19 agosto 2004

As cassetes roubadas

Por Artur Costa, JUIZ CONSELHEIRO (no JN de hoje)

Tirando o aspecto de mistério, com ressaibo a ficção policial, a fazer lembrar histórias que estão na memória de todos, como "A carta roubada", de Edgar Allan Poe, há algumas graves consequências a extrair do escândalo das cassetes roubadas: a) No domínio dos processos jornalísticos: o recurso à gravação de conversas sem autorização do ou dos interlocutores. Para além do aspecto criminal, visto que uma tal gravação é ilícita e punida como crime, seja ou não jornalista o autor da gravação, há a salientar a falta deontológica, grave, envolvendo deslealdade para com a fonte de informação e descredibilizando por completo o exercício da função jornalística. Guardando as devidas proporções, esta técnica assemelha-se a uma escuta ilegítima e tem efeitos danosos de não menor monta para o direito à informação. Independentemente da licitude ou ilicitude do que se revela, quem é que vai agora depositar confiança num jornalista, sabendo que as suas palavras podem ser objecto de usurpação?; b) Ainda neste domínio, a acrescida falta deontológica consistente na revelação pública, também ela criminosa, do conteúdo ou parte do conteúdo das gravações, sob os mais variados pretextos mais ou menos hipócritas, seja o processo (viciado) que esteve na base da gravação, seja o alegado conhecimento por parte de um círculo restrito de pessoas, que não poderia ser privilegiado em relação aos restantes cidadãos; c) A tão falada violação do segredo de Justiça, que, como se vê, tem muitas vezes o jornalista como parte, no mínimo, conluiada com a fonte, a que o anonimato dá fraudulenta cobertura e o sigilo profissional a necessária instrumentalização criminosa.

2 comentários:

Anónimo disse...

Este senhor Conselheiro está cada vez mais acaciano. Esta crónica é de uma inanidade atroz. Pior, só o arquitecto Saraiva, com as evidências do costume e as tautlogias escusadas.
Que me desculpe o cronista e as minhas observações anónimas também não são o meu estilo. Mas prefiro ainda assim , dizer isto anonimamente, porque é o que penso, sinceramente. Tanto assunto para explicar; tanta matérua para debater, mesmo numa crónica de fim de página e perde o tempo a dizer o óbvio e o corriqueiro!

Senhor cronista! Não seria muito preferível defender a honra da Dr. Sara Pina? Afinal, como é que a assessora de imprensa se tornou assessora? Não seria preferível essa história, em vez desas inanidades que não interessam a ninguém?!
Desculpe mais uma vez o anonimato que em princípio me repugna, mas teve que ser.

Anónimo disse...

Não é só do cronista que se deve falar anonimamente. Estamos mas é no terreiro de bufos que é a "profissão" mais execrável que se pode ter.O país está a tornar-se um nojo.