por marinquieto
Capítulo I
Deixei o jornal a marcar a mesa e dirigi-me ao balcão para pedir ao único empregado que servia em toda a esplanada um café. Eram quatro da tarde, tinha acabado de tomar a primeira refeição do dia, pois os hábitos que a vida profissional me impõe durante o ano não se mudam de um momento para o outro e, afinal, só ali estava havia dois dias. Continuava a ler durante a noite, agora não para os outros, mas como se fosse - em voz alta.
O diário, o primeiro café e o primeiro cigarro são, de há muito, companhias inseparáveis com quem reinicio todos os dias o percurso das horas. Só então convoco os sentidos. Um vício masculino - criticava a minha mãe. Apenas um hábito solitário - costumava responder-lhe.
Depois de ter acendido o cigarro, e enquanto o café não chegava, observei o mar, ali mesmo, estendido ao sol entre dois paredões. E os banhistas a quem oferecia um suave sorriso de espuma na irregular fronteira com a terra. É aqui que a terra acaba e o mar começa, ou é aqui que o mar acaba e a terra principia?
A esplanada estava cheia. Uma pessoa em cada mesa, como na minha. Todos bem mais jovens do que eu, com o olhar atraído ora pela água e a sua infinitude ora pelo visor do telemóvel.
Li o jornal e o único movimento dos meus companheiros continuava a ser premir os teclados no repetitivo envio de sms, certamente para alguém que estaria imaginariamente para lá da linha do horizonte mas só às vezes respondia.
Tirei uma folha do bloco de notas, que é uma das poucas coisas úteis que me faz peso na carteira, e escrevi: porque é que não se juntam dois a dois?
26 setembro 2004
FOLHETIM DE DOMINGO (em formato de blog)
Marcadores: L.C.
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3 comentários:
Pois... mas já tão jovens, Senhor?
Regresso auspicioso de Marinquieto, sempre surpreendente...
Com a música de LC e o folhetim de marinquieto o domingo no Incursões está em grande.
A tecnologia afasta, mas também aproxima. Se pensarmos bem, em outros tempos, namorados, amigos,parentes, que precisassem ou quisessem enviar um recado não podiam. Por outro lado há essa coisa exageradamente tecnológica, esse "ter que usar".
E concordo com a Kamikase, gostei do texto e da música. Obrigada.
Belo...muito belo
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