12 outubro 2004

Os meninos de Havana

Não vivem em palácios
Brincam na marginal
Salpicados por tabaco
Nas fachadas decadentes
Tementes
A deuses selvagens

Não vestem roupas caras
Adormecem num colchão roto
Com fome
Maresia nos cabelos
Cheiro a esgoto
Sob tectos de estrelas

Não jogam em casinos
Inventam música em luares
Atiram caricas de coca-cola
Fazem que dão à sola
Tanto faz a cor do imperialismo
Se é sempre o mesmo abismo
Que ocupa os seus lugares

Não conhecem outro mundo
Pedem esmola aos turistas
Rosto sujo
Notas já sem uso
Taxistas
Levando a solidariedade ao perdão
Tarifando a viagem ao segundo

Os meninos de Havana
Não têm guarda-chuvas
Não têm nada
Lambem as gotas
Comem gelado de banana
E riem
E sonham

Os verdadeiros pobres
Usam fato
E quando a gravata aperta
Giram roletas
De dinheiro
Ou prazer
Ou balas

Os verdadeiros pobres
Não riem
Não sonham
Não sabem
Que os meninos resistem
Na revolução permanente

Cai na Malecón o entardecer
Procura de um significado
Só ao homem cabe vencer

Alguém escreveu na areia…

Hasta (la victoria) siempre!

André Simões Torres
31/07/2003

1 comentário:

Cleopatra disse...

Vou " roubar esta postagem.
É lindo o texto, o poema, de tanta a verdade, de tanta realidade....

Alguém escreveu na areia…

Hasta (la victoria) siempre!

E alguém continua ainda a escrever na areia...
Será que a maré ainda sobe???