31 dezembro 2004

2005

Não sei onde vou estar, com o João, logo, à meia-noite. Estarei, seguramente, com pessoas que gostam de nós, haverá festa e eu sei que, pela primeira vez em alguns anos em dia em que o ano muda, vou estar animado, com garra, com confiança, com o olhar brilhante, expectante de que o ano que aí vem será melhor do que os últimos que passaram.

Não vou comer passas, nem formular desejos. Comi passas e passas e formulei desejos e desejos em anos que já passaram e os desejos não se confirmaram. Desta vez, vou à luta em vez de formular desejos, vou retomar o olhar firme, o passo certo, a largueza dos gestos, as palavras exactas, marimbar-me para os sentimentos de culpa - injustos - que me plantaram, e voar sobre os sentimentos de culpa - justos - que já paguei. Conversa acabada!

O ano velho morreu. Com ele, morrerá o que envelheceu em mim. Vou voltar a ter prazer em comprar fatos novos, em ganhar dinheiro compatível com os sucessos e os sacrifícios, em trocar de carro, em reler o que já quase esqueci, em estudar, em transformar a minha casa caótica num sítio civilizado onde os meus amigos possam estar. Talvez me entusiasme e publique um novo livro, desta vez, com o cuidado dos académicos.

Estou cheio de "pica", como se vê. Não me lembro de estar assim... Não se trata de euforia de uma qualquer disfunção bipolar, é mesmo assim, e eu sei que é assim.

Verei os meus filhos como a prioridade, mas não ficarei refém dos meus filhos, tão habilmente usados para me abater, a mim, que tenho o rosto marcado pela intempérie de noites sucessivas sem dormir, mas de coração mole, o coração que permitiu que gente sem alma se colocasse nas minhas costas para subir na vida, gente injusta, que não sabe o que é a alma e que vive das aparências e que já nem aparências tem...

Nos próximos dias, irei a Fátima. Gosto de Fátima. Pela Fé. E porque, também, estive lá, jovem repórter-e-estudante-de-direito, quando Khron tentou matar João Paulo II, e quando, poucos anos mais tarde, voltei, para escrever coisas sobre Fátima, coisas boas e coisas más. Irei a Fátima - peregrino. Não sei rezar, mas sei ficar paralisado no silêncio que a imagem de Fátima me dá, com as minhas lágrimas inquietas e com as lágrimas quietas que a Virgem me mostra, mesmo que apenas eu as veja, porque eu quero vê-las.

E quero continuar aqui. A escrever coisas que são minhas, muito minhas, demasiado minhas para um sítio público, uma exposição que não me assusta, porque não tenho nada a esconder, por muito que tenha uma vida de estórias.

E quero - quero mesmo -, que todos, aqui, sejam felizes. Em 2005. E sempre.

Um abraço do carteiro. De novo apaixonado pela vida.

4 comentários:

Mocho Atento disse...

E assim se faz o percurso da vida, com novas descobertas e redescobertas, com identidade, com vontade, com liberdade.
Feliz Ano de 2005 !!!

Kamikaze (L.P.) disse...

Um grande abraço carteiro!

Zu disse...

Que assim seja, meu querido amigo. Um beijo muito grande.

jcp (José Carlos Pereira) disse...

Quero continuar a ver-te com essa força, caro amigo de sempre.