiados pela agiotagem para favorecer os seus interesses; se há-de haver um Governo independente, ou se havemos de ficar enfeudados aos agiotas; se hão-de governar os homens mais probos e inteligentes dos partidos, ou alguns parvenus insolentes que se enriquecem à custa das concessões… .

Esta é a verdade. A nossa questão não é política nem social. É essencialmente económica e administrativa.


Alexandre Herculano/1851

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