26 maio 2004

À DESCOBERTA DA PATERNIDADE

Na página 37 da edição do dia 22 de Maio de 2004, numa pequenina notícia de canto, o jornal Público dá-nos conta de que em Itália foi introduzido no mercado, presume-se que em regime de livre acesso, um “Kit” de teste de paternidade biológica.

O promotor, claro está, divulgou e salientou as vantagens que, em seu entender, o uso do “Kit” pode proporcionar, omitindo por completo as suas mais que prováveis catastróficas consequências.

Imagine-se o descalabro, quando os pais começarem a descobrir que os filhos não são herdeiros do seu património genético (leia-se espermatozóides), mas antes do de estranhos, mais ou menos próximos, que, com as respectivas mães, resolveram presenteá-los com uns bonitos “ramos de flores”.

E o que será dos filhos, quando perceberem que afinal não o são do pai que têm, mas de um qualquer desconhecido amante ou amigo ocasional das mães.

Adeus estabilidade familiar e conjugal. Até sempre averiguações oficiosas de paternidade e presunção “pater is est”. As impugnações da dita ao assalto do poder judicial.

Ao ler a notícia, lembrei-me do episódio ocorrido em França há poucos anos, quando a respectiva indústria farmacêutica e o correspondente comércio patentearam e pretenderam pôr à venda um “Kit” de finalidade semelhante.

O Governo francês, como sempre retrógrado, conhecedor de uma estatística fiável que apontava índices de infidelidade conjugal das francesas na ordem dos 80%, para prevenir as certas, dolorosas e desastrosas consequências sociológicas, mesmo uma acentuada desagregação e rápida degradação do tecido social gaulês, resolveu o mal pela raiz: pura e simplesmente, proibiu por decreto o fabrico e a comercialização do anunciado “kit”, tão milagroso quanto destruidor.

Os italianos, pelos vistos mais confiantes no amor cego e único das respectivas mulheres, não se importam de correr o risco.

E neste rectângulo do “macho latino”, será que os níveis de confiança também são assim tão elevados, ao ponto de a introdução do método se antever extraordinariamente facilitada, mesmo ardentemente desejada?

A ver vamos.

Até lá, viva a biologia.

texto enviado por Ruvino

1 comentário:

Primo de Amarante disse...

Como os tempos estão diferentes!
Em 1815 considerava-se um progresso namorar honestamente de uma janela para a outra, sem que uma patrulha insolente parasse debaixo para testemunhar a vida íntima dos que lhe pagam. Podia cochichar delícias a donzela recatada da traseira para a rua, sem que o apaixonado receasse um brutal «retire-se!» vindo do Pai tirano.
Pelo menos é o que nos diz Camilo. Hoje, anda-se com um kit no bolso para detectar a quem pertence o “puto”.
O mundo está mais difícil!...