12 setembro 2004

A sombra nos meus poemas

Agarrados à cauda
De uma música
De uma qualquer imagem
De uma frase solta
Surgem como fragmentos
Versos desatentos
Por onde vagueio
Buscando a minha paisagem
Vejo pássaros
Existem sempre pássaros
São eles que produzem a sombra
Uma paixão destruída
Que habita os meus poemas
Às vezes antes de começar
Inventando uma esperança
E flúem
E nascem
E brotam das minhas mãos
Como fios de sangue
Violentos
Com receio de acabar
No meu cenário
Na indecifrável melancolia
No silêncio
Vejo pássaros
As unhas sujas com palavras
Trazem a minha sombra
Vão inevitavelmente além
Onde eu não posso ir
Ou tenho receio de ficar.

André Simões Torres
14/08/2003

4 comentários:

Primo de Amarante disse...

Agradeço a L. C. (que sabe ser solidário e conhece o drama) ter corrigido (para uma - no feminino- colega) o sentido do meu pensamento no comentário que (em baixo, num outro post) fiz, a propósito do agradecer à Kamikase as suas palavras amigas. Aproveito para estender esse agradecimento a todos os que me dirigiram gratificantes comentários, nomeadamente à Eugénia (à sua sensibilidade) e ao carteiro. Mais tarde ainda colocarei só mais dois textos, dos muitos que tenho seleccionado para publicar brevemente. Peço desculpa se sou incómodo.

Silvia Chueire disse...

Não incomoda.Não mesmo. Este poema é particularmente belo. Obrigada por trazê-lo. E outro abraço.
Quanto a mim,não há o que agradecer.

Anónimo disse...

A morte está sempre muito próxima de quem se apaixona pelas palavras. É uma paixão de silêncios e ausências.

Zu disse...

Desde que li o poema, a explicação sobre o André num comentário mais abaixo, fiquei com vontade de deixar aqui umas palavras mas, simultaneamente, incapaz de as escrever. Fica aqui, apenas, um abraço sentido, caro Compadre; e pode crer que estes poemas são tudo menos incómodos.