23 maio 2004

Uma conversa em rap

1. Vamos falar verdade.

2. A verdade não está fora de ti, não há factos sem interpretações: tu interpretas diferente de mim, não chegamos às mesmas conclusões, se tu e eu falarmos das mesmas coisas com “jogos de linguagens” diferentes.

3. Dentro de um jogo de linguagem há só uma verdade, mas nem sempre o teu jogo de linguagem é igual ao meu e, por isso, tenho de perguntar: porque é que a tua verdade não é a minha?

4. As palavras são como etiquetas e tu ou eu não as colocamos nas mesmas “coisas”. Dizemos as mesmas palavras e interpretamos “coisas” diferentes. Temos a mesma bola, mas não jogamos o mesmo jogo.

Refrão

Todos: A verdade-consenso, não é a do senso-comum, nem a soma das opiniões de cada um. A verdade-consenso só tem uma imagem: é a •verdade da melhor razão a que chegam todas as razões que aceitam “jogar” o mesmo “jogo de linguagem”.

5. Resolver um conflito de interpretação não é teimar na mesma questão: é procurar o significado do uso da tua palavra naquela ocasião.

6. E nesta recapitulação também devemos lembrar as verdades do coração. Não chega demonstrar, impondo sem discussão. É preciso a persuasão e há validadores do coração que aumentam de graduação a verdade pela tua adesão.

7. Se queres persuadir não podes demonstrar sem discussão. Tens de procurar o “lugar do preferível.” Posso sentir-me mais seguro no “lugar” da eficácia e, então, não me peças a divagação.

8.. Para organizares a tua argumentação tens de saber estruturar os teus argumentos por forma a que eu presuma que tudo o que me dizes é incontroverso.

9. Mas a argumentação não deve ser manipulação. Tem Platão razão quando pensa que o sofista é um retórico que, abusando da arte de saber falar, se torna num charlatão.

10. Na obra “O Sofista” ouve, então, o que diz Platão: “Não devemos admitir ficções verbais, dando a ilusão da verdade onde há manipulação”.

11. A arte da argumentação não pode ser a armadilha do charlatão. Tudo deve estar em competição e persuadir e, também, saber ouvir, porque a tua razão é mais forte, quando ouve a minha na nossa discussão. A verdade não é minha, nem é tua e se queres um ethos na discussão deves não ser contraditório e aceitar o consenso da discussão.

11 .A nova retórica é a filosofia do verosímil. Surgiu com a própria filosofia e com a democracia, pois acabou com a autoridade da verdade e de um só homem. Agora não abanamos só com a cabeça de cima para baixo, mas também de um lado para o outro. Não há só sim, nem só não: há “sim” e “não” e também há o “talvez” tenhas razão.

Refrão

7 comentários:

Anónimo disse...

Estamos sempre a aprender. Os magistrados precisam de lições sobre os mistérios da linguagem. Talvez a justiça se tornasse mais "legível" e não se praticassem verdades tão diversas. Ó Compadre, troveja em Bom Velho de Cima.

Anónimo disse...

Brilhante, caro compadre!
Continue a dar-nos que pensar, ok?

Kamikaze (L.P.) disse...

O anterior anonymous tem "nick"... embora nãao lhe repugne mesmo nada comentar anonimamente... :)
E aqui deixo um desfio: não heverá por aí algum blogger que se ofereça para alinhar umas semi-colcheias por forma a podermos entoar este fabuloso rap? quem sabe se não podia transformar-se, até, em hino de sucesso...

Anónimo disse...

O til parece estar fora do sitio.

Anónimo disse...

Só agora reparei. O último anonymous não e anónimo: é do compadre.Mas não està preocupado com a acentuação. Depois da revolução francesa o til que se ponha onde quiser!
Compadre esteves

Primo de Amarante disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Primo de Amarante disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.