Se eu fosse poeta saberia fugir do tempo
Habitar o espaço da saudade
E às portas do desconhecido
Que a minha imaginação criou
Bater em silêncio três vezes
Esperando o que nunca se desapegou.
Se eu fosse poeta seria eterna visita dos meus sonhos
Caminhante de esperanças sem peso do cansaço
Peregrino da inquietação errante
Talvez funâmbulo a tudo alheio
Equilibrando o sol na fraternal mão
Misturando-me com árvores, homens e pássaros
Se eu fosse poeta desvivia
A escuridão de uma imensa nostalgia
A que a âncora da vida me amarrou.
Não sou poeta e o caminhar já me é sombrio
Sinto as sombras de um profundo vazio
Vivo os silêncios do desencanto que restou.
05 novembro 2004
Recado para a poeta Eugénia
Marcadores: Primo de Amarante (compadre Esteves-JBM)
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9 comentários:
Se eu fosse poeta, talvez fosse tudo isso.
Como não sou, perambulo nas margens das palavras
como se elas pudessem salvar-me,
sabendo que não o farão.
Se eu fosse poeta,
a saudade era um mote,
não uma dor.
Silvia Chueire
Com o meu agradecimento, ao compadre Esteves.
Anónimo Compadre Esteves, para fugir do tempo não é preciso ser poeta; um bom jantar, uns bons amigos, uma boa conversa... Eu já estou naquela fase em que não consigo alimentar-me de palavras.
Porque quebrou, então, o seu silêncio?!...
Heidegger dizia que a palavra revela o ser. Não sei como conseguiria jantar sem as palavras que utilizaria para pedir o cardápio!
Tal como diz Ricoeur "é nas palavras que o cosmos, o desejo, o imaginário se elevam até à expressão". Sem as palavras poderia haver almoços, mas não se faria a hominização que fez do hominídeo um sapiens, nem os anonymous seriam anónimos.
No livro de Jo (1,1-14) está escrito: «No princípio era a linguagem ... E a linguagem armou tenda entre nós.»
Anónimo Compadre Esteves: o silêncio não se quebra com palavras mas com pedras.
Desculpe, eu não sou anónimo. Nunca o poderia ser, por razões óbvias. Compadre esteves é o pseudónimo de João Baptista Magalhães,como sabe.
Ficámos a saber, ainda que sabendo o mesmo.
O paradoxo é paradoxante!
Se, em qualquer lugar, perguntarmos pelo “anónimo”, ninguém responde. Se perguntarmos pelo António Joaquim ou pelo seu pseudónimo (nome suposto), haverá sempre quem, mesmo numa longínqua Terra, entre um grupo discreto, nos responda. Mesmo não sabendo, há sempre, com um pseudónimo, a possibilidade de saber e isso, caro amigo, humaniza a diferença.
Percebi onde o meu amigo queria chegar. Mas eu não sou S.João Baptista e até sou agnóstico. Interesso-me mais pela humanização da relação do que pela projecção do nome.
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