Só gosto de gaivotas magras.
Dizem-me
que a maior parte delas já não pesca:
o peixe vivo estrebucha, dá trabalho
a apanhar
por isso as mais modernas
só comem peixe morto.
Frequentam
as lotas e as lixeiras
e engordam.
Quando vejo uma gaivota celulítica
Cuspo-lhe o meu desprezo.
«Ora essa!»
respondeu-me uma delas um dia destes:
«Também os gatos já não se estafam
a apanhar ratos
e só comem comida
enlatada!»
Sorrio tristemente
A concordar
e compadeço-me do seu corpo
gordo a patinhar à beira-mar
de suas patas grossas.
Coçam as varizes
Com o bico.
Teresa Rita Lopes (Afectos)
15 agosto 2004
gaivotas celulíticas
Marcadores: kamikaze (L.P.), Poesia
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1 comentário:
Um poema ácido. Gostei de lê-lo. O poema deve ter liberdade para dizer o que quiser. Obrigada.
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