12 julho 2004

AMIZADE

DAMO-NOS bem. Eu deixo-o ir à vontade e ele leva-me sempre onde quero.

Platero sabe que, ao chegar ao pinheiro da Coroa, gosto de me aproximar do seu tronco, acariciá-lo, e olhar o céu através da sua enorme e clara copa; sabe que me deleita o carreiro que, entre a relva, leva à velha fonte; que é para mim uma festa ver o rio da colina dos pinheiros, evocadora de uma paisagem clássica. Como é certo adormecer sobre ele, o meu despertar abre-se sempre a um destes aprazíveis espectáculos.

Trato Platero como a um menino. Se o caminho se torna pedregoso e lhe peso um pouco, desço para aliviá-lo. Beijo-o, engano-o, faço-o zangar… Ele compreende que lhe quero, e não me guarda rancor. É tão igual a mim, que cheguei a crer que sonho os meus próprios sonhos.

Platero rendeu-se-me como uma adolescente apaixonada. Não protesta por nada. Sei que sou a sua felicidade. Até foge dos burros e dos homens…

J. Ramón Jiménez (1881-1958), Platero e Eu

Contributo de Efigénia

5 comentários:

Anónimo disse...

Os textos são uma ternura, mas o burrinho!...
Razão tem Rámon Jiménez: "De ti (PLatero), tão intelectual, (...), paciente e reflexivo, melancólico e amável, Marco Aurélio dos prados..."

Zu disse...

Tinha o "Platero" em criança, mas não sei o que é feito do livro. Fiquei com vontade de o encontrar e ler com a minha filhota, que há pouco tempo teve um passeio da escola de que constou andar de burro!

Zu disse...

Beijo para ti também, Carteiro. Arranja o Platero e lê-o - é bonito e lava a alma.

Silvia Chueire disse...

Um dia hei de comprar este livro...

Primo de Amarante disse...

Seria melhor retirar o PLatero. Com aquela visibilidade e a dificuldade que o Santana está a ter em formar governo, ainda o faz ministro da educação, por exemplo.